domingo, 27 de maio de 2012

Reforma agrária: Nove anos do Olga Benário

A partilha simbólica do pão
O Assentamento Olga Benário, em Santa Tereza do Oeste, vem somando conquistas e demonstrando que a reforma agrária dá certo, beneficiando não somente as famílias que conquistaram a terra, mas gerando emprego e distribuição de renda que auxilia a economia da região.

O assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), distante 15 quilômetros de Cascavel, completou nove anos neste sábado (26/05). A festa reuniu trabalhadores, amigos e colaboradores da reforma agrária na região Oeste do Paraná. O Sítio Coletivo foi um dos convidados da bela festa organizada pelos trabalhadores rurais sem-terra.

A comemoração foi iniciada com uma celebração ecumênica e a leitura de um texto das tradicionais místicas realizadas pelo MST, rituais que se constituem em práticas pedagógicas e educativas do movimento. Em menção a inauguração da padaria comunitária da comunidade, foi realizada a partilha simbólica do pão por dois jovens sem-terra.

A padaria comunitária produzirá alimentos que são frutos da reforma agrária. O espaço, de 48 metros quadrados, foi construído pelos assentados e contou com doações de aliados da reforma agrária, como sindicatos de Cascavel, caritas diocesanas, paróquias, prefeitura de Santa Tereza do Oeste e comerciantes do município.  

O espaço ainda necessita de acabamentos, mas já está produzindo semanalmente cerca 900 quilos de pães, cucas e bolachas. Esses produtos são entregues a 33 colégios estaduais nos municípios de Cascavel e Santa Tereza do Oeste.

Além da merenda escolar, o Assentamento Olga Benário tem a experiência do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), onde as famílias têm conseguido garantir a produção diversificada de alimentos para a doação a entidades assistenciais e educacionais de Santa Tereza do Oeste.

"A ideia da construção da padaria surgiu em dezembro do ano passado e hoje estamos felizes com essa conquista para a comunidade, teremos um local adequado para produzir os alimentos da reforma agrária. Pretendemos ampliar nossa produção, participar da feira municipal do pequeno agricultor e fornecer nossos produtos ao comércio local de Cascavel e Santa Tereza", destaca a assentada Marilene Hammel, uma das 13 pessoas que trabalham na padaria comunitária.

Além da padaria, o assentamento deverá implantar ainda esse ano um viveiro comunitário para a produção de mudas de hortaliças. Com isso, também será garantido o fornecimento de água para que as famílias possam organizar suas hortas e melhora sua produção e alimentação. O viveiro será viabilizado por meio de um patrocínio da Eletrosul. A comunidade também projeta a construção de um barracão comunitário, um espaço para confraternização das famílias com a sociedade, que deverá ser viabilizado por meio de uma emenda parlamentar do deputado federal Dr. Rosinha (PT).

O militante Eduardo Rodrigues, um dos coordenadores do Olga Benário, destaca as conquistas obtidas pelo assentamento, mesmo diante de uma série de dificuldades. "Ao longo desses anos tivemos que enfrentar a tiraria do latifúndio, o ódio de grande parte dos meios de comunicação e muitas vezes a incompreensão da sociedade, mas dia a dia, fomos conquistando nosso pedaço de terra e cada melhoria de vida com grande esforço e luta", diz o sem-terra.

Ele destaca que as conquistas só foram possíveis graças à união das famílias que lutam até hoje, empunhando a bandeira do MST, movimento que os une e que dá condições para que as conquistas sejam alcançadas. "Também gostaria de agradecer aos amigos e parceiros da reforma agrária na região, que nos acompanham nesses nove anos de luta", conclui Eduardo.

O compromisso de estar na contramão do agronegócio, fazendo a opção pela agroecologia como ferramenta de produção em uma terra sem veneno e agrotóxicos, faz com que os assentados do Olga Benário sigam na luta pela reforma agrária, levando o legado da ex-militante comunista que pregava a luta pelo que é "bom, belo e justo". 

