sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Che Guevara: 44 anos de renascimentos

Povoado de La Higuera, na Bolívia (foto: Marcelo Curia)
"A história não necessitou de que passasse o tempo para fazer-se lenda, agora me lembro da força profunda e bela que emanava, sem cessar, dentro deste homem. Tinha, recordo, um olhar como a alvorada: aquela maneira de olhar dos homens que crêem". Esse fragmento é retirado da obra 'CHE GUEVARA – Sierra Maestra: da guerrilha ao poder', do escritor e jornalista Eduardo Galeano.

O livro foi escrito pelo uruguaio em 1967, ano da morte do militante revolucionário Ernesto Guevara de La Sierna, conhecido também como Che, parafraseando título que dá nome a uma obra de Paco Ignacio Taibo, que na despretensiosa opinião deste blogueiro é uma das melhores biografias do guerrilheiro argentino.

Neste ano recordamos os 44 anos da morte do revolucionário. No dia 8 de outubro de 1967, ele foi capturado após combate com o exército boliviano e homens da CIA, num vale conhecido como Quebrada del Churo. Um dia depois de ser preso, Guevara foi executado no povoado de La Higuera. A data do combate inspirou no Brasil a criação do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro), grupo de dissidentes do PCB (Partido Comunista Brasileiro), que durante a década de 1960, atuou na luta contra a ditadura civil-militar e por um estado socialista brasileiro.

Em Cuba, o argentino foi um dos protagonistas da revolução que derrubou o ditador Fulgêncio Batista e fez da ilha – antes um quintal do jet-set estadunidense – uma nação soberana. A ilha caribenha passou a adotar o 8 de Outubro como o "Dia do Guerrilheiro Heróico". Após sua morte nas serras bolivianas, Che foi transformado em mito - o que ainda dá arrepios nos 'reaças de plantão' que há mais de 40 anos tentam intensamente manchar a imagem do revolucionário.

Para algumas vozes conservadoras e reacionárias, o argentino era um "frio assassino", um "mau estrategista", um "péssimo burocrata", enfim, sobram adjetivações. A última delas e mais esdrúxula - que de praxe foi repercutida pela famosa revista semanal em suas páginas - é a "verdade inconveniente" de que Che Guevara cheirava mal por não gostar de tomar banho, o que lhe rendeu o apelido de "Chancho".  

Quando se pretende deturpar fatos é interessante visualizar como a linguagem é empregada. A trajetória de Che é uma amostra, mas temos como um dos principais exemplos o período da Guerra Fria, onde os 'inimigos' eram tachados de terroristas, guerrilheiros e rebeldes, e os aliados dos EUA, sempre 'combatentes da liberdade'.  

Deixando as deturpações de lado, Ernesto Che Guevara acreditava na revolução latino-americana e deixou um legado de solidariedade e voluntarismo, um compromisso com a luta pela libertação dos povos, revivendo grandes libertadores de nosso continente, como Bolívar e San Martin.

Nas palavras de Eduardo Galeano, "Che Guevara acreditava na revolução em seu doloroso processo, tinha fé na nova condição humana que o socialismo deveria engendrar". Ainda que isso incomode alguns, figuras como 'El chancho' seguem inspirando a imaginação, os sonhos e anseios das camadas que seguem sendo reprimidas e exploradas em nossa 'Pátria Grande'.

Abaixo uma poesia de Eduardo Galeano em homenagem a Che

Por que será que o Che
Tem este perigoso costume
De seguir sempre renascendo?
Quanto mais o insultam,
O manipulam
O atraiçoam
Mais ele renasce.
Ele é o mais renascedor de todos!
Não será por que Che
Dizia o que pensava e fazia o que dizia?
Não será por isso que segue sendo
tão extraordinário,
Num mundo onde palavras
e atos tão raramente se encontram?
E quando se encontram
raramente se saúdam
Por que não se reconhecem?

Mais sobre o revolucionário no link: “El chancho, os reaças e a Unasul”

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