sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Capote: o excêntrico "novo jornalista"

Cada vez mais cultivado em espaços alternativos e distante da gelada mídia tradicional, o gênero jornalismo literário teve sua explosão nas décadas de 1960 e 1970. Esse fenômeno que uniu jornalismo e literatura ficou conhecido nos Estados Unidos como 'New Journalism'.

O gênero deu um 'chega pra lá' nas tradicionais técnicas e chavões jornalísticos, entre eles o maldito (no mau sentido) lead, ou seja, as maçantes perguntas: "o quê, quem, quando, onde como e por quê". Nomes como Truman Capote, Tom Wolfe, Norman Mailer e o maldito (no bom sentido) Hunter Thompson – que concebeu o Gonzo Jornalismo – foram os precursores dessa nova onda que iria além dos limites da velha mídia.  

Um desses 'malditos' estaria soprando velinhas nessa sexta-feira, dia 30, oportunidade em que vale a pena lembrar de uma das maiores obras do jornalismo literário que transformou o caos da época em obras primas das grandes reportagens.

Truman Capote completaria 86 anos, enquanto 'A Sangue Frio', considerado sua maior obra, foi escrita há 44. O livro é um trabalho de pesquisa do autor sobre o assassinato de uma família de fazendeiros de Garden City, na cidade de Kansas. O norte-americano fez uma investigação sobre os Clutters, que foram mortos de forma brutal no ano de 1959.  

Capote levou cinco anos para concluir a obra. O jornalista conversou com moradores e pessoas próximas a família de fazendeiros, além da dupla de assassinos de quem ficou bem próximo. Perry Smith e Dick Hickock, autores do crime, foram condenados a pena de morte.

Em 2005 foi lançado o filme biográfico 'Capote', que mostra a pesquisa do escritor nas telonas. O filme rendeu Oscar ao ator Philip Seymour Hoffman – que interpretou o escritor.

Além de 'A Sangue Frio' sugiro aos sitiantes 'Súplicas atendidas'. O livro foi originalmente publicado em três capítulos na revista norte-americana Esquire. Trata-se da história de um escritor-massagista e suas aventuras no jet-set (expressão que colunistas de fofocas se dirigiam a determinado grupo social com poder aquisitivo pra viajar frequentemente de avião a jato).

Apesar de 'fictícia', a obra causou polêmica, pois figuras conhecidas da alta sociedade norte-americana se enxergaram nas personagens do livro. Vale a pena conferir estas e outras obras do "novo jornalismo".

terça-feira, 27 de setembro de 2011

#BlogMundoFoz: Uni-vos por uma comunicação plural

Comunicação popular, marco regulatório da mídia, expansão da banda larga, contrariedade a qualquer tipo de censura na internet, enfim, temas que buscam uma informação verdadeiramente plural e democrática e que serão debatidos pela blogosfera no 1º Encontro Mundial de Blogueiros Progressistas, em Foz do Iguaçu.

São três dias de evento na fronteira (de 27 a 29 de outubro), tendo como tema "O papel da blogosfera na construção da democracia". A organização é de responsabilidade do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Nomes de peso da comunicação já estão confirmados, entre eles o semiólogo galego Ignácio Ramonet, criador do Le Monde Diplomatique, um dos principais estudiosos da comunicação na atualidade.

Líder de movimentos antiglobalização e autor de vários livros, Ramonet propôs por meio do Observatório Internacional dos Meios de Comunicação, a configuração de um 'quinto poder'. Essa concepção surge da expressão 'quarto poder', cunhada aos meios de comunicação. Para Ramonet, esse "quinto poder teria a função de denunciar o superpoder dos meios de comunicação, dos grandes meios midiáticos, cúmplices e difusores da irrefreável globalização liberal". Porém ressalta que esse 'quinto poder' não pode estar atrelado ao Estado, elogiar governos ou criticar meios que não estariam de acordo com o governo vigente, não agindo como um meio 'chapa-branca'.

Kristinn Hrafnsson, um dos porta-vozes do Wikileaks, também estará em Foz do Iguaçu. Criado em 2006 na Suécia, país de origem do editor Julian Assange, o Wikileaks é uma das maiores contribuições para liberdade de expressão e transparência dos últimos tempos.  