Padaria comunitário do Olga Benário
Produtos da reforma agrária
Produtos da reforma agrária
Eduardo Rodrigues
Eduardo e Marilene em leitura do texto da mística
Celebração ecumênica
Araídes Duarte e a filha Yara

domingo, 20 de maio de 2012

Jornalistas elegem nova diretoria do Sindijor-PR

Visita à Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Cascavel
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (Sindijor-PR) realizará de segunda a quarta-feira (21 a 23 de maio), eleição para escolha da nova diretoria que assumirá a entidade nos próximos três anos.  Serão eleitas a direção estadual e as subseções regionais de Cascavel, Foz do Iguaçu e Ponta Grossa.

A atual gestão, sob a presidência do jornalista Marcio Rodrigues deixará a direção no fim de maio. Durante sua administração, a gestão "Sindicato é uma questão de classe" passou pelo cenário do fim da exigência do diploma em 2009, tentativas de rebaixamento do piso da categoria no interior do Estado, entre outras dificuldades, porém os jornalistas paranaenses conseguiram dois aumentos reais nas últimas Convenções Coletivas, fato que não acontecia há 14 anos.

"Há três anos, um grupo de jornalistas se dispôs a dar continuidade a uma ação surgida ainda no fim dos anos 1980 e desde então o Sindijor tem sido uma entidade que atua de forma inequívoca na defesa dos interesses da categoria, incentivando-a a ser uma classe de trabalhadores mais consciente de seus direitos", destaca Marcio.

Apenas uma chapa se inscreveu para eleição. Intitulada "Juntos Somos Mais Fortes", ela é encabeçada pelo jornalista Guilherme Carvalho, de 32 anos. Curitibano, Guilherme trabalha no Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc). É mestre pela UFPR e doutor em Sociologia pela Unesp, tendo se formado em jornalismo pela UEPG. Cursa pós em Comunicação, Cultura e Arte na PUCPR.

"Os jornalistas do Paraná podem ter certeza de que a entidade será comandada por um grupo que vai defender os interesses dessa coletividade de forma presente e independente, sempre respeitando aquilo que é melhor para a categoria", diz Marcio Rodrigues, em declaração de apoio a chapa inscrita para a eleição.

Dentre os principais desafios elencados pelos candidatos à nova gestão está a inclusão de uma grande parcela de jornalistas distantes das condições previstas na Convenção Coletiva da categoria; como é o caso das assessorias públicas, políticas e privadas, freelancers, funcionários de pequenos veículos, entre outros. Dentre as lutas, destaque para a regulamentação da profissão e a obrigatoriedade do diploma.

Um diferencial da chapa inscrita é a presença de jornalistas do interior fazendo parte da direção estadual, além da pluralidade na composição, reunindo editores, repórteres, fotojornalistas e assessores de imprensa.

Na última semana, Guilherme Carvalho esteve fazendo um roteiro de visitas pelos municípios que elegerão suas regionais; ele passou por redações e assessorias em Foz do Iguaçu, Cascavel e Ponta Grossa. Na oportunidade, o jornalista falou com os colegas da profissão sobre a eleição, divulgando o material de campanha com as prioridades para gestão e a importância do jornalista estar sindicalizado para fortalecer sua entidade representativa.

Guilherme, que participou da gestão do Sindijor entre 2003 e 2006, destaca os avanços conquistados pela categoria nos últimos anos. "Esses avanços são resultado da organização dos jornalistas enquanto classe. Pretendemos dar continuidade ao que vem dando certo", diz.

Por outro lado, o candidato aponta que há muito ainda a avançar. "Para solucionarmos os sérios problemas que ainda existem, é preciso que os jornalistas se percebam como o próprio sindicato. Precisamos trazer para o sindicato aqueles jornalistas que estão dispersos, como os de assessorias, das redações menores, os recém-formados e também os estudantes. Nossas conquistas dependerão da nossa capacidade de participação", afirma.

