segunda-feira, 1 de junho de 2015

II Congresso Internacional de Estudos do Rock

Apresentação da banda Beto Eyng e Seus Capangas, no I Congresso 
Seguem abertas as inscrições para ouvintes no II Congresso Internacional de Estudos do Rock, que se realizará no Anfiteatro da Unioeste, Campus de Cascavel, de 04 a 06 de Junho de 2015.

O evento é organizado pelo Colegiado de Pedagogia e pelo Mestrado em Educação/ Campus de Cascavel da UNIOESTE, com a co-promoção da Facultad de Periodismo y Comunicación Social de la Universidad Nacional de La Plata (UNLP) – Argentina. O evento acadêmico irá contar com conferências, mesas redondas, sessões de comunicações orais, lançamento de livros e CDs, shows de bandas e exposições artísticas. 

Este ano, a segunda edição irá homenagear a banda O Terço, considerada uma das mais importantes bandas de rock da música brasileira. Em 2015, completam-se 40 anos do lançamento do seu álbum Criaturas da Noite. O Congresso vai contar com a formação do Terço de 1975: Flávio Venturini, Sérgio Magrão e Sérgio Hinds. Nesta ocasião, vamos render uma homenagem ao baterista desta mesma formação, Luis Moreno, falecido em 2003.

Além da carreira junto ao Terço, os músicos se destacaram em carreiras solo e com outros grupos. Flavio Venturini é intérprete de grandes clássicos da MPB como Espanhola, Nascente, Besame, Todo azul do mar, Noites com sol, entre outras.   

Sérgio Magrão é um dos baixistas de maior renome na MPB, além de integrar O Terço, ainda faz parte do 14-Bis, uma da mais importantes bandas do cenário musical brasileiro. É autor, em parceria com Luiz Carlos Sá, de um dos grandes clássicos da MPB, Caçador de Mim, gravada por Milton Nascimento com grande sucesso. Sérgio Hinds é uma referência na história do rock nacional, considerado um dos maiores guitarristas de todos os tempos. 

Além de O Terço, na sessão Conversa com Músicos, iremos contar com a presença de Miguel Cantilo, expoente do rock argentino, da memorável dupla Pedro y Pablo. Cantilo é um dos mais importantes nomes do rock argentino, com uma produção extensa desde 1970 e que lançou seu último CD no ano passado. É autor de clássicos como Marcha de la bronca, Padre Francisco, Adonde quiera que voy, Catalina Bahía, entre outros êxitos na Argentina.

No segundo dia, o evento contará com uma palestra do músico e professor Frank Jorge. Artista importante da cena porto-alegrense e um dos nomes mais importantes do rock gaúcho, seja em sua carreira solo, como por intermédio de sua participação no grupo de rock Cascavelettes.

O evento contará com apresentações musicais como a banda do Congresso que homenageará O Terço, além de bandas locais como Fulminantes, Billy Montana & Os Voadores (que irá prestar uma homenagem a Miguel Cantilo) e Black Mountain Side.

Também haverá duas exposições artísticas no hall do Anfiteatro. A primeira é a exposição Músicas Ilustradas II (Rahma Projekt), pelo artista plástico Rafael Hoffman (Criciúma) e a outra, intitulada Capas censuradas, apresentará imagens de capas de discos censuradas pela censura espanhola, organizada pelo jornalista espanhol Xavier Valiño.

O Congresso contará com palestras de grandes especialistas nacionais e estrangeiros debatendo temas vinculados ao rock.  Haverá ainda lançamento de livros sobre o rock de autores nacionais e estrangeiros, bem como de CDs. 

A conferência de abertura, La censura en el rock durante el régimen de Franco, será ministrada no dia 04 de junho, pelo jornalista espanhol Dr. Xavier Valiño. Na noite de quinta-feira o evento irá homenagear O Terço, pelos 40 anos do disco Criaturas da Noite e prestar um tributo ao baterista Luis Moreno.