O debate durante o #BlogMundoFoz deverá esquentar com a presença do ministro das Comunicações Paulo Bernardo. Esse será cobrado e não poderá fugir de debates importantes como um novo marco regulatório para as comunicações - que regule a conduta dos meios de comunicação - o que já acontece em vários países do chamado 'primeiro mundo', mas que por aqui - desde que foi rascunhado pelo ex-ministro Franklin Martins - ainda não saiu da gaveta. Por trás dessa demora para se discutir o tema, o lobby de grandes corporações da mídia que insistem em tratar regulação como 'censura' (sic). 

Com a blogosfera em peso, Paulo Bernardo deverá também dar esclarecimentos sobre a expansão da banda larga para o alcance de usuários de baixa renda. O PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) já rende críticas, visto que deverá ficar por conta das operadoras privadas e não da Telebrás. Segundo o ministro, "internet sob regime público seria inviável neste momento, devido a questões orçamentárias". 

Os blogs – além de propiciar um maior número de informações e contrapontos de ideias – são benéficos ao próprio jornalismo profissional que precisará se reinventar. Na medida em que a mídia profissional se depara com um número de cidadãos comprometidos com uma comunicação popular, ela também terá (cedo ou tarde) que se voltar a uma comunicação que seja realmente plural. 

É na blogosfera que vemos emergir o fenômeno dos 'jornalistas cidadãos', aquele que apesar de não ser um 'profissional' da comunicação consegue colher e disseminar informações de relevância à população.

Em Cascavel, essa rede vem sendo criada e ampliada por meio dos blogs políticos. Temos exemplos do sítio do jornalista Fernando Maleski e do recém criado Ponto de Observação, com foco na transparência pública. Páginas que buscam a contraposição de opiniões em assuntos de relevância locais por meio da palavra livre, como do jornalista Jefferson Lobo, além de páginas sobre cultura e variedades como o Bastidores da Arte ou voltadas aos esportes como Magela na Área. Em Foz, temos o exemplo do Boca Maldita, do Ceará News, entre outros. Enfim, o Oeste do Paraná, que sedia o evento, também vem contribuindo para essa expansão da blogosfera.

Que essa rede aumente ainda mais, pois na medida que esses espaços crescem, cresce também a responsabilidade da mídia tradicional. Enquanto isso, os blogueiros, devem tomar o cuidado de se manterem independentes - não estarem vinculados a grupos políticos (tanto de campos progressistas quanto de campos conservadores) - para não caírem no erro de editarem instrumentos 'chapa-branca'.  

A internet, em especial o fenômeno dos blogs, contribui para a construção coletiva da informação. São milhares de pessoas que por meio da posse dessas informações e conhecimento contribuem para furar o cerco das práticas perniciosas da velha mídia tradicional, buscando assim, uma comunicação como ela realmente deve ser: horizontal, plural e democrática. Portanto, blogueiros do mundo uni-vos!


Na foto acima, Ignácio Ramonet e subcomandante Marcos, líder do Movimento Zapatista do México. Como dica aos sitiantes: "Marcos: A dignidade rebelde", lançado no Brasil em 2001 pela extinta Campo das Letras. O livro reúne uma série de conversas do jornalista com esse personagem lendário das selvas de Chiapas.  

Mais informações sobre o #BlogMundoFoz neste link

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ato pede o reconhecimento do Estado Palestino Já!

Ato em Foz será realizado na Praça do Mitre
Um povo que há mais de seis décadas vive sob ocupação israelense e que antes disso sofreu massacres e expulsões, além de verem suas moradias e cidades destruídas ou tomadas por grupos paramilitares sionistas. Há 64 anos a criação do Estado da Palestina vem sendo postergada e o povo árabe vem sofrendo com o terrorismo e o apartheid praticado pelo Estado de Israel.

Essa busca por soberania do povo palestino terá um novo ato nesta terça-feira, dia 20, com uma manifestação mundial pelo reconhecimento do Estado Palestino. O ato acontecerá simultaneamente em 142 países e a região Oeste do Paraná também se une à causa. Moradores da cidade de Foz do Iguaçu farão uma manifestação na Praça Mitre, a partir das 17 horas.