A eleição do Sindicato dos Jornalistas do Paraná acontecerá durante os três dias, das 9 às 18 horas. Em Foz do Iguaçu haverá duas urnas: uma fixa e outra itinerante pelas redações. Em Cascavel, os votos serão coletados na segunda e terça-feira em redações e assessorias. A urna itinerante da regional ainda passará pelos municípios de Toledo e Marechal Cândido Rondon. Na quarta-feira, última dia da eleição, a urna estará fixa na Agência F 5 Fotografias, na Rua Paraná, 3498.

Estarão aptos a votar os jornalistas em dia com a contribuição sindical. Os profissionais que estiverem com suas contribuições em atraso poderão regularizar a situação para votar, conforme as orientações que serão repassadas pelo coordenador e mesário nos dias de votação.

Abaixo os componentes da chapa "Juntos Somos Mais Fortes"

Diretor-Presidente:
Guilherme Carvalho
Diretor-Executivo: Gustavo Henrique Vidal
Diretora-Financeira: Maigue Gueths
Diretor de Defesa Corporativa: Célio Martins
Diretor de Fiscalização do Exercício Profissional: Ivonaldo Alexandre
Diretor de Formação: Pedro Carrano
Diretor de Saúde e Previdência: Wilson Soler
Diretor de Imagem: Pedro Alexandre Serápio
Diretor de Ação e Cidadania: Ismael de Freitas
Diretora de Cultura: Mauren Lucrécia
Diretora-Administrativa de Assessoria de Comunicação: Ana Cecília Pontes de Souza
Diretor-Administrativo de Interior: Júlio César Carignano
Diretora-Administrativa de Professores e Estudantes: Cristiane Lebelem
Diretor-Administrativo de Esporte, Lazer e Eventos: Filipi Manoel Rodrigues de Oliveira
Diretor-Administrativo Institucional: Fernando César Borba de Oliveira 

Redação da RPC TV
Portal da CATVE

Redação da Gazeta do Paraná
Jornais Hoje/O Paraná
Entrevista à Rádio Globo
TV Tarobá

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Duas obras, um tema e o "manto de sombras"

Luiz Manfredini ministra palestra na Unioeste
A combinação música mais história é sinônimo de ótimos debates no meio acadêmico. Esse formato, idealizado na Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) pelo professor Alexandre Fiuza, trouxe um tema que está em evidência com a possibilidade da instalação da Comissão da Verdade, que apurará crimes cometidos pelo Estado brasileiro durante a ditadura civil-militar.

Esse debate foi enriquecido com a presença do jornalista e escritor Luiz Manfredini, que esteve nos últimos dias na região Oeste. Nascido em 1950, o curitibano foi personagem dessa história, sendo inclusive preso no período dos 'Anos de Chumbo'.

Em Foz, ele foi um dos convidados do Salão Internacional do Livro, enquanto em Cascavel ministrou a palestra 'Memória da neblina e as moças de Minas: história e ficção sobre a ditadura'. "É a primeira vez que faço uma palestra assim, é muito gostoso ouvir música de qualidade e não ficar aqui só discutindo", diz o jornalista sobre as apresentações dos músicos Ana Carolina Noffke, Sil Vaillões e Giovani Pinheiro, que abriram o debate.

Antes do evento, o 'camarada Manfra' - apelido oriundo dos tempos de militância política no grupo Ação Popular - teve uma prosa com o Sítio Coletivo, onde falou de seus livros mais conhecidos que dão nome à palestra. Falou ainda sobre sua expectativa para a instalação da Comissão da Verdade e a atuação da imprensa na sustentação do golpe de 64 e nos dias atuais. Abaixo trechos deste bate-papo.