No segundo dia do evento, pela manhã, ocorrerá a mesa redonda Rock e Educação: as escolas e faculdades de rock, com a presença do Prof. Ms. Jorge Alberto Falcon (Coordenador do curso de Licenciatura em Música e Professor da PUC-PR), do Prof. Dr. Gérson Luís Werlang (Universidade de Passo Fundo, Faculdade de Artes e Comunicação) e do músico e professor  Frank Jorge (coordenador e fundador do Curso de Músicos e Produtores de Rock).

No período noturno, a atração será a vez da mesa redonda Rock e mercado editorial, como a presença de Rodrigo Merheb (Oficial de chancelaria do Itamaraty e Jornalista – autor do premiado livro O Som da Revolução, de 2012), do Prof. Dr. Guilherme Bryan (Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, FEBASP – Brasil, documentarista do Canal Brasil e autor do clássico livro Quem tem um sonho não dança, de 2003) e da pesquisadora do rock nacional Aline Rochedo (Doutoranda em História – UFRRJ e autora da obra Derrubando reis: a juventude urbana e o rock brasileiro nos anos 1980). 

No último dia pela manhã, sábado, às 9h30, o evento contará com uma Mesa Redonda e uma conversa com o músico Miguel Cantilo, além de um debate com o Prof. Dr. Ernesto Bohoslavsky (UNGS-Argentina) e com o pesquisador argentino Lucio Carnicer (Pesquisador, radialista e professor de música – Argentina).

O Congresso recebeu 185 comunicações científicas sobre o rock, que serão apresentadas durante as três tardes do evento, com pesquisadores do Brasil, Argentina, México, Chile e Uruguai. Nestas sessões, de comunicação científica, serão apresentadas as principais pesquisas sobre o rock envolvendo os eixos temáticos Histórias do Rock, Poéticas do Rock, Rock e Cinema, Rock e Comportamento, Rock e Contracultura e Rock e Educação.

Este evento colocou Cascavel no eixo das pesquisas de ponta sobre o rock na América do Sul e tem revelado importantes trabalhos acadêmicos sobre este gênero musical e sua forte influência na sociedade e na cultura de diferentes povos.

O evento é aberto a todo público adulto e o pagamento da inscrição será realizado a partir de um boleto emitido junto ao sistema do site do evento, após a inscrição on line do participante. O valor da inscrição é acessível: alunos R$ 30,00 e demais interessados R$ 40,00. Haverá emissão de atestado de participação de 36 horas.

As inscrições seguem abertas até dia 03 de junho, por meio do site: http://www.congressodorock.com.br/evento/index.xhtml

Maiores informações: evento@congressodorock.com.br

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Eduardo Galeano, a FIFA e os "donos da bola"

Eduardo Galeano: paixão pelo futebol
A FIFA, que tem trono e corte em Zurique, o Comitê Olímpico Internacional, que reina de Lausanne e a empresa ISL Marketing, que tece seus negócios em Lucerna, manejam os campeonatos mundiais de futebol e as olimpíadas. Como se vê, as três poderosas organizações têm sua sede na Suíça, um país que ficou famoso pela pontaria de Guilherme Tell, a precisão de seus relógios e sua religiosa devoção ao sigilo bancário.

Casualmente, as três têm um extraordinário sentido do pudor em tudo o que se refere ao dinheiro que passa por suas mãos e ao que fica em suas mãos. A ISL Marketing possui, pelo menos até o final do século, os direitos exclusivos da venda da publicidade nos estádios, os filmes e videocassetes, as insígnias, flâmulas e mascotes das competições internacionais. Este negócio pertence aos herdeiros de Adolph Dassler, o fundador da empresa Adidas, irmão e inimigo do fundador da concorrente Puma. Quando outorgaram o monopólio desses direitos à família Dassler, Havelange e Samaranch estavam exercendo o nobre dever da gratidão.

