quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A segunda ocupação de Wall Street

Tom Morello no Ocupe Wall Street
 "Eles estão fora de controle. Eles têm um problema de dependência à ganância e estamos aqui para realizar uma intervenção". Com essa frase o cineasta e ativista estadunidense Michael Moore concluiu  discurso no dia 5 de outubro, no 19º dia de ocupação do coração financeiro do mundo, a bolsa de valores de Wall Street, em Nova Iorque.

O muro humano montado na "murada rua" já completou mais de um mês e meio e tem crescido tanto em  força quanto no apoio internacional de outros países. Construído em outrora para impedir a fuga dos escravos, Wall Street hoje é o muro que nos aprisiona ao chamado "Deus Mercado", que o escritor Eduardo Galeano costuma adjetivar como um "tremendo deus traíra e FDP!"

A convocação para o Ocupe Wall Street partiu das (ainda) democráticas redes sociais. Os protestos iniciaram na "Big Apple" e ganharam o mundo, tendo como o auge o dia 15 de outubro, onde movimentos que conclamaram a Democracia Real exerceram o sagrado direito da indignação em mais de 80 países, incluindo o Brasil.

Como discursou Michael Moore "à dependência a ganância" nos levou ao epicentro da crise do capitalismo internacional, endividando a terra do Tio Sam em mais de 13 trilhões de dólares. Os EUA, por sua vez, jogam todo o peso da crise sobre os demais países, por meio da emissão descontrolada de dólar sem nenhum lastro.  

A matemática é simples: como todas as operações comerciais e financeiras do mundo são feitas em dólar, o resto do mundo acaba pagando a conta deles. Na Europa, por exemplo, as taxas de desemprego vêm crescendo a cada dia, aumento também o número de revoltas populares.

'Fúria contra o sistema'

Revolta popular e "rabia" contra esse sistema movido pela ganância também versam as canções da banda californiana Rage Against The Machine (RATM), que entre idas e vindas, completa 20 anos em 2011. Formada por ativistas – especialmente Zack de La Rocha (vocal) e Tom Morello (guitarrista) – o grupo tem uma relação próxima com Michael Moore e com o Ocupe Wall Street.

Também por meio das redes sociais, Tom Morello tem convocado por meio de seu twitter (@tmorello) os indignados a ocuparem as ruas de Los Angeles (#OccupyLA). Ele também se juntou aos protestos no centro financeiro, oportunidade em que interpretou canções de seu projeto solo Nightwatchman, entre elas a sugestiva "World Wide Rebel Songs".

Mas antes mesmo do Ocupe Wall Street, o RATM já tinha feito sua própria ocupação das ruas do centro financeiro durante as gravações do clipe de Sleep Now In The Fire (Dormindo sobre as chamas), que faz parte do repertório do album The Battle in LA. Sob direção de Moore, o clipe foi gravado em janeiro de 2000 em meio à turbulência da queda da bolsa em NY e o aumento dos juros.

Assim como no início das mobilizações do Ocupe Wall Street, o RATM também sofreu com a repressão do aparato estatal. Incomodada com a "ocupação", a polícia partiu para cima dos integrantes da banda, que foram levados para dentro do movimentado salão interno da bolsa de valores. Moore foi ameaçado de prisão pelos policiais. Toda a gravação aconteceu antes que o esquema de segurança de Wall Street fosse ativado e barras de metais fechassem as portas do maior complexo financeiro do planeta.

Coesão Social

Amparados no direito constitucional de liberdade de reunião, associação, protesto e expressão, os manifestantes do Ocupe Wall Street estão soltando a voz diante desse processo decadente que passa – não somente o sistema neoliberal – mas também a democracia representativa e suas instituições oficiais. Os indignados da "rua murada" e seus apoiadores pelo mundo atenderam a convocação de Sleep Now In The Fire, "levantando os punhos para marcharem e não serem arrastados para covas", desnudando a mística da existência de uma coesão social, especialmente na terra do Titio Sam. 



Acima a ocupação feita 11 anos atrás pelo RATM em Wall Street. Até a próxima semana sitiantes com informações sobre o #BlogMundoFoz

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

"Pensamento político tem que pautar a revolução"

Nildo Ouriques no Seminário em Cascavel (foto: Paulo Porto)
Pautar a revolução social, sobretudo porque o capitalismo dependente é uma formação social histórica monstruosa, que não assegura a vida digna para a maioria da população. Essa deve ser a "pauta" do pensamento político e dos pensadores críticos na visão do professor e economista Nildo Ouriques, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). 

