quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Os "heróis" do Grande Irmão

Ilustração: Leandro Kemp

A multidão se agita para o tradicional espetáculo que se inicia. A fórmula deu certo, pois sai ano e entra ano, promove uma "comoção" da multidão que, atualizada, já puxou a "ficha corrida" de todas as feras que serão confinadas numa jaula de luxo em busca de um milhão e meio de verdinhas.

Como grande protagonista e "olho onipresente" está o mesmo personagem há exatos treze anos. Jornalista conceituado que todo ano assume o papel de animador de auditório ou domador de leões no circo onde as feras se digladiam para se tornarem a nova celebridade instantânea, que cairá nas graças da multidão de anestesiados a cada paredão.

Assim como em 1984, de George Orwell, no pano de fundo há o olho totalitário que tudo vê. Nosso Grande Irmão promove uma lavagem cerebral onde a vítima desse programa de condicionamento não se trata do Sr. Winston Smith, mas sim os milhões de paralisados pelo festival de intrigas, individualismo, falsos companheirismos, fofocas e corpos torneados.

Celebridades instantâneas são cada vez mais constantes na televisão trazendo o futuro para o presente e antecipando a previsão de Andy Warhol de que "no futuro todo mundo terá seus 15 minutos de fama". O salto do anonimato para o estrelato move esses "abnegados" que comovem a multidão anestesiada ao derramarem lágrimas frente às câmeras, falando do "estresse" de ficarem enclausurados longe de suas famílias na prisão de luxo das grandes festas e paqueras.

Como de praxe, as chamadas "minorias" precisam ser "representadas"; não pode faltar um afrodescendente e aquela pessoa que decidiu escolher amar aquele do mesmo sexo. Por vezes são chamados senhores (as) de meia idade – que ficarão com os papéis de paizões e mãezonas – para juntar-se a figuras estereotipadas, como o pseudointelectual e os saradões e gostosonas de pouco conteúdo.

Voltando ao animador de palco, que há mais de uma década repete frases e bordões, fica com ele o papel de comandar a massa vislumbrada com o mundo divino da televisão, que tem em fórmulas como do Grande Irmão a salvação da lavoura - sem trocadilho com nenhuma Fazenda - nessa verdadeira "guerra santa" que se tornou a busca pelos picos de audiência.

Ao mesmo instante em que se repete a mesma fórmula ininterruptamente há treze anos, nossa midiática suprema corte (que num passe de mágica se tornou inquestionável) tenta tornar ineficaz a classificação indicativa para a programação de televisão, alegando que proteger crianças de baixarias televisivas fere a chamada "liberdade de expressão".

Esse cenário de condicionamento, fórmulas decadentes que se repetem ano após ano coincide com a ausência total de uma regulação mínima no setor das concessões públicas das telecomunicações , cada vez mais distante da democratização e da pluralidade; cada vez mais necessitada de multidões anestesiadas que adotam celebridades instantâneas como "heróis" num país onde, infelizmente, contrariando Bertold Bretch, ainda se necessitam heróis, sejam eles de togas ou de sungas.