segunda-feira, 8 de julho de 2013

Senado presta homenagem a Carlos Marighella

O momento é de recuperação da memória daqueles personagens que a ditadura militar fez questão de eliminar da história, do restabelecimento da verdade e a busca da justiça com aqueles que lutaram contra uma página infeliz de nossa história. Carlos Marighella (1911-1969) foi um desses bravos que a histografia oficial – aquela contada nos livros didáticos – fez questão de apagar ou de transformar em vilão.

Sessão solene no Senado [foto: Pedro França]
Líder da Ação Libertadora Nacional (ALN), ex-militante e deputado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), Marighella foi homenageado nesta segunda-feira (08/07) em sessão solene no Senado brasileiro. A homenagem foi uma iniciativa do senador João Capiberibe (PSB-AP), que também integrou a organização armada fundada por Marighella que lutou contra o regime instaurado em 1964 no país. A cerimônia contou com a presença do advogado Carlos Augusto Marighella, filho do guerrilheiro. Emocionado, ele lembrou momentos difíceis. "Passei por diversos constrangimentos como o de ser expulso de escola por ser filho de Marighella, mas o mais terrível constrangimento é ter seu pai assassinado daquele modo. Meu pai era decente e o crime cometido com aqueles requintes é sempre chocante para um filho".

Durante o evento no Senado, também foi lançado o livro Rádio Libertadora, a palavra de Carlos Marighella, que relata as facetas do político, do guerrilheiro e do poeta brasileiro. Marighella criou a Rádio Libertadora como alternativa à censura imposta pelos militares contra a imprensa. Gravações feitas pelo próprio Marighella eram repassadas às rádios ou veiculadas em auto-falantes, até hoje preservadas pelo Arquivo Histórico do Movimento Operário Brasileiro (ASMOB), foram transcritas e reunidas no livro que faz parte do Projeto Marcas da Memória, da Comissão de Anistia. Os discursos transcritos na obra foram gravados por Marighella nas sessões de abril a agosto de 1969, na Rádio Libertadora.

O líder da ALN foi deputado federal pelo Estado da Bahia, pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) na Constituinte de 1946. Foi cassado pela ditadura em 1947. Antes, chegou a ser preso nos anos de 1932, 1936 e 1937. Foi assassinado em 4 de novembro 1969, numa emboscada feita por agentes do DOPS em São Paulo.

Em novembro do ano passado, o governo brasileiro, por meio da Comissão da Anistia, Carlos Marighella foi anistiado post mortem, depois do pedido feito pelo filho e esposa do guerrilheiro – que não chegaram a pedir reparação econômica. O requerimento dos familiares foi enquadrado na Lei 10.559/02. Cerca de 150 volumes de processo arquivados no Supremo Tribunal Militar (STM) comprovaram a perseguição, além do processo nº 202/96 da Comissão de Mortos e Desaparecidos e certidão de 106 páginas enviadas pelo Arquivo Nacional.

* Nota do editor: Em um Senado cada vez mais conservador, corporativista e com viés classista, é bom ver algumas fagulhas progressistas como essa justa homenagem a Carlos Marighella, “mártir ou mito, um maldito sonhador, um novo messias”, como versa a música a composição do Mano Brown, na música 'Mil faces de um homem leal', que também homenageia esse herói nacional.

Com informações da Agência Brasil