quinta-feira, 30 de junho de 2011

Intransigência e precarização motivam panfletagem de jornalistas em Cascavel

Lemos jornais, assistimos noticiários pela TV ou escutamos pelo rádio, mas nem todos conhecem a realidade de grande parte dos jornalistas e como são tratados pelos "donos da mídia". Em virtude disso, nesta terça-feira, dia 5 de julho, jornalistas de Cascavel realizam uma panfletagem à partir das 11 horas, no Calçadão da Boca Maldita. Em pauta: 9 meses de tentativas de negociar os patrões o fechamento da data-base da categoria, de outubro de 2010. 

A demora reflete a maneira como os patrões da imprensa paranaense tratam aqueles que são responsáveis pelos seus números de lucratividade, seus chamados "colaboradores" (sic). Mobilizações serão realizadas em outras cidades com subseções do Sindicato de Jornalistas do Paraná, como Foz do Iguaçu e Ponta Grossa, além da sede em Curitiba. Em Cascavel, um material produzido pela subseção local será distribuído expondo algumas situações tão comuns em redações do "velho oeste". 

Além da questão do aumento real - que os jornalistas não sabem o que significa há 15 anos - e o fato da patronagem "aceitar" conceder apenas o relativo à reposição da inflação (aquela medida por institutos, mas que inserem de outra forma nas gôndolas) os colegas de Cascavel e região precisam ainda conviver com situações como acúmulo de trabalho, de funções, pressões, jornada excedente, horas-extras não pagas, falsos estágios, desrespeito ao piso, ao anuênio, ingerência de terceiros, ameaças e assédio moral. 

Enquanto o Dieese aponta que 94% de 660 pisos salariais do País conquistaram aumento real somente no último ano, os donos da mídia seguem dizendo que nosso piso é elevado demais e que não conseguem dar sequer 1% de aumento real. Balela, pois números do Projeto Inter-Meios mostram o crescimento no faturamento bruto das empresas nos segmentos rádio, TV e impresso. 

Alguns acreditam não serem parte desta realidade, quem sabe pela sensação de estarem em posição "privilegiada" dentro de seus locais de trabalho, mas é necessário lembrar que pertencer a uma classe ou categoria significa enfrentar as mesmas dificuldades cotidianas, injustiças e até mesmo os privilégios. Portanto é necessário pensar na coletividade, no colega ao lado. É uma questão de identidade e consciência de classe...


 “Quanto mais o homem se torna consciente, através da reflexão, da sua condição servil, quanto mais ele se indigna com ela, mais o espírito da liberdade se aviva dentro dele”
(Nestor Makhno)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Aberto edital para o "FUGU 2011"


O Baiacu (Bando Independente Associação Cultural), por meio de sua coordenação de artes visuais, abriu edital de convocação para participação na mostra FUGU 2011, que será realizada nos dias 12, 13 e 14 de agosto no Centro Cultural Gilberto Mayer, em Cascavel. 

Realizado desde 2007, o FUGU deste ano terá como tema a "Carne". Segundo o edital, "a carne é uma substância constitutiva do corpo animal, a partir deste pressuposto é que o tema relativo à pintura foi idealizado. O assunto proposto sugere a intenção de fazer tal elemento como sendo um fator emblemático da linguagem pictórica". 

Poderão participar artistas dos municípios de Cascavel e Toledo, assim como estudantes de artes que sejam de outros municípios da região Oeste do Paraná. Todos devem ser maiores de 18 anos. Os trabalhos devem ser enviados para o endereço eletrônico: cascoart@gmail.com 

Após a realização do FUGU, os trabalhos selecionados serão expostos na biblioteca da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Maiores informações sobre as regras para participação e envio dos trabalhos, assim como o edital completo, estão disponíveis no sítio www.baiacu.net  e no blog artesemcascavel.blogspot.com

terça-feira, 21 de junho de 2011

O "caudilho", a mídia e uma Nação em trevas


Brizola no exílio no Uruguai (foto: Ricardo Chaves)
“Se quiséssemos caracterizar estes últimos decênios da história humana, sem dúvida, deveríamos chamá-los de idade da mídia, dos meios de comunicação – a propaganda, os jornais, as revistas, as agências e os sistemas de rádio e televisão. Nestes tempos, vem sendo a mais poderosa arma de dominação dos povos, isto é: a servidão consentida, através da mente humana”. 