Os organizadores do ato em Foz esperam que os simpatizantes da causa palestina se unam a comunidade árabe da fronteira e participem da manifestação, afinal, essa luta histórica já ultrapassou os limites de questão de soberania nacional para se transformar numa luta humanitária. Além de Foz do Iguaçu, as concentrações no Brasil ocorrerão com mais vigor nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. 

A mobilização mundial antecede a abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, na quarta-feira (21) e a defesa pela criação do Estado Palestina pelo presidente Mahmoud Abbas, na sexta-feira, dia 23. A pressão feita pelos aliados é para tentar demover os EUA que já anteciparam o veto contra o pedido da criação do estado, fragmentado em dois pedaços. Um deles dominado por Israel que desde então exemplifica o maior campo de concentração do mundo a céu aberto.

O Estado da Palestina deveria ser criado há 64 anos, junto com a criação do Estado de Israel pela ONU, porém até hoje, os palestinos são impedidos de ter uma nação livre e soberana. Os organizadores do ato afirmam que o reconhecimento do Estado Palestino é correção de uma injustiça histórica. Abaixo alguns pedidos do povo palestino. 

* a existência e reconhecimento do Estado da Palestina é um ato de justiça negado por mais de seis décadas;

* a Humanidade exige respeito ao direito do povo palestino a uma vida digna e soberana;

* os palestinos exigem a retirada das tropas de ocupação de todos os territórios palestinos e o fim dos crimes e agressões coloniais de Israel contra a Palestina;

* pelo fim dos assentamentos judaicos ilegais em terras dos palestinos;

* pela Libertação Já de todos os 10 mil presos políticos palestinos nas masmorras israelenses;

* pelo fim do Muro do Apartheid construído por Israel em terras assaltadas aos palestinos;

* pelo Estado da Palestina Já e agora aprovado pela ONU;

* os palestinos defendem a Paz Justa entre Israel e Palestina Já e agora;

* pelo fim da intervenção imperial norte-americana – beligerante e criminosa – na região.

Recente reportagem do jornal Brasil de Fato expôs denúncia que o governo israelense vem utilizando armas experimentais nos ataques à Faixa de Gaza, com metais tóxicos e cancerígenos, que alem de provocarem mutilações e queimaduras, são capazes de produzir mutações genéticas. A matéria pode ser vista neste link 

Mais informações sobre esse conflito histórico no post Nakba: a Intifada midiática prossegue 

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Literatura: Ode a Candido, prosa com Jesus

Antonio Candido (foto: Wilson Junior/AE)
O Sesc-PR não poderia ter sido mais feliz na escolha do homenageado de sua Semana Literária de 2011. A edição deste ano – realizada entre os dias 12 e 15 de setembro - tem como tema 'Literatura e Sociedade', título que dá nome a um conjunto de artigos publicados em 1965 por Antonio Candido, considerado o maior crítico literário da atualidade no Brasil.

Escritor, sociólogo e militante histórico da esquerda brasileira, Candido é o homenageado da Semana Literária, que tem como objetivo discutir o lugar que a literatura ocupa na atualidade. Em Literatura e Sociedade, o escritor analisa a relação entre as obras e a crítica sociológica, averiguando como a realidade social se transforma em componente da estrutura literária.

Nas palavras de Antonio Candido: "toda obra é autônoma, mas formada por coisas que vieram de fora dela, por influências da sociedade, da ideologia do tempo, do autor... o importante é: quais elementos da realidade social que se transformaram em estrutura estética".
 
A análise de Antonio Candido sobre literatura parte da cultura para a realidade social e volta para cultura e para o texto. Socialista convicto, Antonio Candido destacou em recente entrevista ao jornal Brasil deFato que seu método tem forte influência marxista. "É preciso aproveitar o conhecimento sociológico para ver como isso pode contribuir para conhecer o intimo de uma obra literária", disse o crítico.

Outra característica de Antonio Candido é a clareza das palavras. Apesar de erudito, os textos do autor têm uma linguagem simples. Segundo ele, "o povo tem direito à literatura e entende a literatura. Tem que saber explicar e usar a linguagem normal", diz Candido na mesma entrevista, completando: "Trata-se de respeito pelo próximo, pelo leitor".