[Sítio] 'Memória da neblina' e 'Moças de Minas'
[Manfredini]
Na literatura podemos ter dois olhares sobre o regime, aquele jornalístico, histórico e jurídico, e o olhar da ficção. Diferente da ciência, na ficção não se precisa provar nada, mas está baseado em fatos que podem ter ocorrido. Ela te faz avançar e toca na alma das pessoas, fazendo que elas pensem. O Moças de Minas, publicado em 1989 e reeditado em 2008, é um livro jornalístico, um caso conhecido envolvendo cinco moças que pertenciam a Ação Popular, grupo que militei nos anos 60, onde estudantes se integraram a operários e camponeses. Éramos um grupo diferente dos grupos de Mariguela e Lamarca, que eram organizações armadas. Entendíamos que mais a frente esse seria o caminho, mas naquele momento era impossível, a história mostrou isso, pois do outro lado tinha um exército enorme e fortalecido. Não dava para chegar sozinho, era preciso a participação do campo, das fabricas, enfim, o livro traz depoimentos dessas cinco jovens, pesquisas junto o Supremo Tribunal Militar e uma bibliografia da época vivida, entre os anos de 1968 a 1971, que coincidem com o AI-5 (Ato Inconstitucional número 5). A outra obra, Memória de Neblina, publicada no ano passado, é uma ficção atrelada à realidade vivida nos anos 60. São três cinquentões que se reúnem para falar daquele passado. Fala da dramaticidade de viver naquela época, mas como eles eram adolescentes nessa fase, também há espaço para as brincadeiras, algumas atitudes próprias da idade, como quando vão fazer pichações nos colégios com as palavras de ordem do tipo "Abaixo a ditadura" e poesias de Ferreira Gullar. Esse era um diálogo da época de se unir a poesia e política. Os dois livros dialogam entre si, que se relacionam na problemática, apesar de não serem continuações.

Ditadura e Comissão da Verdade
A ditadura está em evidência novamente no país, devido às circunstâncias políticas, pelo momento democrático que passamos, pela instituição da Comissão da Verdade, ainda que falte a indicação dos membros do governo. Apesar de não ter caráter de punição, acho que a comissão irá prosperar. Há um interesse grande da juventude nisso, prova disso foram ações em frente às residências dos torturadores. É algo que eu não esperava e isso está acontecendo porque a sociedade entende que o país não pode avançar diante de tantas sombras em seu passado, há essa ansiedade em desvendar esse 'manto de sombras'. Ainda que a comissão não puna, é preciso tirar a limpo essa situação.

Recuos na instalação
Os recuos são próprios da luta política, são resultado de uma correlação de forças, assim como foi a própria Lei da Anistia. A comissão não depende exclusivamente da Dilma, talvez essa demora do governo em indicar seus membros tenha causado esse desgaste todo. Precisamos lutar é por uma estrutura que seja ágil, uma comissão que separe o joio do trigo, que comprove o que foi verdade, o que foi mentira e que vale a pena investigar. A própria Lei da Anistia deverá ser questionada, pois sabemos que ela foi imparcial, pois o Estado foi auto-anistiado. O que se cometeu foram crimes de Estado, veja o caso da Argentina, eles agiram positivamente ao radicalizar e o hoje o Videla está na cadeia [Jorge Rafael Videla, ex-general argentino que admitiu os crimes da ditadura]. Basicamente, se a sociedade não se envolver, se não houver pressão social, a comissão não avançará.