Essa citação que retrata tão bem a nossa atualidade foi escrita há 18 anos por Leonel Brizola em seu texto "Os novos exércitos". Político que teve atuação marcante na história brasileira por mais de meio século, ainda antes do Golpe de 64, já contestava a política "conciliatória" de Jango com setores mais conservadores. Posteriormente teve participação decisiva na atuação contra o regime milico-empresarial imposto pelo AI-5. 

Quando prefeito e governante nos Pampas apoiou movimentos camponeses e agricultores sem-terra, dizia que a reforma agrária deveria sair, "fosse na lei, fosse na marra".  Num mundo de tantos "ismos" na política – hoje caracterizado em especial pelo fisiologismo e oportunismo – Brizola nunca aceitou rótulos de "ismos", apesar da convergência ao socialismo e de ser o criador do verdadeiro "trabalhismo", não esse deturpado por figuras que hoje compõem o partido que foi um dos idealizadores junto com Darcy Ribeiro.

Em reação a esse descarte aos rótulos, setores conservadores criaram pejorativamente o termo "brizolismo" (nunca aceito pelo gaúcho), além de o relacionarem ao "caudilhismo". Acusado de personalista, Brizola foi uma dessas figuras que sempre viveu em "pé-de-guerra" com a mídia hegemônica em especial durante seus governos no Rio de Janeiro.

Enfrentou a poderosa Rede Globo, de quem sempre foi vítima de ataques e perseguição. As Organizações Marinho sempre fizeram questão de tripudiar e adjetivar Brizola com outros "ismos" tão característicos da grande imprensa, entre eles: personalismo, egocentrismo, narcisismo e centralismo. 

O medo de setores conservadores à figura de Leonel Brizola sempre foi visível, o pavor de que o gaúcho chegasse ao governo do Brasil sempre ficou explícito na linha editorial do mais poderoso grupo de comunicação do País. E uma pergunta sempre ficou no ar: qual a raiz do medo da toda poderosa especializada na transmissão do pensamento da elite dominante? A herança marxista do gaúcho? As experiências de seu aprendizado no exílio? Ou seu encontro com Che e Fidel em Cuba? 

Na opinião despretensiosa desse blogueiro, a raiz do medo estaria na possibilidade de transformações radicais por meio da educação, a maior arma de um líder para fazer uma verdadeira revolução cultural.

Companheiro de Brizola no exílio em terras uruguaias, o antropólogo Darcy Ribeiro o considerava um "estadista da educação". Durante sua gestão como governador no Rio,  Brizola foi responsável pelo programa educacional mais ousado que o país já vivenciou. Os CIEP’s (Centros Integrados de Educação Pública), unidades de ensino de tempo integral idealizados pelo próprio Darcy Ribeiro. Conhecidos também como "Brizolões", eles tinham por objetivo atender crianças e adolescentes de baixa renda. 

Nas palavras do antropólogo Darcy Ribeiro, Brizola foi “o primeiro governante brasileiro a compreender em toda a profundidade a inexcedível importância dos problemas educacionais, cuja solução é requisito indispensável para o que o Brasil progrida”.

Nesta terça-feira, dia 21, quando é lembrado sete anos da morte do "caudilho", termino esse breve texto com mais uma citação de Os novos exércitos, escrito em 1993 por Leonel Brizola que, apesar dos pesares, pregava: “A verdade sempre acaba por prevalecer, mesmo quando um avassalador monopólio de comunicação mantém toda uma Nação em trevas”.