Doutor pela Unam (Universidade Autônoma do México), Nildo esteve recentemente em Cascavel (PR) para participar do V Seminário Nacional Estado e Políticas Sociais, organizado pelo GPPS (Grupo de Pesquisas em Políticas Sociais) da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). 

Um dos expoentes do pensamento de esquerda na UFSC, onde leciona no Departamento de Economia, o professor é um especialista em América Latina e, desde 2006, dirige o IELA (Instituto de Estudos Latino-Americanos), órgão vinculado a Federal, que discute realidade política e sócio-econômica do nosso continente. 

O catarinense é um crítico das políticas econômicas desenvolvidas em países como o Brasil, classificadas como "desenvolvimentistas", que em sua opinião se constituem em falsas alternativas no processo de transição democrática da América Latina. 

Ele propõe aos desenvolvimentistas uma moratória da dívida pública externa e interna aos moldes do que foi feito no Equador e Argentina. "O Brasil vive uma contradição evidente, quando se gasta 44% de tudo que se arrecada com juros da dívida externa e interna e apenas 0,06% com política habitacional". 

Ainda sobre à dívida, Nildo questiona àqueles que costumeiramente citam a carga tributária do Brasil. "A carga é alta, mas todos sabem que nenhum país se desenvolve com uma carga baixa. O que é preciso entender que a carga é alta porque a dívida é alta, e não o contrário"

Para ele, o sistema político brasileiro foi destruído em 1994 com a implantação do chamado 'pacto de classes'. "Isso se estabeleceu com o Plano Real, esse pacto destruiu nosso sistema, transformou todos os partidos em iguais, não há diferença substancial nas propostas econômicas, todos são comportadinhos, todos dentro do figurino". 

Nildo esteve no terceiro dia do seminário em uma mesa de debates que também contou a presença dos professores Nilson Araújo de Souza [Unila] e Mirian Beatriz Braun [Unioeste]. Após o debate, Nildo conversou com esse blogueiro sobre política, economia e a 'Pátria Grande'. Acompanhe abaixo.

[Sítio Coletivo] Você falou sobre encargos da dívida pública em sua crítica ao desenvolvimentismo. Comente sobre. 
[Nildo Ouriques] A primeira proposta séria aos desenvolvimentistas seria fazer uma moratória da dívida pública externa e interna. Ela é possível, o Equador fez uma auditoria da dívida, teve moratória de 70% e 95% dos credores aceitaram essa redução dos valores pagos, os outros 5% sequer apareceram, pois estavam metidos em falcatruas. Na Argentina houve redução de 70% da dívida. Somente assim teremos políticas públicas eficazes, do contrário é só enxugar gelo, é racionalizar migalhas.

[Sítio] A que passos caminha a dívida pública no Brasil? 
[Nildo] A dívida pública chegou à estratosfera. O FHC [Fernando Henrique Cardoso] assumiu o Ministério da Fazenda com uma dívida de R$ 63 bilhões e deixou em R$ 700 bi. O Lula deixou em R$ 1,34 trilhão e agora com a Dilma chegaremos a R$ 2,6 trilhões. No último ano do Lula foram gastos 33% de tudo que arrecada para pagar essa dívida e hoje se gasta 44%. Enquanto isso são gastos 0,06% para política habitacional, que aquece mercado interno e onde temos um déficit de 10 a 12 milhões de casas. É uma contradição evidente.

[Sítio] Em relação à crise mundial, como avalia essas medidas de austeridade dos governos europeus. No Brasil, por exemplo, tivemos cortes no orçamento.
[Nildo] Isso é um padrão, esse governo sempre está sob austeridade. Por quê? Porque o governo paga os juros, dividendos, comissões e ações da dívida. Isso consome 44% do orçamento, de tal maneira que não tem como não estar sob austeridade. A austeridade se transformou em política econômica permanente, tem hora que aperta mais, tem hora que aperta menos. Isso se sustenta na ideia da classe dominante de que a crise é uma crise fiscal, quando ela não é. Ela é uma crise financeira e não pode ser solucionada com medidas fiscais.