Militância política

Sua militância foi iniciada no período em que era aluno do curso de Ciências Sociais da USP (Universidade de São Paulo). Foi fundador da revista Clima, publicação mensal criada por um grupo de orientação anti Estado Novo e contra a ditadura de Vargas e anti fascismo na Europa. Foi um dos criadores da Esquerda Democrática, que futuramente viria a se chamar Partido Socialista Brasileiro. Em meio à ditadura militar, Candido escreveu uma série de artigos críticos ao regime no jornal Opinião. Ajudou na fundação do PT, onde militou até 2002, quando Lula foi eleito. Aos 93 anos, Antonio Candido mantém sua crença no socialismo, doutrina – segundo ele – 'triunfante'.
 
Semana Literária

Voltando a Semana Literária, a combinação cultura em praça pública + Antonio Candido fez com que eu aproveitasse o sol escaldante que beirava os 30 graus Celsius para conferir a atmosfera literária montada pelo Sesc na praça Wilson Joffre, em Cascavel. Enquanto alunos da rede particular acompanhavam uma apresentação do Grupo teatral Auto Peças (de Curitiba) bati um papo com outro Antonio, o de Jesus, um dos fundadores da Academia Cascavelense de Letras (ACL).

Iniciei a prosa me atendo ao homenageado, de quem Jesus disse ser um 'devoto', especialmente pelo "papel de ter destrinchado essa noção de literatura e sociedade enquanto produção cultural". Para Jesus, o 'Antonio homenageado' trabalha a literatura na percepção da ótica e influência do autor, de suas vivências, de sua personalidade, do momento histórico vivenciado. 

Após 'destrincharmos' Antonio Candido, me ative ao Jesus, à ACL e como ele avalia a função da literatura neste século 21, marcado pelas imagens, pela velocidade, o imediatismo e pela era da internet. Antonio de Jesus fez críticas à uma sociedade cada vez mais refém das sintetizações, usando inclusive o jargão jornalístico lead (primeiro parágrafo que busca condensar a informação básica da notícia).

Outro apontamento de Jesus foi sobre a produção literária de nossas universidades. “Temos várias universidades por aqui, mas o que produzimos de literatura nelas? Que grande escritor nasceu de dentro delas?”, questiona. Ele também alfineta os meios de comunicação. "A própria mídia trabalha pra isso. Em Cascavel, nós tínhamos apenas o ALT [antigo suplemento do jornal Gazeta do Paraná], mas que não sobreviveu nessa lógica mercantil da imprensa. Esses espaços são substituídos por cadernos sobre ‘biritas’ e baladas, pagas por casas noturnas".  

Ao final da prosa me atrevi a perguntar à Antonio de Jesus uma questão ao qual Antonio Candido é constantemente abordado em suas entrevistas à imprensa: Se nessa era virtual o livro se extinguirá? A resposta foi similar a de Candido: "Nunca, o apaixonado pelo livro sempre resistirá", profetizou Jesus.

A Semana Literária do SESC em Cascavel será encerrada na quinta-feira, dia 15. A programação completa pode ser conferida no link abaixo:

sábado, 10 de setembro de 2011

O 11 de Setembro não pautado!


Em 2001, o 11 de setembro deixava de ser apenas o dia que antecedia o 12 de setembro para se imortalizar como a data em que a nação mais forte do planeta ficou totalmente fragilizada, após o atentado que matou aproximadamente 3 mil pessoas nas torres gêmeas do World Trade Center. Há uma década, a história – que virou roteiro hollywoodiano – pauta os grandes meios de comunicação, nas linhas redigidas nos jornais, noticiários da televisão e rádio, internet e outras mídias alternativas.

O Sítio também não deixa passar em branco o 11 de setembro, mas antes de chegar ao ponto principal do texto – um ato também praticado por terroristas, mas com um número bem maior de vítimas (calcula-se cerca de 40 mil mortos) – exponho que na minha despretensiosa opinião a tragédia das torres gêmeas me lembra um roteiro específico - não de filme de ação holliwodiana - mas sim do clássico FrankStein, de Mary Shelley, onde a ironia do destino fez com que a criatura se voltasse ao criador. Uma criatura de nome Bin Laden - com estreitas relações com o 'império' - parida com o intuito de combater "o monstro vermelho e seus grandes tentáculos" no Afeganistão durante a época bipolar da Guerra Fria.

