quarta-feira, 31 de outubro de 2012

No "mês das crianças", Sem Terrinhas lutam por direitos

Trio sem terrinha faz leitura da pauta de reivindicações

Aprender desde cedo o valor da luta pela terra, pelo direito de estudar e pela dignidade. É com essa lição - para além da educação formal - que crianças camponesas, filhos e filhas de trabalhadores do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) saem em busca de direitos que ainda parecem "privilégios". É no tradicional "mês das crianças", que anualmente é organizada a Jornada Nacional dos Sem Terrinha.

Realizada desde 1996 pelo Setor de Educação do movimento, a Jornada deste ano ocupou nesta quarta-feira (31/10) sedes de pelo menos 16 Núcleos Regionais de Educação, além da SEED (Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná).

A mobilização dos Sem Terrinhas, iniciada nesta terça-feira (30) dentro dos assentamentos e acampamentos, tem por objetivo denunciar a ausência do governo municipal e estadual no atendimento às demandas da educação no campo e também pressioná-los a atender a pauta de reivindicações do movimento social de luta pela terra.

Em Cascavel, aproximadamente 100 crianças com idade entre 05 e 12 anos estiveram na sede do Núcleo Regional, acompanhadas de mães e professoras de quatro acampamentos e um assentamento da região de Cascavel. Após a leitura da pauta feita pelo trio sem terrinha, Mailson Moreira (10 anos), Aline Salvador (09) e Milene Moreira (09), o chefe do Núcleo, professor Vander Piaia, recebeu as reivindicações do movimento.

As principais demandas giram em torno da construção, reforma e ampliação de colégios estaduais em assentamentos para que possam oferecer educação profissionalizante e técnica, garantindo toda estrutura necessária para dar qualidade ao ensino.

Além do atendimento apropriado às crianças com necessidades especiais nas Escolas Itinerantes, à garantia de transporte escolar seguro e suficiente para os estudantes, melhores condições de trabalho aos professores e a garantia do deslocamento dos educadores até as escolas e melhoria da merenda escolar, sendo no mínimo 30% da agricultura familiar.

Escolas no campo

A luta por educação é uma necessidade permanente no MST, visto que muitas escolas estão sendo fechadas no campo. Muitos assentamentos não têm escolas e os que têm a infraestrutura é precária e com o atendimento somente nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A mobilização denunciou o fechamento dessas escolas do campo. Nos últimos anos, segundo levantamento do Setor de Educação, foram fechadas mais de 37 mil escolas rurais em todo o Brasil, sendo que só no Paraná - na década de 2000 - foram fechadas 44% das escolas da zona rural.

Além da negociação das demandas das escolas e dos assentamentos, a Jornada dos Sem Terrinha constitui-se numa atividade pedagógica de grande valor do movimento que contrapõe o paradigma da educação formal, pensando a infância na perspectiva de um projeto de emancipação humana.

São com palavras de ordem como "Escola itinerante chegou para ficar, lutando pela terra e o direito de estudar!" ou "Che, Zumbi, Antonio Conselheiro; na luta por justiça, somos todos companheiros!",  que as crianças camponesas fortalecem sua identidade sem terra.  São nas jornadas que os filhos e filhas dos agricultores aprendem valores de forma lúdica e pedagógica. No mês dos "presentes e das travessuras", os Sem Terrinha aprendem a lição que na sociedade das desigualdades é preciso lutar desde cedo para que direitos deixem de ser privilégios.

Sem Terrinhas no Núcleo Regional de Educação de Cascavel

terça-feira, 30 de outubro de 2012

#Cascavel: Ato em memória aos desaparecidos políticos

Charge: Carlos Latuff

O ferido de Finados é uma data reservada para reverenciarmos a memória daqueles que não estão conosco, entre eles, os que foram vítimas da violência. Diante disso, o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC), realizará nesta sexta-feira (02/11), atos ecumênicos em várias cidades do país em memória aos desaparecidos políticos da ditadura civil-militar no Brasil.