[Sítio] Em relação a América Latina, como avalia o fenômeno que muitos chamam de "nova esquerda" continental.
[Nildo] A nova esquerda surgiu nos anos 60, ela se definiu em relação a velha esquerda que era hegemonizada pelo Partido Comunista, pela ideia que reformas acumulativas no decorrer do tempo constituiriam o socialismo. Isso fracassou. A partir da Revolução Cubana surgiu a possibilidade da construção concreta do socialismo e se rompeu essa tática de conciliação de classes, criando-se a nova esquerda que era fruto dessa revolução. Essa 'nova esquerda' também envelheceu, mas deixou uma herança. Hoje não existe uma nova esquerda, existe o que eu classifico de 'nacionalismo-revolucionário', que fica evidente nos casos da Bolívia, Venezuela e Equador, muito menos na Nicarágua, Argentina, Brasil ou Uruguai. A direita chama de populismo, o que não é verdade. Quando hegemonizado pelas classes populares, como são nos primeiros países que citei, ele se transforma em nacionalismo-revolucionário. Quando hegemonizado pelas classes dominantes ele cai no populismo.

[Sítio] E o Brasil nesse cenário?
[Nildo] O Brasil está abaixo desse nacionalismo-revolucionário, pois houve uma conversão, uma regressão intelectual e política. Hoje o Brasil é peça de estabilidade do sistema capitalista, tanto o governo Lula quanto da Dilma. Agora, esses dois governos eram melhores para as classes populares que os governos do FHC? Eram, com certeza, mas também eram peças em que o capitalismo buscava melhorar as classes populares para firmar o poder do capital.

[Sítio] A grande mídia tem pautado o futuro da Revolução Bolivariana na Venezuela, especialmente depois da doença de Hugo Cháves. Como avalia esse processo?
[Nildo] Primeiramente a direita precisa entender que o Cháves não morreu, ele teve um câncer. A Dilma também teve e hoje goza de boa saúde. A Revolução Bolivariana está centrada na figura e na excepcional capacidade de dirigência do Cháves, mas existe dentro dessa tradição - que ele ajudou a criar - um conjunto de figuras que vão continuar esse processo. Aqueles que apostam que desaparecendo Cháves, desaparecerá a Revolução Boliviariana estão equivocados. É um processo que criou um homem e não um homem que criou um processo.

[Sítio] Como avalia as revoltas indigenistas na Bolívia?
[Nildo] No Equador e na Bolívia a maioria da população é indígena, algo entre 76% e 80% da população, eles não estão nem aí para o desenvolvimento capitalista, eles querem o poder de suas comunidades e vão continuar querendo. Nós não podemos olhar as rebeliões na Bolívia e Equador pelo prisma brasileiro, porque aqui as sociedades são urbanas. Lá elas são indígenas e imensas. Eles querem desenvolver essas culturas em suas comunidades, eles não querem mais fogão, geladeira ou carro, nem viagem internacional.

[Sítio] Em sua palestra, você fala da reforma agrária e diz que ela não pode ser feita dentro do capitalismo.
[Nildo] A reforma agrária foi cancelada por completo por esse atual sistema. O capital deu uma resposta a ela, que implica em priorizar essa agricultura classificada como "alto tecnológica", mas que se baseia em modelo de exportação. A reforma está congelada e não será feita nem por Lula, por Dilma, ou por ninguém. Por dentro dessa atual lógica, o capital encontrou uma forma de valorização do campo que necessita rigorosamente de crimes ecológicos na fronteira, assassinatos de sindicalistas no campo, uma produção vinculada às multinacionais dos adubos e fertilizantes, e, sobretudo, esquecer por completo o mercado interno. Em outros países que realizaram uma reforma agrária, o capital necessitava desse incremento do mercado interno, o capital brasileiro não necessita disso. A reforma agrária é necessária apenas para outro modo de produção, que não é dentro de reformas do capitalismo.

[Sítio] E como pensar numa transformação social efetiva dentro do sistema capitalista?
[Nildo] A gente precisa retomar esse pensamento de revolução social, primeiramente porque o capitalismo dependente é essa coisa horrorosa, é uma formação social histórica monstruosa, que não assegura a vida digna para a maioria da população, que torna a liberdade um privilégio de alguns, é um sistema que não pode sobreviver. Mas temos que entender que tudo isso não pode ser destruído na segunda-feira, eu bem que gostaria (sic), mas isso depende de uma crise, de uma série de fatores. Os que os revolucionários têm que fazer, o pensamento político tem que fazer, é pautar a revolução, teorizar sobre ela. Não será na segunda-feira, daqui há dois ou 15 anos. Realmente não sei, mas nossa função de pensadores críticos é fazer essa teorização permanentemente.