Nos últimos dias a mídia hegemônica já tem sobrecarregado os noticiários e seus portais 'oficiais' com o fato de Nova Iorque e consequências na nação refém do medo, mas como este espaço não se pauta pelo Show da Vida midiático, me sinto na obrigação de não deixar passar o 11 de setembro ao qual a maioria dos meios de comunicação prefere não se pautar. Nesta mesma data, no ano de 1973, um golpe civil-militar derrubava o ex-presidente chileno Salvador Allende Gossens em uma ação covarde, onde um estádio de futebol virou prisão e muitos foram mortos, além de exilados, entre eles brasileiros.

Em 11 de setembro de 1973, Salvador Allende fez seu último discurso. Há 38 anos, a nação das abatidas torres gêmeas era uma das protagonistas de um golpe em nossa América contra um governo democrático, eleito sob as forças das camadas populares chilenas.

Primeiro presidente socialista a chegar ao poder por meio de uma eleição direta em um país ocidental, Allende foi responsável pela criação de um novo pensamento em nosso rico continente na busca de uma sociedade onde homens poderiam satisfazer suas necessidades materiais e espirituais sem que isso significasse a exploração do homem pelo homem.   

Ele foi o responsável por abrir o voto aos jovens a partir dos 18 anos, até então cerceados deste direito no Chile, pela construção de um regime onde na base de tudo estava o povo, protagonista e juiz de seu próprio futuro. Quebrou paradigmas com a sociedade chilena machista e conservadora ao buscar colocar no mesmo patamar de condições homens e mulheres, como na questão das equiparações salariais, além de outras questões que vão desde o reconhecimento das empregadas domésticas como trabalhadoras com direitos à uma ampla reforma agrária.

Salvador Allende pregava que "a emancipação do povo passava por suas liberdades políticas, mas principalmente, pela ampliação destas liberdades". Apesar da mídia hegemônica e alguns de seus porta-vozes tentarem provar o contrário – com suas opiniões carregadas de juízo de valores e descontextualização – o governo de Allende, que há 38 anos sofria um golpe covarde das elites, foi legitimamente uma consequência fiel da luta popular na busca das profundas mudanças que aquele país necessitava.

Que o 11 de setembro que há mais de quatro décadas passa despercebido por muitos da nossa América - onde grande parte das pessoas está mais preocupada com a América dos outros - nos sirva para abrir os olhos à esse exemplo de mídia que se cala diante de fatos que remetem a legitima força das camadas populares e a uma sociedade latino-americana verdadeiramente emancipada.

Mas, principalmente, que o exemplo de Allende, responsável por várias medidas de ampliação da rede social e de democratização, aflore num novo desenho de poder popular, construído da base que seja protagonizado por camponeses, indígenas, operários, assalariados urbanos, artistas das mais variadas classes, estudantes, enfim, todos aqueles que sonham com uma sociedade libertária.


* Sobre o 11/09 ocorrido nos EUA sugiro aos sitiantes o livro: Dude, Where is my Country?, de Michael Moore, lançado no Brasil pela W 11 Editores, com o nome “Cara, cadê o meu país?”

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Recordar é viver: desfiles, excluídos e ufanismo

7 de Setembro de 2001 (foto: Fábio Conterno)
Chegamos a mais uma 'Semana da Pátria' que tem no feriado de 7 de Setembro seu grande ápice; uma data tão festiva dessa terra tão querida. Há 17 anos, movimentos sociais, pastorais e setores populares dedicam essa semana ao Grito dos Excluídos. Nessa edição, o lema é "Pela vida grita a Terra...Por direitos, todos nós!", associando a preservação ambiental aos direitos do povo brasileiro.