E a verdade prevaleceu diante do monopólio... O famoso direito de resposta concedido à Brizola em 1994, lido pelo "vozeirão bíblico" de Cid Moreira foi prova disso. O episódio ainda é considerado um dos fatos mais marcantes da história da televisão brasileira. Veja abaixo.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Uma ostra reencarnada, direito do mundo dos mortos

Um fenômeno sobrenatural teria acontecido em Santa Catarina. Eleitores zumbis estariam se filiando a um determinado partido político que debuta no emaranhado de siglas de nosso sistema partidário-fisiológico. Cinco eleitores mortos teriam assinado ficha de apoio a criação do Partido Social Democrata barriga verde. Essa "adesão" em massa – de gente saindo pelas tumbas – pode ser explicada pelo fato que o PSD é uma reencarnação.

Reencarnação de um dos maiores símbolos da fisiologia histórica da política partidária brasileira, o PDS – Partido Democrático Social. Hibrido da extinta Arena, que protagonizou junto com o MDB um mundinho bipolar, a legenda representou durante um tempo - enquanto esteve no poder - o vigor da direita nacional, porém ao passar para oposição começou a declinar até cair no esquecimento.

Dividido, surgiram dissidências que criaram o PFL e PP, sempre representando anseios elitistas. O fim da frente dos "liberais" todos conhecemos, enquanto os progressistas seguiram seu caminho sempre pela ordem e com um progresso direcionado.

Voltando ao reencarnado, algo desperta atenção desde o parto do agora PSD. Uma frase de seu criador: o prefeito de Sampa, Gilberto Kassab que, em entrevista a Rádio Estadão, soltou a pérola: "O PSD não será de direita, não será de esquerda, nem de centro". "Cuma"?...

Essa verborréia é facilmente digerida ao avaliarmos o fenômeno de homogeneização que vem tomando conta do quadro político brasileiro. O fisiologismo de legendas e o oportunismo de seus personagens transformaram a política em campo minado para àqueles com posição: seja ela de esquerda ou de direita.

O discurso que "não existe mais esquerda e direita" vem daí, seduz uma grande parcela da população, especialmente setores da elite que sentem vergonha de assumirem posições mais conservadoras, além dos que pousam de esquerda, mas que não passam de "reformistas" que se assustam com qualquer programa que vise transformações mais radicais.

A hegemonia do centro está impregnada. A criação do PSD confirma essa convergência, que também contamina a população de uma maneira geral. Ninguém assume posição, seja de esquerda ou de direita, todos preferem se velar.

Na opinião desse blogueiro, a frase do Kassab significa um anúncio de mercado do tipo: "topamos qualquer negócio". Foi um aviso as demais siglas fisiológicas, seja do campo conversador, seja do campo "progressista": tendo mandato, ele pode ser negociável, uma maneira de mercantilizar cargos, benesses e posições dentro do jogo político.

Não há dúvida que o PSD foi parido numa placenta de direita, mas não foi gerado com discurso de oposição ferrenha ao centrista governo petista.  Em recente entrevista ao jornal Brasil de Fato, o professor Francisco Fonseca, da USP, explica bem o cenário: "na prática, o partido do Kassab vai ser base do governo, só atuando como força de veto, ali dentro, quando questões mais fundamentais de seus interesses estiverem realmente sob ameaça", avalia.

Kassab quer se dissociar de simbólicos "liberais", como Agripino Maia, César Maia e Antônio Carlos Magalhães e sair por cima na derrocada do moribundo DEM, que já elegeu 105 deputados federais e 14 senadores e que hoje se resume a 44 deputados e dois senadores.

O paulistano está trazendo algumas figuras caricatas como Índio da Costa, Kátia Abreu e políticos que dentro de seus estados representam oligarquias, mas a grande verdade é que a legenda "Frankstein" não acrescentará nada de novo ao quadro político brasileiro.