Mais informações sobre o IELA na página: http://www.iela.ufsc.br/
Mais sobre o GPPS/Unioeste em http://www.unioeste.br/projetos/gpps/

domingo, 16 de outubro de 2011

São Pedro apareceu, mídia confundiu, mas o #15O emergiu


Milhares de pessoas saíram às ruas neste sábado, dia 15 de outubro, em mobilizações globais que fizeram parte do '15.O', movimento em resposta a atual crise do capitalismo. O principal alvo dos manifestantes foi o sistema que impõe verdadeiras 'ditaduras financeiras' e que tem como alguns reflexos medidas de austeridade dos governos e arrocho aos trabalhadores. 

Como de praxe, a mídia comercial brasileira tratou de desvirtuar a jornada global. Apesar dos protestos terem acontecido em mais de 80 países, parte da imprensa 'tupiniquim' tentou transformar o 15.O em atos localizados contra a corrupção – que apesar de terem seu valor – não tratavam das pautas do movimento 15 de outubro, ou seja, a atual fase do sistema neoliberal.  
 
Em algumas locais, São Pedro tentou atrapalhar [apesar de legítimo representante da classe trabalhadora e padroeiro dos pescadores], parecendo ter se aliado ao "deus mercado". Mesmo assim o povo saiu às ruas, inspirado na onda de indignações mundiais que iniciaram na Primavera de Praga, passaram pela Zona do Euro e chegaram a Wall Street, o coração financeiro do mundo em Nova Iorque.

Em Cascavel (PR), o mau tempo na véspera de acertamos os ponteiros para o início do horário de verão também reduziu o número de manifestantes, mas não o ímpeto dos jovens que estiveram no calçadão da Avenida Brasil, no ato organizado pelo movimento denominado "Democracia Real Cascavel", em alusão ao nome do movimento nacional "Democracia Real Brasil".
 
Por aqui também aconteceram interpretações errôneas por parte da imprensa, que deu ao protesto o tom de ato contra a corrupção em virtude de outro movimento ter se unido ao 15.O, especialmente na parte da manhã, organizado por integrantes de partidos políticos da cidade. Além disso, alguns jovens que haviam programado um ato para o último dia 8 (adiado por causa das chuvas), chamado 'Dia do Basta', também estiveram na Avenida Brasil.

Apesar da diversidade de correntes ideológicas, o 15.O tinha como objetivo central mudanças globais na ordem mundial. O artista plástico Jefferson Kaibers foi um dos jovens que participou do ato. Para ele, "vivemos uma onda de espírito democrático, onde as pessoas estão despertando para mecanismos da democracia participativa, que é aquela que emana do povo e para o povo".
 
Kaibers pondera para o fato de que os movimentos devem ter maturidade ao se deparar para um possível cenário. "Nós poderemos passar de uma fase de indignação para decepção e, posteriormente, percebemos que não adianta apenas sairmos às ruas"Ativista do setor cultural, Kaibers aproveitou para divulgar a luta dos artistas da cidade em prol da criação de um Sistema Municipal e um Conselho de Cultura efetivo no município. "Essa é uma luta que iniciamos há mais de dois anos".

Anonymus

Para o designer e programador Derek Stavis, um dos organizadores do 15.O em Cascavel, as pessoas começam a despertar para "facetas do atual sistema democrático, de viés autoritário, dominado por uma elite privilegiada, marcada por uma política suja de negociatas, a serviço de bancos e grandes empresas". 

O jovem faz parte do movimento Anonymus Brasil, conhecido grupo de ativistas da rede mundial de computadores que chama a atenção, entre outras coisas, por usar máscaras dos quadrinhos 'V de Vingança'. "No Anonymus nos despimos de individualidade e nos convergimos em coletivo, na luta por um bem comum".

O Anonymus também é conhecido por questionar temas como democratização da informação, considerado um "tabu" para os meios de comunicação. No 15.O de Cascavel tivemos uma pequena amostra disso, uma vez que durante discurso de Derek, ao ser tocado no ponto dos "donos da mídia", uma equipe de reportagem que fazia cobertura do ato ficou visivelmente desconfortável.  

