quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Valmir Mota em festa: a conquista da terra e dignidade

Emoção marcou o sorteio dos lotes aos assentados
A realização de um sonho, a conquista de uma terra para produzir e criar raízes, a luta pela dignidade. A vitória de 83 famílias que se tornaram oficialmente moradoras do Assentamento Valmir Mota de Oliveira, em Cascavel, no Oeste do Paraná, e que comprovaram que a Reforma Agrária dá certo!

A festa organizada nesta semana pelos militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não foi o simples ato do sorteio dos lotes por parte do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), mas sim a reafirmação que o movimento social mais legítimo do país segue resistindo, vencendo o preconceito e a criminalização de grande parte da sociedade de nossa conservadora "fazenda iluminada", onde os interesses do agronegócio seguem controlando a mídia e os intitulados "ruralistas" seguem acreditando serem donos da região.

Foram 13 anos desde a ocupação do Completo Cajati e dois anos na área que se instalou o Assentamento Valmir Mota, uma das fazendas compradas pelo Incra para fins da Reforma Agrária. Uma luta simbolizada pela tradicional mística e pelas palavras de um dos coordenadores do movimento na região. "Isso aqui só foi possível graças as nossas lutas, nossas marchas, nossos protestos e enfrentamentos. A luta pela terra nos une e já levou alguns de nossos companheiros, como o Keno, que está presente aqui entre nós, que continua presente na nossa luta", disse Celso Barbosa, em menção ao militante sem-terra executado por milicianos na antiga estação da multinacional Syngenta, em Santa Tereza do Oeste, e que dá nome ao assentamento.

Para o superintendente do Incra, Nilton Bezerra, o Assentamento Valmir Mota de Oliveira será exemplo de moralidade, produtividade e do ponto de vista social. "Essa é uma área emblemática, é uma conquista histórica destes trabalhadores que seguem resistindo numa região crítica como essa", disse Bezerra, referindo-se a atos de violência protagonizados por milícias armadas que já marcaram a disputa pela terra no Oeste, além de citar a "campanha" de grande parte dos meios de comunicação. "Infelizmente a mídia regional é ligada ao agronegócio e trata a reforma agrária de maneira distorcida".

O reverendo da Igreja Anglicana, Luiz Carlos Gabas, acompanha a caminhada dos movimentos sociais e a luta dos assentados do Valmir Mota. "Essa conquista pode parecer pequena para alguns, mas representa muito para aqueles que lutam pela dignidade, que lutam contra o poderio do agronegócio. O grande temor dos poderosos, da burguesia, é quando o povo pobre, os mais humildes alcançam vitórias por meio da organização e da luta", disse o religioso, deixando um recado às famílias beneficiadas. "A luta prossegue companheiros, não se esqueçam daqueles que ainda estão acampados embaixo das lonas pretas".

O recado do religioso é significativo, uma vez que a luta continua. Existem ainda outras 400 famílias acampadas na área do complexo à espera da regularização. A conquista das 83 famílias assentadas de forma definitiva é uma resposta a muitos que criminalizam e desqualificam o movimento. Já a emoção de cada assentado fica impossível descrever, quem sabe uma frase no momento que o almoço estava sendo servido possa ajudar: "Não sei se eu almoço, se choro ou se continuo com esse sorriso que vai de orelha em orelha", disparou o camarada Ildemar Frohleich, um dos assentados beneficiados.



2 comentários:

  1. Parabéns aos Sem Terra pela conquista e parabéns ao Sitio Coletivo pela excelente matéria!!

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  2. É o que precisava ser dito e está dito.

    Avançar na Reforma Agrária é dever, compromisso, missão e destino.

    Nada vai desviar o povo brasileiro desviar dessa luta.

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