Será mais uma sigla de aluguel, um partido conservador de programa retrógrado, baseado na cartilha liberal. Será um Partido Sem Direção, disposto a se tornar legenda palaciana e chapa-branca se assim for conveniente, remetendo-se ao seu DNA antigo, que era conhecido como a ostra incrustada na nau do Estado. É a ostra reencarnando com direito à apoiadores do mundo dos mortos-vivos. 


* A ilustração acima com o engravatado com jeitão de político liberal é do clássico A Noite dos Mortos Vivos, de George Romero. Vai a dica para quem ainda não viu...

terça-feira, 14 de junho de 2011

"El chancho", os reaças e a Unasul

Um homem com espírito anárquico comungado com o estadismo centralizado, a dosagem certa para o intelectual guerrilheiro. Em 14 de junho de 1928, nascia o argentino Ernesto Guevara de La Sierna Lynch, simplesmente Che, um dos revolucionários mais conhecidos do mundo, admirado por muitos e odiado por alguns.  

Como todo ser humano, Che era um cara com contradições internas, o que rendeu e ainda rende - mesmo após mais de 40 anos de sua morte - uma série de campanhas difamatórias sobre sua imagem por àqueles que tentam incessantemente usurpar sua trajetória. Às vezes, penso que os “reaças” têm mais fascinação pelo Che do que seus próprios admiradores.  

Ministro que odiava escritórios, após o sucesso da Revolução Cubana abandonou altos escalões de poder para lançar-se novamente a luta, em outro país que não era o “seu”, pelo menos não na documentação oficial.

Esse blogueiro talvez não seja a pessoa certa para falar da trajetória do Che, mas em virtude de toda campanha difamatória dos “reaças de plantão”, tomo a liberdade de indicar aos 'sitiantes’ o livro Ernesto Guevara, também conhecido como Che, escrito por Paco Ignacio Taibo II (Editora Expressão Popular).

A obra é uma grafia minuciosa e detalhada, um vasto material que recorre além da narrativa do autor, aos textos do próprio Che (de seu famoso diário), fragmentos de cartas pessoais e públicas, notas manuscritas, declarações em atas, entrevistas, frases e testemunhos de companheiros. O livro – de grande fidelidade histórica – é uma crítica contundente aos querem separar Che de suas ideias e limitar sua herança a rótulos. 

Em segundo lugar, não posso deixar de dar aquela cutucadela na mídia “limpinha” e hegemônica. Aproveitando a data de nascimento desse revolucionário latino-americano na essência, gostaria de fazer um breve comentário sobre a Unasul (União das Nações Sul Americanas).

Pouco se noticiou, mas no fim de junho, a Câmara de Deputados aprovou a adesão oficial do Brasil à Unasul. A princípio uma formalidade, mas juridicamente necessária, que ainda deve passar pelo Senado. Brasil, Argentina e Venezuela foram os idealizadores do projeto por meio de um acordo tratado em 2008, que está se tornando realidade. 

A Unasul exercerá um papel idêntico ao da União Europeia, ou seja, a integração continental institucionalizada, tanto econômica, como política e militar. A intenção é alterar o quadro geopolítico das Américas, criando-se um regulador para as investidas de nações hegemônicas, especialmente do Titio Sam.  

A Unasul abrangerá Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Entre os objetivos da entidade estão a erradicação do analfabetismo, proteção da biodiversidade, dos recursos hídricos e dos ecossistemas, o acesso universal à seguridade social e aos serviços de saúde, e o intercâmbio de informação e de experiências em matéria de defesa.

Também está previsto a criação de um futuro parlamento sul-americano, mas que dependerá de um novo acordo a ser criado por uma comissão especial, composta de representantes dos parlamentos nacionais e regionais.