A empresa Adidas, a maior fabricante de artigos esportivos do mundo, tinha contribuído muito generosamente para construir o poder dos dois. Em 1990, os Dassler venderam a Adidas ao empresário francês Bernard Tapie, mas ficaram com a ISL, que a família continua controlando em sociedade com a agência publicitária japonesa Dentsu. O poder sobre o esporte mundial não é coisa à toa. No final de 1994, falando em Nova York para um círculo de homens de negócios, Havelange confessou alguns números, o que nele não é nada freqüente:

— Posso afirmar que o movimento financeiro do futebol no mundo alcança, anualmente, a soma de 225 bilhões de dólares. E se vangloriou, comparando essa fortuna com os 136 bilhões de dólares faturados em 1993 pela General Motors, que encabeça a lista das maiores corporações multinacionais. Nesse mesmo discurso, Havelange advertiu que "o futebol é um produto comercial que deve ser vendido o mais sabiamente possível", e lembrou a primeira lei da sabedoria no mundo contemporâneo: - É preciso tomar muito cuidado com a embalagem. A venda dos direitos para a televisão é o veio que mais rende, dentro da pródiga mina das competições internacionais e a FIFA e o Comitê Olímpico Internacional recebem a parte do leão do que a telinha paga. O dinheiro multiplicou-se espetacularmente desde que a televisão começou a transmitir os torneios mundiais ao vivo para todos os países.

As Olimpíadas de Barcelona receberam da televisão, em 1993, seiscentas e trinta vezes mais dinheiro que as Olimpíadas de Roma em 1960, quando a transmissão só chegava ao âmbito nacional. E na hora de decidir quais serão as empresas anunciantes de cada torneio, tanto Havelange e Samaranch como a família Dassler são claros: é preciso escolher quem paga mais. A máquina que transforma toda paixão em dinheiro não pode se dar ao luxo de promover os produtos mais sadios e mais aconselháveis para a vida esportiva: pura e simplesmente se põe sempre a serviço da melhor oferta, e só lhe interessa saber se o Mastercard paga melhor ou pior do que o Visa e se a Fuji-film põe ou não põe sobre a mesa mais dinheiro que a Kodak. A Coca-Cola, nutritivo elixir que não pode faltar no corpo de nenhum atleta, encabeça sempre a lista. Suas virtudes milionárias a deixam fora de qualquer discussão.

Neste futebol de fim de século, tão pendente do marketing e dos sponsors, nada tem de surpreendente que alguns dos times mais importantes da Europa sejam empresas que pertencem a outras empresas. O Juventus, de Turim, faz parte, como a Fiat, do grupo Agnelli. O Milan integra a constelação de trezentas empresas do grupo Berlusconi. O Parma é da Parmalat. O Sampdoria, do grupo petroleiro Mantovani. O Fiorentina, do produtor de cinema Cecchi Gori. O Olympique de Marselha foi lançado ao primeiro plano do futebol europeu quando se transformou numa das empresas de Bernard Tapie, até que um escândalo provocado por um suborno arruinou o empresário de êxito.

O Paris Saint-Germain pertence ao Canal Plus da Televisão. A Peugeot, sponsor do Sochaux, é também dona de seu estádio. A Philips é a dona do time holandês PSV Eindhoven. Se chamam Bayer os dois clubes da primeira divisão alemã que a empresa financia: o Bayer Leverkusen e o Bayer Uerdingen. O inventor e dono dos computadores Astrad é também proprietário do time britânico Tottenham Hotspur, cujas ações são cotadas na bolsa, e o Blackburn Rover pertence ao grupo Walker. No Japão, onde o futebol profissional tem pouco tempo de vida, as principais empresas fundaram times e contrataram astros internacionais, a partir da certeza de que o futebol é um idioma universal que pode contribuir para a projeção de seus negócios no mundo inteiro. A empresa elétrica Furukawa fundou o Jeff United de Ichihara e contratou o astro alemão Pierre Littbarski e os tchecos Frantisek e Pavel. A Toyota criou o Grampus de Nagoya, que contou em suas fileiras com o artilheiro inglês Gary Lineker. O veterano mas sempre brilhante Zico jogou no Kashima, que pertence ao grupo industrial e financeiro Sumitomo. As empresas Mazda, Mitsubishi, Nissan, Panasonic e Japan Airlines também têm seus próprios times de futebol.