Em Cascavel não haverá atos referentes ao Grito, diferente de 2010, quando da Campanha pelo Plebiscito do Limite da Propriedade da Terra, porém outra manifestação foi programada para o desfile cívico-militar da Avenida Brasil. Ato protagonizado por outros 'excluídos' – estudantes que recentemente foram impedidos de se pronunciar na Câmara de Vereadores – e que se tornaram uma pedra no sapato do prefeito Edgar Bueno, acusado de casos de corrupção.

Assim como praxe nos tradicionais 'desfiles democráticos', os estudantes não podem marchar como 'soldados'. Esse ato e alguns fantasmas que tem assombrado novamente a política paranaense nos remetem a outro 7 de Setembro do 'velho oeste', quando o Brasil completava 179 anos de sua 'independência' (sic) e o então governador Jaime Lerner tentava a todo custo vender a Copel (Companhia Paranaense de Energia Elétrica). 
 
Como recordar é viver e como alguns ainda tentam ressuscitar o fantasma das privatizações das empresas públicas vale uma lembrança aos 'sitiantes'. Há 10 anos, um grupo de 15 estudantes (entre universitários e secundaristas) foi reprimido de participar do desfile de 7 de Setembro em Cascavel.

Na ocasião, foi tentada (em vão) uma mobilização maior. A concentração foi numa rua paralela a avenida, mesmo sabendo todos que não poderíamos 'marchar'. Esperamos a tropa do Exército passar e, na sequência, partimos numa caminhada que não durou mais que quatro ou cinco quadras. Assim como os manifestantes deste ano, também foi vestido luto e cada um estava com uma faixa na cabeça com o nome de um dos deputados que votaram a favor da venda da Copel na época.

Infelizmente, tínhamos mais deputados vendilhões do que cabeças de manifestantes para faixas: 27 a 15 no placar para eles. Lembro que no meu adorno tinha o dizer: 'Edno Guimarães', um dos entreguistas, então deputado pelo PSL.

Quando se aproximava o palanque das autoridades – que por coincidência tinha Edgar Bueno em seu 1º mandato – eis que as tropas policiais aparecem para impedir a marcha. Mesmo sob as vaias dos populares, o então comandante do 6º BPM, tenente-coronel Antônio Amauri Ferreira de Lima ordenou seus comandados a retirar todos da via sob a justificativa que "estávamos desrespeitando a ordem e tentando manchar a imagem do desfile".

Policiais do Choque, na época RONE, fizeram uma barreira humana distante 100 metros do palanque das autoridades que queríamos chegar: Edgar não era o alvo, o alvo estava distante 500 quilômetros. Ao nos defrontarmos com a barreira da PM, nossa única reação foi deitar no asfalto e permanecer ali até sermos literalmente arrastados para fora da avenida. 

Depois disso tentamos fazer um barulho contra a ação policial, com alguns populares ao nosso lado aplaudindo. Três acabaram detidos e colocados no camburão: o Che, o Zé Ramalho (não o famoso) e o Pitoco (não o do rabo), mas o filho do colega Antonio da Luz.

Mesmo pacífico e amparado no direito constitucional da livre manifestação não conseguimos prosseguir em nosso protesto. Por sorte, o único dano à esse blogueiro foi uma camisa com a estampa do Ernesto rasgada e um policial que passou com a roda de sua motocicleta sob meu pé esquerdo, sem causar maiores estragos.  

Para evitar que voltássemos a avenida, o GOE (Grupo de Operações Especiais) foi chamado para nos intimidar com suas escopetas calibre 12 carregadas com balas de borracha. E lá ficamos, sob os olhos do aparato repressivo até o desfile democrático se encerrar e as autoridades voltarem aos seus lares.

No espetáculo da marcha dos soldados e de uma tropa de mini-patriotas do disciplinado 'exército' de crianças da educação formal não há muito espaço para manifestações. Nada surpreendente se levarmos em conta que a Semana da Pátria foi inspirada no Governo Costa Silva, a herança Moral e Cívica na gestão de Médici e no fato que continuamos engolindo o genocida Duque de Caxias – patrono verde-oliva - como um herói nacional.  

Nessa pátria ainda tão injusta – e hoje tão dependente do 'Deus Mercado' – gritar por independência é berrar junto aos Excluídos, como alguns movimentos sociais e populares fazem ininterruptamente há 17 anos, o resto não passa de espetáculo ufanista.