Enfim, esse foi mais um passo (‘esquecido’ pela grande mídia) de uma entidade que pretende promover a integração continental com foco na identidade sul-americana. Os meios de comunicação não deram a importância devida ao tema – e não se esperava algo diferente – em especial pelo ranço e preconceito daqueles que detém os meios de produção que ainda acreditam que essa história de integração sul-americana é papo de curumim

Se esquecem de ‘Nossa América’ e preferem noticiar as futilidades da ‘América dos outros’, por pura incompetência, canalhice ou quem sabe o medo daqueles que se calam diante de fatos que remetem a uma sociedade latino-americana verdadeiramente emancipada, assim como buscava figuras como Ernesto, ‘el chancho’.


Abaixo o vídeo de Hasta Siempre, interpretada pelos espanhois do Boikot, banda de punk-ska, caracterizada por seu compromisso social e mensagem política nas canções.



quinta-feira, 9 de junho de 2011

Fronteira Socialmente Incorreta

Rodrigo, Marcão, Teli e Velo
“Hardcore é protesto, a voz dos necessitados...”, diz a composição que também dá nome a banda Socialmente Incorreto e reflete o peso da sonoridade e letras desse quarteto de Foz do Iguaçu que há oito anos vem representando o cenário underground do “velho oeste” paranaense e da Tríplice Fronteira. 

Como já foi dito, esse espaço coletivo tem como um dos focos ampliar a abertura à artistas que produzem de forma independente, especialmente em nossa região. Em razão disso a porteira do sítio foi encancarada para os iguaçuenses Marção Oliveira (guitarra), Rodrigo Barreto (baixo), Cleiton “Telis” (bateria) e Ademar Junior “Velo” (vocal).

Com influências do punk-rock, hardcore nova-iorquino e o rap, mas sem cair em rotulagens, Socialmente Incorreto leva em suas composições a música de protesto, a realidade de nossa fronteira, além de críticas à mídia hegemônica e aos “velhos costumes modernos”.  Em 2007, eles lançaram um álbum homônimo com oito faixas.

Esse blogueiro conheceu pessoalmente a galera do Socialmente que esteve recentemente tocando em Cascavel e aproveitou para trocar uma ideia sobre música e comunicação, que fazem parte da vida dos integrantes da banda. Sem delongas, acompanhe abaixo o bate-papo.

Como e quando surgiu o Socialmente Incorreto?
[Velo] O Socialmente começou em 2003. Dois desocupados, numa quadra de basquete, tiveram a ideia de montar uma banda. Eu tinha algumas composições, já com algumas bases toscas. Chamamos mais dois desocupados e a merda tava feita.
[Marcão] Eu não era um dos desocupados. Entrei na banda logo após a gravação do CD, em 2008. O Teli (bateria) entrou em 2009.

Como definem a cena Hardcore e underground em Foz e o que representa para vocês?
[Velo] Com toda a sinceridade, hoje pouco se vê dessa cena. Alguns poucos remanescentes das boas épocas. O que acontecia antes - sempre tinha uma piazada nova - não se vê mais. Acho que perdemos pros ‘emos’ e pros ‘coloridos’.
[Marcão] O Velo bateu num ponto importante: falta renovação. A época em que a molecada corria atrás de galpões para alugar; percorria ruas da cidade colando cartazes; distribuía fliers, passou. Houve uma certa acomodação, uma vez que surgiram bares que mantinham a estrutura necessária para os shows. Isso deu fôlego, por um tempo. Como não é fácil manter um bar para um público sem dinheiro, esses lugares acabam fechando. Agora, quem, com 30, 40 anos de idade pesando nas costas, família para manter, contas a pagar, tem gás para recomeçar o processo?

Além do HCNY, que se percebe no álbum, quais as outras influências musicais?
[Velo] O gosto musical da banda varia muito, mas o que me influencia nas composições
são o HC e o Rap.
[Marcão] Eu sempre ouvi de punk rock a rock brasileiro dos anos 80, além de guitar band, entre outras coisas. O Teli (bateria) curte jazz. Claro que não dá pra colocar nas nossas músicas tudo aquilo que gostamos, mas acho que dá pra notar algumas ‘pegadas’ diferentes, principalmente ao vivo.