Para Derek Stavis, as ruas e praças públicas são espaços a serem tomados pelos indignados com esse estado de coisas. Cascavel esteve entre as cerca de 900 cidades do mundo que aderiram aos protestos. Mesmo com São Pedro tendo atendido ao "deus mercado" e a mídia deslizado em certas confusões, a juventude atendeu às convocações, entre elas do escritor Eduardo Galeano, que conclamou todos a "celebrarem o sagrado direito da indignação".


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

#15-O: Indignados ocupam ruas por democracia real

Panfletos foram espalhados pela cidade
Uma grande mobilização mundial está agendada para o dia 15 de outubro (sábado), unindo pessoas de todos os continentes num movimento chamado '15-O' que no Brasil adotou o nome de 'Democracia Real'. As convocações estão acontecendo via redes sociais, por meio do facebook ou pelo twitter com as chamadas tags: #globalchance, #15O ou #reasons15O.

O movimento é inspirado na onda de indignações pelo mundo, iniciada especialmente pela Primavera Árabe, passando pelas revoltas na zona do Euro (com menções especiais ao M-15 espanhol) e chegando até a recente ocupação de Wall Street, o maior centro financeiro do mundo em Nova Iorque.

No Brasil estão programados atos em aproximadamente 40 cidades de pelos 15 estados, além do Distrito Federal. No Paraná, quatro municípios participarão das mobilizações: Curitiba, Londrina, Paranavaí e Cascavel. Enquanto na capital a concentração está agendada para a Praça Santos Andrade; no 'velho oeste' o local escolhido é o Calçadão da avenida Brasil.

Segundo a página dos 'indignados' cascavelenses no facebook, a concentração será em frente a Igreja Matriz, em dois períodos, pela manhã às 9 h, e na tarde, das 14h às 18h. Um dos organizadores do movimento é o designer e programador Derek Willian Stavis. Um material convocando as pessoas a participarem do ato está circulando há algumas semanas e pode ser visto colado em alguns pontos centrais da cidade. No folder, o grupo chama a atenção para o atual sistema voltado ao autoritarismo e para uma "democracia voltada aos poderosos".

O panfleto menciona 500 anos de exploração do Brasil, sob o "saque de ruralistas, políticos corruptos e empreiteiros gananciosos". Pregando uma democracia participativa – por meio de assembleias livres, populares e amplas – o movimento é "contra a política suja de negociatas, de um sistema que concentra o poder nas mãos de uma minoria corrupta que nos representa".

A mobilização do 15-O em Cascavel tem semelhanças com manifestações recentes organizadas por jovens estudantes em repúdio aos atos de corrupção da administração municipal. Nessas ocasiões, as mobilizações também foram feitas via redes sociais, também tendo entre os organizadores um designer.

Diferente de alguns movimentos contra corrupção – organizados por determinados grupos políticos e dirigentes partidários – o atual movimento garante não ter conotação político-partidária, não se tratando de ideias políticas, religiosas ou filosóficas, mas sim uma questão de preocupação com o futuro do planeta.

O movimento é global e questiona o próprio processo eleitoral, onde os pleitos são decididos mesmo antes de acontecerem, especialmente pela dependência do poder financeiro, o que já mostra que não há pretensões eleitoreiras nas ações do grupo.

Como bem disse o escritor uruguaio Eduardo Galeano, em sua convocatória, 15 de outubro é o dia escolhido para celebração do "sagrado direito de indignação".


Mais informações na página: Democracia Real Brasil 
ou no facebook: Democracia Real Cascavel

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Che Guevara: 44 anos de renascimentos

Povoado de La Higuera, na Bolívia (foto: Marcelo Curia)
"A história não necessitou de que passasse o tempo para fazer-se lenda, agora me lembro da força profunda e bela que emanava, sem cessar, dentro deste homem. Tinha, recordo, um olhar como a alvorada: aquela maneira de olhar dos homens que crêem". Esse fragmento é retirado da obra 'CHE GUEVARA – Sierra Maestra: da guerrilha ao poder', do escritor e jornalista Eduardo Galeano.