A imprensa e o golpe
A mídia brasileira tem três grandes momentos que merecem ser citados. Um primeiro, em 1964, quando a imprensa participa da conspiração que instaura o golpe, assim como já havia participado da oposição a Getulio Vargas. A família Mesquita [proprietária do Grupo O Estado de São Paulo] cedeu veículos aos militares e inclusive comprou armas para se preparar para uma eventual revolta. Nessa mesma fase, os meios de comunicação participam da organização da 'Marcha da Familia, com Deus e pela Liberdade'. Somente um jornal na época, o Última Hora do Samuel Wainer fazia oposição a isso. Um segundo momento é entre 1971 a 1974, quando a mídia começa a se deslocar do golpe, é quando em 1976 começa a censura do regime ao Estadão, através das receitas de bolo e dos poemas de Camões. Eu inclusive trabalhei nessa época para o Estadão, trabalhei pro PIG [Partido da Imprensa Golpista] na época (risos). Nessa mesma fase fui preso quando estava no JB [Jornal do Brasil], que precisou contratar advogados para me soltar. Já o terceiro momento é a fase pós-Lula, onde temos uma oposição direta ao governo, com uma tentativa de golpe em 2006, onde a imprensa começa a agir com o papel político, de partido de oposição. O que a revista Veja faz, por exemplo, não é jornalismo, é criação de fatos políticos que hoje, com esse caso do escândalo do [Carlinhos] Cachoeira, estamos vivendo o auge.

Os jornalistas e o patronato

A mídia privada integra o poder econômico nacional, ela vende um produto que é a informação, mas qualquer informação precisa de um mínimo de credibilidade. Quando a mídia age como partido político, como 'partido do capital', perde essa credibilidade e vai se afastando cada vez mais dos princípios jornalísticos para defender interesse de seus donos. O mais dramático é quando os jornalistas entram nessa onda de achar que a imprensa deve ser intocável e jamais questionada. Todo mundo está sob regulação de seus conselhos, mas só a imprensa não pode ter um órgão regulador. É um absurdo quando os jornalistas assumem a posição do patronato. O Mino Carta [diretor da revista Carta Capital] costuma dizer que esse é aquele profissional que trata os Marinho como se fossem 'colegas' (sic).

Blogs e novas mídias
Isso é um grande dado, veja o caso do livro Privataria Tucana, do Amaury Ribeiro Junior, que sofreu um boicote dos grandes veículos de comunicação, ele estava vendendo igual pão quente em padaria, mas a Veja não o colocava naquele espaço dos mais vendidos, só foi fazer após a pressão de blogs e as redes sociais que começaram a pipocar isso. Esse dado novo vem pra furar esse bloqueio, hoje existem sites, portais, blogs que produzem jornalismo cidadão. Óbvio que é preciso selecionar, pois tem para tudo que é gosto na internet, desde pedofilia até cidadania. Acho que a internet tem alterado a forma de fazer política, está alterando as relações. O grande problema é que acabamos sofrendo da 'síndrome do excesso de informação'.

Caminho da esquerda
As experiências que começaram com a União Soviética acabaram se esgotando, elas tiveram consequências fantásticas para sociedade, mas tiveram erros e precisamos fazer essa leitura. Ela teve a dificuldade de não poder se basear em experiências anteriores, mas serviram para promover os ideais de uma sociedade menos individualista. No início dos anos 90, tivemos uma guinada para o neoliberalismo, que se opunha a isso. Talvez o grande equívoco do projeto socialista foi achar que só existia um modelo único. Existem princípios básicos, é simplismo pensar que tomado o poder, rapidamente o socialismo será implantado, isso traz problemas inclusive para o processo democrático, pois aqueles que não se enquadram são excluídos, promovendo desigualdades sociais. Apesar disso, vimos que o capitalismo não é a solução e que não há perspectiva para esse sistema que tem como objetivo o lucro máximo, o cada um por si.


*   Luiz Manfredini é jornalista e escritor em Curitiba. Trabalhou em O Estado do Paraná, TV Iguaçu, O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e revista IstoÉ, entre outros órgãos de imprensa. É colunista do portal Vermelho, membro do Conselho Editorial da revista Princípios, editada em São Paulo, e coordenador da Fundação Mauricio Grabois.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Sítio Coletivo: um ano de luta!

Há exatamente um ano, a porteira deste sítio foi aberta. Ele foi criado de forma despretensiosa, especialmente por manter minha ânsia pela escrita mesmo distante das geladas e lineares redações tradicionais. Despretensões a parte, a intenção do Sítio Coletivo sempre foi se pautar pelos preceitos da liberdade de expressão, da função social do jornalismo e do contraponto de discursos homogêneos que acabam se tornando hegemônicos.

