domingo, 16 de outubro de 2011

São Pedro apareceu, mídia confundiu, mas o #15O emergiu


Milhares de pessoas saíram às ruas neste sábado, dia 15 de outubro, em mobilizações globais que fizeram parte do '15.O', movimento em resposta a atual crise do capitalismo. O principal alvo dos manifestantes foi o sistema que impõe verdadeiras 'ditaduras financeiras' e que tem como alguns reflexos medidas de austeridade dos governos e arrocho aos trabalhadores. 

Como de praxe, a mídia comercial brasileira tratou de desvirtuar a jornada global. Apesar dos protestos terem acontecido em mais de 80 países, parte da imprensa 'tupiniquim' tentou transformar o 15.O em atos localizados contra a corrupção – que apesar de terem seu valor – não tratavam das pautas do movimento 15 de outubro, ou seja, a atual fase do sistema neoliberal.  
 
Em algumas locais, São Pedro tentou atrapalhar [apesar de legítimo representante da classe trabalhadora e padroeiro dos pescadores], parecendo ter se aliado ao "deus mercado". Mesmo assim o povo saiu às ruas, inspirado na onda de indignações mundiais que iniciaram na Primavera de Praga, passaram pela Zona do Euro e chegaram a Wall Street, o coração financeiro do mundo em Nova Iorque.

Em Cascavel (PR), o mau tempo na véspera de acertamos os ponteiros para o início do horário de verão também reduziu o número de manifestantes, mas não o ímpeto dos jovens que estiveram no calçadão da Avenida Brasil, no ato organizado pelo movimento denominado "Democracia Real Cascavel", em alusão ao nome do movimento nacional "Democracia Real Brasil".
 
Por aqui também aconteceram interpretações errôneas por parte da imprensa, que deu ao protesto o tom de ato contra a corrupção em virtude de outro movimento ter se unido ao 15.O, especialmente na parte da manhã, organizado por integrantes de partidos políticos da cidade. Além disso, alguns jovens que haviam programado um ato para o último dia 8 (adiado por causa das chuvas), chamado 'Dia do Basta', também estiveram na Avenida Brasil.

Apesar da diversidade de correntes ideológicas, o 15.O tinha como objetivo central mudanças globais na ordem mundial. O artista plástico Jefferson Kaibers foi um dos jovens que participou do ato. Para ele, "vivemos uma onda de espírito democrático, onde as pessoas estão despertando para mecanismos da democracia participativa, que é aquela que emana do povo e para o povo".
 
Kaibers pondera para o fato de que os movimentos devem ter maturidade ao se deparar para um possível cenário. "Nós poderemos passar de uma fase de indignação para decepção e, posteriormente, percebemos que não adianta apenas sairmos às ruas"Ativista do setor cultural, Kaibers aproveitou para divulgar a luta dos artistas da cidade em prol da criação de um Sistema Municipal e um Conselho de Cultura efetivo no município. "Essa é uma luta que iniciamos há mais de dois anos".

Anonymus

Para o designer e programador Derek Stavis, um dos organizadores do 15.O em Cascavel, as pessoas começam a despertar para "facetas do atual sistema democrático, de viés autoritário, dominado por uma elite privilegiada, marcada por uma política suja de negociatas, a serviço de bancos e grandes empresas". 

O jovem faz parte do movimento Anonymus Brasil, conhecido grupo de ativistas da rede mundial de computadores que chama a atenção, entre outras coisas, por usar máscaras dos quadrinhos 'V de Vingança'. "No Anonymus nos despimos de individualidade e nos convergimos em coletivo, na luta por um bem comum".

O Anonymus também é conhecido por questionar temas como democratização da informação, considerado um "tabu" para os meios de comunicação. No 15.O de Cascavel tivemos uma pequena amostra disso, uma vez que durante discurso de Derek, ao ser tocado no ponto dos "donos da mídia", uma equipe de reportagem que fazia cobertura do ato ficou visivelmente desconfortável.  

Para Derek Stavis, as ruas e praças públicas são espaços a serem tomados pelos indignados com esse estado de coisas. Cascavel esteve entre as cerca de 900 cidades do mundo que aderiram aos protestos. Mesmo com São Pedro tendo atendido ao "deus mercado" e a mídia deslizado em certas confusões, a juventude atendeu às convocações, entre elas do escritor Eduardo Galeano, que conclamou todos a "celebrarem o sagrado direito da indignação".


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