O livro foi escrito pelo uruguaio em 1967, ano da morte do militante revolucionário Ernesto Guevara de La Sierna, conhecido também como Che, parafraseando título que dá nome a uma obra de Paco Ignacio Taibo, que na despretensiosa opinião deste blogueiro é uma das melhores biografias do guerrilheiro argentino.

Neste ano recordamos os 44 anos da morte do revolucionário. No dia 8 de outubro de 1967, ele foi capturado após combate com o exército boliviano e homens da CIA, num vale conhecido como Quebrada del Churo. Um dia depois de ser preso, Guevara foi executado no povoado de La Higuera. A data do combate inspirou no Brasil a criação do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro), grupo de dissidentes do PCB (Partido Comunista Brasileiro), que durante a década de 1960, atuou na luta contra a ditadura civil-militar e por um estado socialista brasileiro.

Em Cuba, o argentino foi um dos protagonistas da revolução que derrubou o ditador Fulgêncio Batista e fez da ilha – antes um quintal do jet-set estadunidense – uma nação soberana. A ilha caribenha passou a adotar o 8 de Outubro como o "Dia do Guerrilheiro Heróico". Após sua morte nas serras bolivianas, Che foi transformado em mito - o que ainda dá arrepios nos 'reaças de plantão' que há mais de 40 anos tentam intensamente manchar a imagem do revolucionário.

Para algumas vozes conservadoras e reacionárias, o argentino era um "frio assassino", um "mau estrategista", um "péssimo burocrata", enfim, sobram adjetivações. A última delas e mais esdrúxula - que de praxe foi repercutida pela famosa revista semanal em suas páginas - é a "verdade inconveniente" de que Che Guevara cheirava mal por não gostar de tomar banho, o que lhe rendeu o apelido de "Chancho".  

Quando se pretende deturpar fatos é interessante visualizar como a linguagem é empregada. A trajetória de Che é uma amostra, mas temos como um dos principais exemplos o período da Guerra Fria, onde os 'inimigos' eram tachados de terroristas, guerrilheiros e rebeldes, e os aliados dos EUA, sempre 'combatentes da liberdade'.  

Deixando as deturpações de lado, Ernesto Che Guevara acreditava na revolução latino-americana e deixou um legado de solidariedade e voluntarismo, um compromisso com a luta pela libertação dos povos, revivendo grandes libertadores de nosso continente, como Bolívar e San Martin.

Nas palavras de Eduardo Galeano, "Che Guevara acreditava na revolução em seu doloroso processo, tinha fé na nova condição humana que o socialismo deveria engendrar". Ainda que isso incomode alguns, figuras como 'El chancho' seguem inspirando a imaginação, os sonhos e anseios das camadas que seguem sendo reprimidas e exploradas em nossa 'Pátria Grande'.

Abaixo uma poesia de Eduardo Galeano em homenagem a Che

Por que será que o Che
Tem este perigoso costume
De seguir sempre renascendo?
Quanto mais o insultam,
O manipulam
O atraiçoam
Mais ele renasce.
Ele é o mais renascedor de todos!
Não será por que Che
Dizia o que pensava e fazia o que dizia?
Não será por isso que segue sendo
tão extraordinário,
Num mundo onde palavras
e atos tão raramente se encontram?
E quando se encontram
raramente se saúdam
Por que não se reconhecem?

Mais sobre o revolucionário no link: “El chancho, os reaças e a Unasul”

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

As greves, a mídia e o "teto de vidro"

Em Curitiba, trabalhadores "enterram" Dilma e Bernardo (foto: Sintcom/PR)

O ano de 1968 foi considerado o "orgasmo da história" em virtude da onda de manifestações que eclodiram por todo mundo. No mesmo ano, Martin Luther King – ativista dos direitos civis nos Estados Unidos – foi assassinado. Em abril, dias antes do crime, ele liderou uma marcha em apoio a uma greve de 1,3 mil funcionários negros da limpeza pública por melhores condições de trabalho e salários decentes.

Na ocasião, a paralisação dos trabalhadores já durava cerca de dois meses e a marcha foi reprimida com violência dos órgãos repressores do Estado. Luther King dizia que a "greve é a linguagem dos não-ouvidos". Linguagem é comunicação e, quando falamos em greve, a comunicação tem um papel fundamental e os meios que propagam informação devem agir com responsabilidade.