Esse espaço foi concebido na mesma data em que se comemora o 'Dia Mundial da Liberdade de Imprensa', um debate que sempre esteve presente por aqui. Nunca questionei a se há liberdade da imprensa, pois acredito que ela é plena, inclusive a liberdade de mentir, omitir, manipular, criminalizar e agredir. Porém, a pulga que fica é: "pode haver liberdade de imprensa sem liberdade de expressão?"

Não se discute liberdade de imprensa sem tocar em questões como 'libertinagem de empresa', sem discutir monopólio midiático, propriedade cruzada dos meios de comunicação e a ausência de um marco regulatório da mídia. Sem tocar em pontos como: quem pode ter um meio de comunicação? Quem pode escrever nele? Quem consegue concessões de rádio e TV? Quais segmentos sociais são representados nos espaços midiáticos? 

Há 12 meses decidi aderir a 'blogosfera', esse fenômeno que tem possibilitado a expansão de uma nova forma de fazer jornalismo - que apesar de não ser profissional - tem aberto um caminho importante para a construção de cidadania e de democratização dos meios de comunicação e da liberdade de expressão.

A internet avança, mesmo sem o Plano Nacional de Banda Larga em prática, e os blogs começam a se firmar como fontes de informação. Se a informação é um bem coletivo, todo cidadão tem direito a informar e ser informado. É assim que a comunicação deixa de ser vertical para ser horizontal e, diante disso, esse sítio sempre teve a pretensão de ser um espaço 'coletivizante' e 'colaborativo'.

Desde a primeira postagem, sempre fiz questão de deixar claro que esse espaço tem um lado e o assume sem vergonha alguma. Talvez esteja aí a grande diferença entre a blogosfera e os veículos tradicionais. Não acredito em neutralidade em qualquer setor da vida, assim como não acredito em 'centrismo' e afins, motivo que neste espaço nunca foram 'vendidas' fantasias como da imparcialidade; mentira propagada pelos meios de comunicação desde o primeiro jornal publicado no país, sob a direção editorial de Dom Pedro.

Neste primeiro ano de luta, algumas postagens merecem uma menção especial: a cobertura do 1º Encontro Mundial de Blogueiros, em Foz do Iguaçu, oportunidade que pude conhecer e bater um papo com o cartunista e ativista Carlos Latuff; a entrevista com professor Nildo Ouriques, que dirige o IELA (Instituto de Estudos Latino-Americanos); a história do artista de rua Fillipe Monteiro, que tem o sonho de conhecer Eduardo Galeano; a visita da jornalista estadunidense Lynette Wilson ao MST em Cascavel; além das postagens relacionadas ao midialivrismo, a comunicação popular, cultura, povos indígenas e movimentos sociais.

Ao completar um ano, o Sítio Coletivo reafirma seu compromisso com uma informação horizontal e plural, pois somente assim chegaremos a uma comunicação verdadeiramente democrática. Esse espaço acredita na função social do jornalismo e da informação, função que é constantemente relegada em favorecimento aos interesses de patrocinadores, financiadores, interesses comerciais e dos donos dos meios de comunicação.

Esse é um sítio sem cercanias, uma terra comunal e de pouca extensão, de produção saudável, livre dos 'agrotóxicos' e dos 'agentes laranjas' da velha mídia, mas como pitadas de veneno subversivo e transgressor. Durante a semana, um camarada me lembrou de uma frase de George Orwell que dizia que "jornalismo é publicar algo que alguém não quer que seja publicado (...)".  Tecnicamente, o Sítio Coletivo não tem a pretensão de produzir o 'jornalismo', mas entende que ele não pode ser uma mera peça da engrenagem de realimentação do sistema e seus discursos, deve ser uma atividade, acima de tudo, 'áspera e verdadeira'.