O time pode perder dinheiro, mas este detalhe carece de importância se propicia boa imagem à constelação de negócios que integra. Por isso, a propriedade não é secreta: o futebol serve à publicidade das empresas e no mundo não existe um instrumento de maior alcance popular para as relações públicas. Quando Silvio Berlusconi comprou o Milan, que estava em bancarrota, iniciou sua nova era desenvolvendo toda a coreografia de um grande lançamento publicitário. Numa tarde de 1987, os onze jogadores do Milan desceram lentamente de um helicóptero no centro do estádio, enquanto nos alto-falantes cavalgavamas Walkirias de Wagner. Bernard Tapie, outro especialista em seu próprio protagonismo, costumava celebrar as vitórias do Olympique com grandes festas, fulgurantes de fogos artificiais e raios laser, onde trepidavam as melhores bandas de rock.

O futebol, fonte de emoções populares, gera fama e poder. Os clubes que têm certa autonomia, e que não dependem diretamente de outras empresas, são habitualmente dirigidos por opacos homens de negócios e políticos de segunda que utilizam o futebol como uma catapulta de prestígio para lançar-se ao primeiro plano da popularidade. Há, também, raros casos inversos: homens que põem sua bem merecida fama a serviço do futebol, como o cantor inglês Elton John, que foi presidente do Watford, o time de seus amores, ou o diretor de cinema Francisco Lombardi, que preside o Sporting Cristal do Peru.


Trecho do livro 'Futebol ao sol e a sombra', de Eduardo Galeano

sábado, 2 de maio de 2015

Jornalistas promovem ato público contra perseguição à categoria no Paraná

Caminhada do Primeiro de Maio em Curitiba [foto: Manoel Ramires]
Neste domingo, 3 de maio, data que marca a comemoração do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, jornalistas paranaenses farão uma manifestação pública em Curitiba em defesa da categoria que vem sofrendo com perseguições e ameaças pelo Estado. O ato, organizado pelo Sindijor-PR (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná) e pelo Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná, acontecerá na Feira do Largo da Ordem, a partir das 10 horas.

Na oportunidade será lançada a campanha "BASTA: Chega de perseguição à jornalistas". Os trabalhadores irão vestir preto em luto e repúdio às tentativas de cerceamento o livre exercício profissional. Serão distribuídos panfletos a população e camisetas à categoria.


"A liberdade de imprensa é um direito dos jornalistas de fazer circular livremente as informações, um pressuposto para garantir a democracia. O contrário dela é a censura que limita o poder de ação da imprensa de acordo com seus interesses particulares", comenta Guilherme Carvalho, presidente do Sindijor-PR.


Nesta sexta-feira, 1º de maio, jornalistas também foram as ruas e participaram das manifestações em defesa dos trabalhadores, somando-se na luta dos servidores estaduais contra agressões e perseguições. Eles se juntaram aos servidores na caminhada e no ato no Centro Cívico.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Crônica: Estádios e lutas populares

Assembleia dos educadores na Vila Capanema [foto: Joka Madruga]

* Por Manoel Ramires

Atualmente o Paraná Clube é considerado o primo pobre dos clubes da capital paranaense, atrás de Atlético Paranaense e Coritiba. Mas nem sempre foi assim. Sendo resultado da fusão do Pinheiros e Colorado, que também vieram de outra fusões, o time foi seis vezes campeão estadual em dez anos. Possuía a maior sede social e seus frequentadores pertenciam à elite curitibana. No entanto, essa história foi se diluindo e o time de futebol atravessando más fases, estando há sete anos na Série B do futebol nacional e correndo o risco de fechar no fim do ano, segundo um diretor.

Seria um final trágico para o tricolor da Vila Capanema, cujo estádio, Durival Britto e Silva, que era superintendente da Rede de Viação Paraná-Santa Catarina, foi uma doação para o time de futebol formado por seus funcionários, em 1947. Contudo, uma nova áurea pode ter atingido o estádio nesta data: 4 de março de 2015. Neste dia, cerca de 20 mil professores rejeitaram a proposta governamental e decidiram continuar greve contra atrasos salariais e a tentativa do governador Carlos Alberto Richa de se apropriar da Previdência dos trabalhadores.