Em Cascavel, o ato será realizado a partir das 19h30 na Igreja Anglicana, na Rua Arnaldo Estrela, 272, Jardim Alvorada, atrás do Rancho da Candoca. Sob coordenação do reverendo Luiz Carlos Gabas, o evento terá como um dos atrativos uma palestra-espetáculo, com explanação do historiador Alexandre Fiuza, professor da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) e com apresentação do casal de músicos Sil Vaillões e Giovani Pinheiro.

A intenção do CONIC é fazer com que essa prática se torne anual, consolidando o dia 2 de novembro como Dia Nacional dos Desaparecidos Políticos. "Seus familiares, além de sofrerem a dor de uma morte nem sempre esclarecida tem um direito milenar violado, que é o de as pessoas e/ou comunidades darem um sepultamento digno a seus entes queridos e também de reverenciar a suas memórias ao visitar seus túmulos. Todos esses direitos foram negados pela ditadura", diz trecho da carta de Dom Manoel João Francisco, do CONIC. 

Segundo a organização do ato, a celebração também lembrará as vítimas de chacinas dos dias atuais. "Diariamente pessoas desaparecem ou são assassinadas, sem que seus familiares tenham respostas, assim como aconteceu na ditadura militar, um período triste de nossa história", diz o reverendo Luiz Carlos Gabas.

O ato em memória dos desaparecidos políticos em Cascavel conta com o apoio do Sinteoeste (Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimento em Ensino Superior do Oeste do Paraná), APP-Sindicato (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná) e do Sindijor-PR (Sindicato dos Jornalistas do Paraná), Subseção de Cascavel. 

domingo, 21 de outubro de 2012

Keno Vive: Ato lembrará os cinco anos do assassinato

Valmir Mota de Oliveira, o Keno, assassinado em 2007

Neste domingo, dia 21 de outubro, completam-se cinco anos do assassinato do trabalhador sem-terra Valmir Mota de Oliveira, o Keno. Como lembrança da data, trabalhadores camponeses da Via Campesina e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) promovem um ato político batizado de "Keno Vive" nesta segunda-feira (22) no Centro de Ensino e Pesquisa em Agroecologia Valmir Mota de Oliveira, local onde funcionava a antiga fazenda da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste.

Keno foi morto após um ataque de uma milícia armada contratada pela empresa após a ocupação da área de 127 hectares, onde a multinacional suíça mantinha desde 1998 um campo experimental. Em 2006, a Via Campesina denuncia crimes cometido pela empresa, como o desrespeito ambiental e do Plano de Manejo do Parque Nacional do Iguaçu. A Syngenta realizava experimentos com soja e milho geneticamente modificados, o que em março de 2006, levou o Ibama a multar a empresa no valor de R$ 1 milhão, dívida até hoje não paga.

A luta das famílias camponesas, que organizaram o Acampamento Terra Livre e que permaneceram resistindo por mais de dois anos no espaço, juntamente com o grande apoio e solidariedade recebidos por organizações de várias partes do mundo, foi primordial para a importante vitória obtida pelos trabalhadores camponeses. Foi mediante a grande repercussão do caso e a condenação da sociedade à ação armada da multinacional que, em 2008, a Syngenta teve que transferir a posse da área para o Governo do Paraná.

Com o objetivo de fazer o resgate histórico de luta e resistência das famílias camponesas, mantendo viva a chama de rebeldia e indignação que fortalece a necessidade de seguir denunciando os crimes do agronegócio, lutando pela Reforma Agrária e contra a utilização dos transgênicos e agrotóxicos em nosso alimento, é que a Via Campesina e o MST convidam a sociedade a participar do ato no Centro de Ensino e Pesquisa, administrado atualmente pela Iapar (Instituto Ambiental do Paraná), que leva o nome do militante morto em há cinco anos.

Histórico

A empresa suíça Syngenta Seeds, detentora de 19% do mercado de agroquímica e a terceira de maior lucro na comercialização de sementes no mundo instala em 1998 uma sede em Santa Tereza do Oeste. Atenta aos crimes ambientais e ao desrespeito a legislação, a Via Campesina denúncia as irregularidades a órgãos nacionais e internacionais e a empresa é multada em R$ 1 mi pelo Ibama.