A realidade da fronteira é “hardcore” por natureza, como influencia nas composições?
[Velo] Somos quase todos nascidos aqui, onde vivemos há muito tempo. Então temos um grande apego a cidade, o que é uma das principais fontes de inspiração na hora de compor.
[Marcão] Um passeio pela Ponte da Amizade, num sábado, rende bastante assunto! (risos)

Em músicas como Ninguém se move e Guerra na Fronteira, vocês falam de luta social e figuras como Lampião e Chico Mendes. Falem um pouco dessa “pegada”.
[Velo] Chico Mendes, Lampião, assim como vários outros - que se eu for citar aqui, vou discorrer milhares de linhas - mostraram que temos o poder da mudança. Escrevemos sobre pessoas que mudaram suas vidas, ou deram suas vidas pelo que acreditavam ser o correto. É importante frisar que não temos laços com nenhum movimento político ou partido. Mas sempre vamos nos impor quando alguém quiser passar por cima. "Se você está abaixo vamos te ajudar a subir, se está acima vamos derrubá-lo, agora, se está ao nosso lado, andaremos juntos".

A fronteira é um local de grande miscigenação, onde afloram preconceitos. Como avaliam?
[Velo] Eu desconheço alguma ação de violência, tendo como partida a discriminação racial, por aqui. Foz do Iguaçu é um exemplo para o mundo. Somos 76 etnias que vivem em perfeita harmonia.
[Marcão] Foz do Iguaçu, como toda região de fronteira internacional, sofre com todo tipo de problema, e não é de hoje. Agora, daí a taxar a cidade como um reduto terrorista vai uma distância tremenda. O preconceito contra Foz parte da desinformação da mídia e, consequentemente, da população de outras cidades. Pior que isso, é o descaso de muitos moradores daqui. É normal iguaçuenses caracterizarem a cidade como ‘terra da muamba’, ‘Fossa do Iguaçu’, e por aí vai.

Alguns de vocês trabalham com comunicação. Na música A corda não arrebenta deste lado há uma crítica a televisão. Como a banda avalia a grande mídia, a “mídia limpinha”?
[Velo] Eu sou publicitário, profissão que impõe o consumo desenfreado. O Marcão é jornalista, profissão que distorce as informações e deixa a população cada vez mais tapada. Tentamos fazer diferente do que nossas profissões pregam e deve ser por isso que andamos a pé! (risos).
[Marcão] A forma como a população se relaciona com a mídia deriva de décadas de manipulação. Tentativas para combater essa situação não faltam, seja na imprensa alternativa, seja em organizações que pregam a democratização da informação no país. Mas não é fácil. O imaginário popular ainda se concentra nas ‘verdades’ disseminadas, com bases em interesses particulares, pelos grandes grupos econômicos. Um exemplo: todos comemoraram a morte de Osama Bin Laden. Mas não se sabe qual a real história desse caso. Ele realmente foi morto? Não vi nada que comprovasse isso. A morte dele era necessária? Pouco se questiona sobre isso, mas a ‘informação’ correu o mundo. E fica por isso mesmo.    

Como avaliam o fenômeno dos blogs e da imprensa alternativa?
[Marcão] Eu diria que a trincheira está montada. A tecnologia favoreceu o surgimento de veículos alternativos dispostos a questionar o atual status quo. O Sítio Coletivo é um ótimo exemplo! O boom de informações na rede colocou em xeque uma porção de veículos. Ainda há um longo percurso, mas as mentiras contadas pelos grandes grupos de comunicação passaram a ser questionadas, e isso não é pouca coisa.