Agora, a Vila Capanema se une a seleta história de estádios de futebol que foram utilizados a favor da luta dos trabalhadores, na luta de classes. Um deles foi São Januário, do Vasco da Gama, na década de 1940. O Gigante da Colina abrigou as festividades do 1º de Maio em 1941, 42, 43, 45 e 51, promovidas por Getúlio Vargas. Foi neste estádio, por exemplo, que foram anunciadas a criação do salário mínimo e da Justiça do Trabalho. Com média de público de 40 mil pessoas, ocorriam discursos e partidas de futebol, inclusive de times sindicais, como em 1945. Cabe destacar que o Vasco da Gama foi o primeiro clube a permitir negros no campo futebol (honra disputada com Bangu e Ponte Preta na década de 1920).

Se o uso político de estádios de futebol por Getúlio Vargas era considerado positivo para sua imagem na capital da República, Rio de Janeiro, o mesmo não ocorria em São Paulo. O estádio Paulo Machado de Carvalho foi inaugurado em 27 de abril de 1940 e Vargas recebido por enorme vaia dos paulistas. Eles estavam insatisfeitos com o fracasso do golpe dado na chamada Revolução Constitucionalista de 1932. Por outro lado, esse mesmo Pacaembu abrigou evento das centrais sindicais em 2011 e em defesa da pauta dos trabalhadores.

Outro estádio emblemático da classe trabalhadora é o 1º de Maio, em São Bernardo do Campo. Era período da Ditadura Militar e os metalúrgicos já haviam realizados greves em 1978 e 1979. Nessa época, como registra o site ABC de Luta, as greves e as manifestações públicas contra a alta dos preços cresciam cada vez mais. Nesse contexto, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, em greve desde o dia 1º de abril (90% da categoria paralisada), com a diretoria cassada e sob a proteção da Igreja, convoca o 1º de Maio para o Estádio da Vila Euclides, sob as bandeiras da “liberdade e autonomia sindical, direito de greve, garantia de emprego, salário mínimo nacional real e unificado, contra a carestia”. Foi esse movimento, inclusive que fundou o Partido dos Trabalhadores e promoveu o sindicalista Luís Inácio Lula da Silva, mais tarde se tornando presidente da República, em 2002.

Perversidade

Os estádios de futebol também foram utilizados contra a luta dos trabalhadores e dos defensores da democracia. Um desses casos ocorreu na Ditadura Militar chilena de Augusto Pinochet (1973). O Estádio Nacional Julio Martínez Prádanos, mais conhecido como Estádio Nacional, serviu de cadeia para cerca de 40 mil presos políticos. No local, os oposicionistas eram torturados e mortos, como o jornalista norte americano Charles Horman (ver filme Missing, de Costa-Gavras) e o artista e músico Víctor Lidio Jara Martínez, que foi assassinado no Estádio do Chile e seu corpo jogado em um matagal, conforme revela a Comissão da Verdade e Reconciliação do Chile, em 1990.

Recomeço

Embora a função social dos estádios não seja abrigar assembleias sindicais, o seu clima se confunde muito com a luta dos trabalhadores. Pois há disputa por uma pauta, por um gol, por uma agenda, por uma vitória. Alegrias e emoções, decepções e agonias se misturam. Há também uma grande diferença e uma grande consciência. O antagonismo é de que o jogo é jogado nas arquibancadas e não no gramado e a semelhança é sobre a imprevisibilidade do resultado. É isso que apaixona no futebol e na greve.

* Manoel Ramires é jornalista e editor no Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Pela humanização do parto e da saúde!