 Direto do túnel do tempo: alguns recortes sobre o 7 de Setembro de 2001

Arquivo: Jornal Hoje (2001)

Arquivo: Folha de Londrina (2001)
Arquivo: O Paraná (2001)
Arquivo: Gazeta do Paraná (2001)
Arquivo: Gazeta do Paraná (2001)
Arquivo: O Paraná (2001)
Arquivo: Jornal Hoje (2001)

sábado, 3 de setembro de 2011

Uma camêra na mão e Galeano na cabeça

O pequeno Waiki descansa no ombro do pai
"Não importa de onde vim, mas sim onde quero chegar". Essa frase do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, que completou neste sábado 71 anos, descreve muito bem o sentimento de Fillipe Monteiro, 26, que tem como sonho conhecer o autor da citação. Acompanhado de sua família, o jovem de Muriaé - município mineiro de pouco mais de 100 mil habitantes - vem percorrendo vários Estados e países da América do Sul como Bolívia, Peru e Argentina.

Em Cascavel, muitos já devem ter visto e ouvido o trabalho do jovem, mas poucos conhecem seu desejo. Artista de rua, violinista, Fillipe carrega - além do case - uma câmera V-8 e uma 'ideia na cabeça', levando a frente à filosofia do saudoso Glauber Rocha. Junto com sua companheira July e o filho Waiki, (nome do dialeto quéchua que significa 'irmão espiritual'), Fillipe pretende chegar em Montevidéu, capital uruguaia. Sua intenção por lá é conhecer Eduardo Galeno.

Um dos maiores escritores e pensadores da América Latina na atualidade, o uruguaio é personagem central de um trabalho experimental que Fillipe vem realizando. O mineiro vem registrando seu trajeto pelas cidades onde passa com sua família, imagens avulsas e depoimentos de pessoas a respeito de Galeano, de sua obra e seus ideais. "Até o momento tenho duas horas de gravações, em algumas imagens avulsas quero inserir textos do Galeano que tenham relação com aquele momento exposto na imagem", explica.

Ao chegar em Montevidéu, Fillipe Monteiro tentará ter um encontro com Galeano e, se possível, entrevistá-lo para seu projeto. Ele sabe das dificuldades, mas afirma que o que lhe move é sua paixão pela América Latina e o trabalho do uruguaio. "Primeiro quero chegar até ele [Galeano] e mostrar o que fiz até o momento. Tenho o desejo de entrevistá-lo, mas se eu conseguir simplesmente conhecê-lo já estará de bom tamanho", diz Fillipe.

Na opinião do músico, o trabalho de Galeano precisa ser propagado, pois trata-se de uma referência quando o assunto é a nossa América. "Eu acho que o Galeno é um escritor boicotado, inclusive nos espaços acadêmicos. Acho que ele deveria ser leitura obrigatória para estudantes de história, jornalismo, ciências sociais", diz o mineiro que chegou a cursar Jornalismo por alguns meses.

Fillipe conta que após conhecer o trabalho de Galeano passou a entender melhor nosso continente. "Muitos sabem que vários países da América Latina sofreram com ditaduras militares, mas quando você lê Galeano começa a entender que não foram fatos isolados de cada país, começa a entender as conexões entre os golpes e visualizar uma exploração que ainda faz parte da vida de nosso continente", afirma Fillipe, referindo-se especialmente a obra mais conhecida do autor: As veias abertas da América Latina.

"Fiquei sabendo que ele [Eduardo Galeno] passa o verão europeu na Espanha e o verão da América no Uruguai, então iremos ficar aqui pela região até o fim de setembro pelo menos", prevê Fillipe. Depois dessa breve passagem pelo Oeste do Paraná, Fillipe, July e o pequeno Waiki, de 2 anos, seguem o rumo de uma viagem movida por um sonho e uma ideia na cabeça, afinal, o que realmente importa é onde eles querem chegar, já diria o escritor uruguaio.