No dia 14 de março de 2006, a área é ocupada, com ampla repercussão internacional. As 70 famílias camponesas permanecem até novembro de 2006 no local, quando o Estado do Paraná cumpre liminar de reintegração de posse expedida pela Justiça de Cascavel. As famílias retornam ao local depois que a área foi desapropriada pelo governo para a criação de um Centro de Agroecologia. 

Em 18 de julho de 2007, os sem-terra cumprem ordem judicial e as famílias se deslocam para o assentamento Olga Benário, em Santa Tereza do Oeste. Em outubro de 2007, a área é reocupada, após os rumores de que a terra estava sendo preparada para plantação de soja e milho transgênico, o que desrespeita a regras de um centro de agroecologia.

Após a nova ocupação, em uma ação covarde e sorrateira de uma milícia contratada pela multinacional, pelo menos 10 sem-terra são feridos e um deles é executado. No confronto, um dos milicianos também é morto. O caso é denunciado em todo o Brasil, em tribunais internacionais, entre eles, o país de origem da empresa. A longa resistência da Via Campesina e do MST garantem a conquista da área e o compromisso do Estado.      

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Valmir Mota em festa: a conquista da terra e dignidade

Emoção marcou o sorteio dos lotes aos assentados
A realização de um sonho, a conquista de uma terra para produzir e criar raízes, a luta pela dignidade. A vitória de 83 famílias que se tornaram oficialmente moradoras do Assentamento Valmir Mota de Oliveira, em Cascavel, no Oeste do Paraná, e que comprovaram que a Reforma Agrária dá certo!

A festa organizada nesta semana pelos militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não foi o simples ato do sorteio dos lotes por parte do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), mas sim a reafirmação que o movimento social mais legítimo do país segue resistindo, vencendo o preconceito e a criminalização de grande parte da sociedade de nossa conservadora "fazenda iluminada", onde os interesses do agronegócio seguem controlando a mídia e os intitulados "ruralistas" seguem acreditando serem donos da região.

Foram 13 anos desde a ocupação do Completo Cajati e dois anos na área que se instalou o Assentamento Valmir Mota, uma das fazendas compradas pelo Incra para fins da Reforma Agrária. Uma luta simbolizada pela tradicional mística e pelas palavras de um dos coordenadores do movimento na região. "Isso aqui só foi possível graças as nossas lutas, nossas marchas, nossos protestos e enfrentamentos. A luta pela terra nos une e já levou alguns de nossos companheiros, como o Keno, que está presente aqui entre nós, que continua presente na nossa luta", disse Celso Barbosa, em menção ao militante sem-terra executado por milicianos na antiga estação da multinacional Syngenta, em Santa Tereza do Oeste, e que dá nome ao assentamento.

Para o superintendente do Incra, Nilton Bezerra, o Assentamento Valmir Mota de Oliveira será exemplo de moralidade, produtividade e do ponto de vista social. "Essa é uma área emblemática, é uma conquista histórica destes trabalhadores que seguem resistindo numa região crítica como essa", disse Bezerra, referindo-se a atos de violência protagonizados por milícias armadas que já marcaram a disputa pela terra no Oeste, além de citar a "campanha" de grande parte dos meios de comunicação. "Infelizmente a mídia regional é ligada ao agronegócio e trata a reforma agrária de maneira distorcida".

O reverendo da Igreja Anglicana, Luiz Carlos Gabas, acompanha a caminhada dos movimentos sociais e a luta dos assentados do Valmir Mota. "Essa conquista pode parecer pequena para alguns, mas representa muito para aqueles que lutam pela dignidade, que lutam contra o poderio do agronegócio. O grande temor dos poderosos, da burguesia, é quando o povo pobre, os mais humildes alcançam vitórias por meio da organização e da luta", disse o religioso, deixando um recado às famílias beneficiadas. "A luta prossegue companheiros, não se esqueçam daqueles que ainda estão acampados embaixo das lonas pretas".

O recado do religioso é significativo, uma vez que a luta continua. Existem ainda outras 400 famílias acampadas na área do complexo à espera da regularização. A conquista das 83 famílias assentadas de forma definitiva é uma resposta a muitos que criminalizam e desqualificam o movimento. Já a emoção de cada assentado fica impossível descrever, quem sabe uma frase no momento que o almoço estava sendo servido possa ajudar: "Não sei se eu almoço, se choro ou se continuo com esse sorriso que vai de orelha em orelha", disparou o camarada Ildemar Frohleich, um dos assentados beneficiados.



segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Para prefeito, Biafra e "confirma"!


