quinta-feira, 19 de maio de 2011

Tarso de Castro: o sedutor subversivo

O "guerrilheiro" Tarso e Candice
Uma das coisas que me deixa irritado é economia de opiniões. Para que poupar se a fonte é infinita. Se os posicionamentos farão desafetos ou admiradores é consequência. Assim pensava um jornalista que marcou história nas décadas de 60 e 70 no Brasil do AI-5.

Em 20 de maio de 1991, Tarso de Castro partiu para tomar seu “drinque no inferno”. Gaúcho de coração e carioca por vocação, foi um dos criadores de O Pasquim, jornal que fez história ao ser concebido na égide dos anos de chumbo da ditadura milico-empresarial. É de Tarso, o DNA sarcástico e debochado do semanário. 

Polêmico, brigão e subversivo, Tarso era daqueles "malditos" que fechava bares, alugava carros e aprontava em hotéis de luxo, ao melhor estilo Gonzo. Comprou brigas homéricas pelas redações que passou – com diretores e editores – mas nem mesmo os amigos mais próximos escapavam de seu temperamento tempestuoso.   

Um "enigma" sempre foi uma pulga atrás das orelhas de seus camaradas: o charme do maldito. Mesmo desajeitado, feio, desleixado consigo mesmo e sem onde ter para cair morto, tinha em seu currículo um rol de casos com belas mulheres. De uma dessas aventuras, uma história ao "estilo Tarso" em seu namoro com a atriz estadunidense Candice Bergen. 

O jornalista adorava exibir uma fotografia pessoal ao lado do revolucionário Che Guevara. Já a atriz se vangloriava de “ter ficado com um guerrilheiro que participou da revolução cubana”. A pobrezinha – que dizem as más línguas – fazia mais sucesso pela beleza do que outro atributo, caiu no "conto do malandro". A foto foi tirada por Tarso na condição de entrevistador quando o argentino esteve em visita ao Brasil. 

Após seus 30 anos ininterruptos de álcool e sua oitava hemorragia interna, Tarso foi tomar seu scotch em outro universo. O dia: 20 de maio de 1991. Uma morte que não surpreendeu os mais próximos, pois ele mesmo pregava que “após os 40 anos a vida não teria mais graça”. Viveu nove a mais do que o limite. 

Seu corpo foi transladado para Passo Fundo, sua cidade natal. Lá um personagem símbolo dos anos de chumbo lhe esperava: Romeu Tuma, então superintendente da Polícia Federal, que disparou: “Restos mortais de um subversivo boca suja”. 

Tuma tinha razão, pois Tarso subverteu o jornalismo. Nas palavras de Otto Lara Resende “Tarso tinha defeitos visíveis e qualidades nem sempre visíveis, sobretudo para quem o via de longe, ou o sofria de perto”.

"Devo ter todos os defeitos possíveis, mas faço questão de exercer minhas virtudes"
Tarso de Castro

2 comentários:

  1. Interessante figura.
    Lembro que houve uma nova empreitada com o título 'Pasquim' nos anos 2000 e pouco... Lembro que li alguma coisa, mas creio que não ficou tanto tempo nas bancas não... Deve ter tido algumas edições...

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