Galeano completou 71 anos neste sábado (3), enquanto as Veias estão abertas há 40. Além da indicação dessa (‘bíblia pessoal’ deste blogueiro) e outras obras do uruguaio, compartilho abaixo uma entrevista do escritor que faz parte do projeto Sangue Latino, do Canal Brasil, onde o jornalista Eric Nepomuceno entrevista uma série de pensadores e intelectuais latinos.  


"Na América Latina, a liberdade de expressão consiste no direito ao resmungo em algum rádio ou em jornais de escassa circulação" (Eduardo Galeano)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Delega e presidenta para botar ordem na casa

Dona Elza, com tradicional modelito, e o delega Antônio Lopes
Quando eu era 'piá' ficava acordado nas madrugadas de domingo à espera do Corujão para ver o Charles Bronson com sua clássica série Desejo de Matar (Death Wish). O ator – falecido em 2003 - imortalizou o personagem Paul Kersey, um pacato cidadão que após ter a esposa e filha assassinadas por criminosos passou a fazer justiça com as próprias mãos, se tornando uma espécie de 'vigilante noturno' perseguindo bandidos pelas ruas e becos de bairros violentos.

Antes de protagonizar a série, Bronson já fazia sucesso com os clássicos Western (bang-bang), entre eles Sete Homens e um Destino e Era Uma vez no Oeste. Charles Bronson se foi há oito anos, assim como o Corujão com clássicos como Desejo de Matar, The Warriors, entre outros.

Paul Kersey era um cara durão que com frieza colocava ordem na bagunça dos arruaceiros. Antes que pensem que me tornei crítico de enlatados hollywoodianos esclareço que a postagem tem relação com o 'esporte bretão'. Ficou mais confuso ainda, mas vamos aos fatos: assim como as ruas sob olhares do 'vigilante noturno', o Atlético – maior clube de futebol do Paraná - também está uma verdadeira 'zona', vivendo seus dias de caos total.

Para tentar colocar ordem na casa, a diretoria - que há cada dia se mostra mais incompetente e perdida - resolveu trazer de volta um sujeito 'linha dura': o legendário delegado Antônio Lopes, que foi um dos 'Renegados' (outro Western) por essa mesma diretoria, assim como o Geninho – que foi mandado embora pelo clube quando tinha 80% de aproveitamento.

Todas as saídas de treinadores e jogadores do Atlético são nebulosas e de difícil entendimento. A última, do Renato Gaúcho, é mais uma delas. Por falar no Portaluppi, ninguém sabe se ele esqueceu que é um 'gaudério macho' e se acovardou ou se foi extremamente elegante para não sair disparando contra essa diretoria que é uma piada, que não cumpre promessas e que ninguém aguenta trabalhar.

Ainda sobre o Gaúcho, algumas ressalvas devem ser feitas. O bacana chegou dizendo "que não iria nem desfazer as malas". Além disso, dizem que o problema do amontoado de jogadores do Trétis são as noitadas e cagibrina nas casas de pagode. Se for isso, contratar um treinador que é mais baladeiro que os próprios jogadores pode ter sido um tiro no pé.

Enquanto isso, o mister president Marcos Malucelli, soltou mais uma de suas pérolas ao dizer que o "planejamento não deu certo, mas isso não significa que foi mal feito"... Hein? Deixa para lá, esse senhor não merece meu tempo.

A torcida contra o Atlético será grande, a mídia do eixo Rio-Sampa (assim como a nativa que veste verde de forma descarada) já colocam nosso time na segundona em 2012. Os coxinhas – entre eles meu próprio irmão e sobrinho (ninguém é perfeito) também já cravam como certa nossa queda: situação que preocupa, até porque 'eles' são especialistas em rebaixamento.  

O sucesso de Lopes no comando do Atlético é uma incógnita e, caso aconteça, será uma espécie de vingança do nosso Charles Bronson que foi renegado em outrora por essa mesma diretoria.

À nação rubro-negra só resta torcer para que o delega consiga colocar a casa em ordem e varrer a bagunça para bem longe. E como o negócio é 'faxina no Furacão nada melhor que o Lopes se agarrar a dona Elza, companheira fiel de todas as horas, que ao adotar o modelito vermelho está cada vez mais parecida com nossa presidenta Dilma Rousseff. 

Abaixo cena clássica de Desejo de Matar nos metrôs de Nova Iorque