Quais os planos da banda e aproveitem para deixar um recado aos “sitiantes”.
[Marcão] Na verdade, não temos feito muitos planos. Somos amigos, que gostam do que fazem. O Socialmente Incorreto tem resistido mais pela nossa boa relação do que por planejamento (risos). Por hora, tem dado certo. Queria aqui agradecer o espaço, Júlio! E também desejar longa vida ao Sítio Coletivo. Fazemos parte da mesma guerrilha! Grande abraço.

Acompanhem abaixo o vídeo de Guerra na Fronteira, que compõe o álbum de 2007


Mais informações em: www.myspace.com/socialmenteincorreto.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Pele vermelha, liberdade de empresa é isso...


Ilustração: Eugênio Neves
Pois bem sitiantes, o assunto é novamente imprensa. Gostaria de ser mais breve, mas são tantas datas que me confundo e me estendo: é dia de jornalista, do repórter, do comunicador, da imprensa e da liberdade dela. Dias atrás foram as congratulações pelo Dia da Imprensa, momento que o “colaborador” se sente valorizado com tapinhas nas costas, bombonzinhos e as palavras orgulhosas de suas progenitoras.

No dia 3 de maio foi lembrado o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa e no dia 7 de junho é a vez de “comemorarmos” o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. Como essa “liberdade” pode variar de órgão para órgão, estado para estado e país para país, porque não termos um dia mundial e outro nacional. Só falta agora o estadual e municipal.

Mas essa tal de “liberdade de imprensa” remete a reflexão, uma pulguinha atrás da orelha e uma pergunta de um de nossos ancestrais tradicionais. Um deles diria: “liberdade de quem e para quem, cara pálida?”.

Confesso que realmente acredito no conto da liberdade de imprensa, ou melhor, "da" imprensa, afinal a mídia tradicional está cada vez mais livre, leve e solta para dizer o que bem entender, inclusive para difamar quem quiser e quando quiser, livre também para - se achar necessário - omitir e manipular.

A imprensa é livre para promover censura prévia aos seus “colaboradores” por meio de pautas com conteúdos regidos pelo departamento financeiro e comercial; livre para promover monopólios e oligopólios, fazer propriedade cruzada, contratos comerciais e acordos publicitários antiéticos com governos municipais, estaduais e federal.

Temos liberdade de imprensa para promover preconceito, seja ele de credo, gênero, raça, sócio-econômico ou de orientação sexual. Há liberdade para - em nosso estado laico - praticarmos proselitismo religioso para sustentação financeira de grandes igrejas por meio de concessões públicas de rádio e televisão.

Liberdade de imprensa que também passa pelas facilidades dessas concessões estarem nas mãos de pequenos grupos econômicos e políticos, visto que no Congresso dezenas de deputados federais detêm concessões, fora aquelas que estão nas mãos de seus “laranjas”. Sem falar dos meios impressos que não precisam dessa “autorização previa”. Facilidade essa que se contrapõe a dificuldade burocrática àqueles que querem instituir uma rádio ou televisão comunitária.

Também temos a “liberdade” de não seguirmos o Capítulo V de nossa Constituição Federal, que versa sobre Comunicação Social, afinal vários itens ainda não foram regulamentados. Viram, querem coisa mais “libertária” que não seguirmos a constituição?...

Vejam o caso do artigo 220, em seu parágrafo 2º: "É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística". Já o parágrafo 5º traz: "os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio e oligopólio".

Por último o artigo 221, que fala sobre a produção: "I - preferência a finalidade educativas, artísticas, culturais e informativas/ II - promoção cultural nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação/ III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística".

Enfim, depois de todas essas particularidades, não há como não acreditar no conto da liberdade da imprensa, afinal não precisa estar acompanhada de "liberdade de expressão". Não me espanta a mídia tradicional, os grandes meios de comunicação, fazerem oba-oba nessas datas comemorativas.

Respondendo a pergunta do ancestral acima: "liberdade de empresa é isso, pele vermelha".