Grupo realizou ato no calçadão central de Cascavel
Mães, pais, gestantes, profissionais de saúde e ativistas promoveram neste sábado (07/02), em Cascavel, uma mobilização em defesa do Parto Humanizado. Com faixas, cartazes e panfletos, o grupo buscou chamar a atenção para questões como o crescimento da violência obstetrícia e o alto número de cesarianas no país.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam que apenas 15% dos partos sejam realizados por cesáreas. Mas, no Brasil, o “campeão mundial no procedimento”, o percentual chega a 84%, no sistema privado de saúde e 40% no SUS (Sistema Único de Saúde).

A desumanização da saúde pública, a desinformação e preconceito ainda são barreiras a serem superadas para que esse quadro seja alterado. É o que explica Marieli Araújo Marcioli, coordenadora do Gesta Cascavel – Grupo de Apoio à Gestante e ao Parto Ativo. “Ao longo das últimas décadas a mulher deixou de ser a protagonista do parto, sendo pouco encorajada a enfrentar um processo que é natural”, comenta.

O parto de uma gestação de baixo risco pode ser encarado como algo natural como a própria 
concepção. “O corpo da mulher está fisicamente preparado para esse procedimento humanizado. Infelizmente se hospitalizou o parto, tirando das mãos da mulher esse protagonismo e passando ele para os médicos”, destaca Marieli.


Para a coordenadora do Gesta Cascavel, esse primeiro ato surtiu o resultado esperado. “Obviamente que essa é apenas uma primeira iniciativa perto de tudo que ainda precisa acontecer. Mas acho que cumprimos o papel de levar maior informação e dar viabilidade a essa bandeira”, afirma Marieli, completando que o grupo buscou conscientizar pelos direitos das mulheres e crianças diante do parto e um alerta aos casos de violência obstétrica que inclui maus tratos e até mesmo mutilações.

O vereador Paulo Porto (PCdoB), um dos apoiadores do ato, destacou que é ainda há muita desinformação sobre o tema e que é preciso levar esse debate para a esfera pública. “Precisamos pensar políticas públicas que caminhem nesse sentido de humanizar nossa saúde”. Para Porto, um primeiro passo foi dado em Cascavel com o início da construção da nova ala materna do HUOP (Hospital Universitário do Oeste do Paraná), que terá uma estrutura preparada para atender o parto humanizado.

Em janeiro, a Agência Nacional de Saúde divulgou as novas regras para a realização de partos no Brasil. O objetivo da ANS e do Ministério da Saúde é estimular a realização dos partos normais.

Sobre o parto humanizado

* Ter um acompanhante da sua escolha antes, durante e depois do parto (Lei 11.108/2005);
* Ser orientada sobre o trabalho de parto com direito de: alimentar-se, caminhar, tomar banho quente, receber massagens, fazer exercícios na bola e no cavalinho;
* Pode escolher a posição que desejar parir: semi-sentada, deitada de lado, de quatro ou de cócoras junto com seu acompanhante, assistida por médico, enfermeira obstetra ou doula;
* O bebê deve ser colocado no colo da mãe logo após o nascimento, antes do cordão umbilical e antes de qualquer procedimento;
* A amamentação deve ser iniciada ainda na sala de parto, logo nos primeiros 30 minutos após o nascimento;
* Sem corte na vagina (episiotomia) a recuperação pós-parto se torna mais rápida, segura e mais confortável;
* Com o parto natural as complicações são menos freqüentes e o tempo de internação e recuperação é menor.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Vitória dos jornalistas contra a truculência e mentira

* Hamilton Octavio de Souza

Nesta segunda-feira, dia 12 de janeiro, a categoria dos jornalistas conseguiu uma importante vitória na defesa dos direitos dos trabalhadores, da verdade e da dignidade da profissão. Trata-se do julgamento do primeiro processo movido por ex-jornalistas da revista Caros Amigos após a violenta demissão ocorrida em 11 de março de 2013, quando toda a equipe foi sumariamente colocada na rua por reivindicar o cumprimento da legislação trabalhista e protestar contra a ameaça de cortes (redução de postos de trabalho) na Redação.