Deixando 1968 na história e voltando ao presente, vivenciamos uma espécie de "catarse coletiva" de mobilizações em todo o País, com greves nacionais como a dos bancários e dos Correios, paralisações de professores em Minas Gerais e Ceará e, aqui no Paraná, a recente mobilização dos servidores da UFPR (Universidade Federal do Paraná). Como de praxe - ainda que de forma velada - a mídia vem fazendo sua ofensiva diante das greves.

Nenhum meio de comunicação (seja ele grande, de circulação nacional, ou regional e local, que reproduz as mesmas visões e juízos) ataca de forma direta o direito de greve. Não pela falta de vontade em si, mas por não terem coragem de investir contra um direito que foi conquistado ainda no século 19, com o esforço, sacrifício e sangue de trabalhadores.

Como não podem atacar o direito constitucional de greve fazem ofensivas direcionadas em cada paralisação, especialmente quando as greves acontecem no setor público. É raro (quase surreal) quando a mídia admite que uma greve é justa. Para ela, todas as mobilizações são "abusivas" e foco da cobertura está sempre nas pessoas prejudicadas (o usuário/consumidor) e nunca no trabalhador grevista.

A maneira pejorativa que são tratadas as greves por vezes beira a ingenuidade quando o receptor da informação é alguém que tem uma mínima noção de como funciona a relação empregador/empregado e de como se dá a luta de classes em nossa sociedade. Seja no espaço maior dado ao empregador, seja na ausência do aprofundamento das pautas dos trabalhadores ou ainda na tentativa maldosa de sempre jogar grevistas contra a população.

Direito constitucional

A greve é um direito assegurado na Constituição. É importante (e um dever) que a imprensa se preocupe com a população de uma maneira geral, mas não pode agir de forma irresponsável, incitando a ira do trabalhador/usuário contra trabalhador/servidor, que pode e deve fazer o uso das ferramentas que disponibiliza para buscar seus direitos (ferramentas que são poucas diante do capital).

Apesar de ser um direito que deixou de ser criminalizado há mais de meio século pra entrar na ordem constitucional, a imprensa (com raras exceções) continua a "marginalizar" grevistas. Já o Estado - que serve ao sistema e atua em sintonia com esses meios - sempre tentou indiretamente, por meio de leis ordinárias, reprimir esse direito. Na ditadura aconteciam as intervenções aos sindicatos, as demissões em massa e prisões. Ainda nesse campo histórico, a greve foi uma das bandeiras dos trabalhadores na Constituinte de 1986, assegurada em definitivo na redação do artigo 9º da Constituição Federal de 1988.

Ficando claro que a paralisação é um direito, vamos a outros fatos (nem sempre pautados): a atual legislação obriga a publicação de editais de greve com 72 horas de antecedência das paralisações. Após a publicação, o Ministério Público do Trabalho ingressa com um pedido de liminar sobre a greve. Antes mesmo da greve se iniciar os Tribunais Regionais do Trabalho concedem liminares exigindo que determinada porcentagem dos trabalhadores permaneçam nos postos, assegurando o atendimento dos serviços considerados "inadiáveis". Diante disso também são estabelecidas multas diárias se os sindicatos descumprirem ordens judiciais, em multas e percentuais que variam de acordo com cada região.

Voltando a atual conjuntura da relação empregador/empregado, estamos assistindo uma retomada gradativa da capacidade de luta do movimento sindical - ainda tímida em relação a outras épocas - onde acompanhamos algumas conquistas de aumentos reais e recuperação de perdas acumulada nos últimos anos. Mas - paralelo a essa tímida retomada de luta - vemos uma campanha (nada tímida) de grandes veículos de comunicação que seguem jogando a população contra grevistas, não permitindo que essa mesma população entenda as reivindicações desses trabalhadores.  

Concluindo meu raciocínio, faço aqui o papel de "advogado do diabo", tentando explicar essa relação da mídia e as greves: nessa complexa relação teriam os meios de comunicação o complexo do "teto de vidro"? Afinal, que moral alguns órgãos de imprensa teriam de propagar que uma greve é justa, destacando questões como precarização do trabalho e direito dos empregados (chamados também de "colaboradores"), quando esses meios não são os melhores exemplos para o assunto dentro de seus próprios currais? 

No Rio, bancários mostram que lucro do banqueiro é um gigante se comparado com o salário do bancário