"Obrigar a polícia a ser eleita, guarda por guarda, pelas pessoas que ela vai controlar. Também acho que devíamos fazer um leilão em praça pública de todos os cargos oficiais mais lucrativos. Um leilão mesmo, aberto, em vez de fazer às escondidas, nos escritórios enfumaçados do poder".


Fiquem calmos 'sitiantes', este blog não quer disputar espaço com os noticiários diários de política institucional ou partidária, tampouco estou propagandeando propostas de postulantes que tem solução para todos nossos males.

Faltando poucos dias da data que nos fazem crer ser a mais importante da luta política ou o momento onde "todos se igualam (sic)" - não em direito, mas sim em dever - decidi fazer uma postagem em homenagem a uma figura que eu cravaria o 'confirma' sem titubear.

A proposta descrita no primeiro parágrafo fez parte da plataforma política de um dos candidatos a prefeito da cidade de São Francisco, na Califórnia, em 1979. Isso mesmo a frase é de Jello Biafra, um dos mais lendários nomes do punk rock mundial.

Autor de letras recheadas de ironia e discurso político anti-imperalista; de clássicos como California Über Alles, Holiday in Cambodia, Too Drunk to Fuck e Nazi Punks Fuck Off, Biafra é - sem sobra de dúvidas - uma das figuras mais importantes dos movimentos de esquerda mundial das três últimas décadas.

Ícone do cenário underground, seja na arte ou na política, Jello Biafra se aventurou por "processos políticos tradicionais".  Sua eleição a prefeito em 1979 foi o fato mais marcante. Sua candidatura à época teve como principal objetivo mostrar que a eleição em São Francisco não era "real", mas sim uma simples batalha entre dois setores da direita.

"O que eu queria era mostrar que a disputa era entre um candidato dos banqueiros, Feinstein, e Kopp, uma marionete dos interesses imobiliários", disse Jello Biafra em entrevista à revista Bizz, em 1986. "Quem tinha consciência disso, e já estava de saco cheio, votou em mim", fala o músico na mesma entrevista.

Crítico voraz do então governador da Califórnia Jerry Brown, Biafra foi o quarto candidato mais votado entre dez nomes, obtendo 6.591 votos, ou seja, pouco mais de 3% do eleitorado. Números que contribuíram para uma eleição de desempate (segundo turno) entre os dois principais candidatos.

Jello Biafra ainda tentou concorrer mais uma vez ao cargo de prefeito, mas foi banido por uma lei que só permite candidatos com o nome de batismo (Eric Boucher - no seu caso) e nunca com nome artístico, pseudônimo ou apelido.

Em 2000 chegou a concorrer nas prévias do Green Party (partido verde) em Nova Iorque para as eleições presidenciais dos Estados Unidos. Sua candidatura, caso aprovada, teria como vice o jornalista Mumia Abu-Jamal, condenado à morte sob acusação de ter matado um policial. A escolha foi a maneira de Jello mostrar sua posição em relação à pena de morte, num aspecto amplo, além de chamar atenção para o desenrolar do caso de Mumia.

Apesar de encarar o processo das urnas, Biafra sempre apontou que as ruas e os palcos são os espaços mais propícios para o embate político. "(...) ação nas ruas é uma parte disso, mas a outra é tirar estes imbecis dos escritórios deles, que é uma coisa que ainda podemos fazer".

A poucos dias de sermos 'convocados' a canalizar todas nossas forças na 'festa democrática' da cidadania ocasional, da indignação seletiva e dos 'candidatos cao cao', lhes deixo com versos da canção I Won’t Give Up, do projeto Jello Biafra And The Guantanamo School Of Medicine.


"(...) da minha pequena e própria maneira
  Eu fiz um juramento
  E você pode fazê-lo agora!
  as corporações não poderão me ter

 Não vou desistir
 Isso não é uma opção!"

(Jello Biafra- I Won´t Give Up)