Em audiência na 61ª Vara da Justiça do Trabalho, o juiz André Eduardo Dorster Araújo – após os depoimentos, acareação entre as partes e ameaça de prisão das testemunhas que faltaram com a verdade em seus depoimentos – condenou a Editora Casa Amarela ao pagamento de uma indenização de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) para a jornalista Débora Prado de Oliveira, que foi repórter e editora da revista Caros Amigos entre 2010 e 2013.

Nos depoimentos da empresa, o proprietário Wagner Nabuco e duas funcionárias administrativas declararam que a jornalista não passava de simples free-lancer, não tinha vínculo empregatício com a empresa, ganhava R$ 190,00 por página de matéria, não tinha horário fixo de trabalho e comparecia à Redação apenas “dois dias por mês”. Tais mentiras, contraditadas pela própria Débora Prado e pelos depoimentos dos jornalistas Hamilton Octavio de Souza e Cecília Luedemann, provocaram uma situação rara no Fórum.

O juiz, visivelmente irritado com as mentiras patronais, interrompeu a sessão e chamou as quatro testemunhas para uma conversa reservada em outra sala: ele insistiu que havia contradição evidente, chegou a oferecer uma oportunidade de retratação a quem estava mentindo, mas acabou por determinar que as testemunhas da empresa e as testemunhas da jornalista fossem encaminhados à Polícia Federal para abertura de inquérito com o objetivo de apurar a verdade dos fatos.

Em seguida, homens da Polícia Judiciária Federal levaram os quatro para a sala da segurança do Fórum, onde permaneceram durante um bom tempo, enquanto se providenciava viaturas para o transporte das testemunhas. As funcionárias da Editora Casa Amarela ficaram numa situação realmente constrangedora, obrigadas a uma declaração falsa imposta pelo dono da empresa. Uma delas, diante dos policiais do Judiciário, chegou a desabafar: “Eles se desentendem lá em cima e nós pagamos o pato”. Não era a mesma a situação das testemunhas da jornalista, que tinham prestado declarações corretas e verídicas.

Como a decisão do juiz surpreendeu a todos, em especial a bancada empresarial (advogados e testemunhas), o dono da editora, visivelmente contrariado, pediu a seu advogado para propor acordo com a reclamante, com imediata negociação entre as partes. Após algum tempo de conversa, com proposta e contraproposta, a jornalista Débora Prado concordou com a indenização oferecida pela empresa, desde que os depoimentos dados constassem da ata da audiência, já que revelam tanto a manobra safada da empresa quanto a conduta sincera dos jornalistas.

Ficou evidenciado que o dono da Editora Casa Amarela, Wagner Nabuco, e as duas funcionárias indicadas para testemunhar pela empresa, mentiram escandalosamente perante o Poder Judiciário, inventaram uma versão insustentável, fictícia, totalmente improvável, sem qualquer base na realidade cotidiana de uma Redação – que produzia matérias para o site, a edição mensal da Caros Amigos e para as demais edições especiais feitas entre 2009 e 2013. Tentaram também desqualificar os depoimentos dos jornalistas, mas foram prontamente desmascarados.

Tão vergonhoso como mentir, querer enganar a Justiça do Trabalho e levar vantagem com a exploração de trabalhadores, é o fato do empresário, que vive do lucro, tentar justificar seus desmandos e truculências com a desculpa de que se trata de um projeto empresarial de “esquerda”. Mais vergonhoso ainda é ver jornalistas e intelectuais que se dizem de esquerda dar apoio para uma editora privada que não é entidade coletiva e nem é vinculada a nenhuma cooperativa de trabalhadores ou movimento social, sem o devido questionamento dessa atuação típica da direita, que fere os mais elementares valores da ética e dos direitos humanos.

Pelo menos mais três processos contra a Editora Casa Amarela estão em andamento. Até agora a verdade está com os jornalistas demitidos da Caros Amigos em 2013. A vitória é da categoria, graças à coragem daqueles que são se dobraram aos interesses e ameaças patronais.

Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor. Foi editor-chefe da revista Caros Amigos de fevereiro de 2009 a março de 2013.