quarta-feira, 27 de julho de 2011

Mr. Gonzo e os "anjos do inferno"


Edição da Conrad (2007)
"Eu havia me tornado tão envolvido com os foras da lei que não tinha mais certeza se eu estava pesquisando sobre os Hell’s Angels ou se estava sendo lentamente por eles absorvido". A frase é do genial Hunter S. Thompson, o criador do Gonzo Jornalismo, referindo-se ao seu livro: Hell’s Angels.

Nesta quarta-feira, dia 27 de julho, quando é lembrado o Dia do Motociclista, o Sítio sugere essa leitura, considerada indispensável na despretensiosa opinião deste blogueiro. O livro, de 1967, é o primeiro publicado por Thompson, que já tinha uma carreira consolidada como jornalista.

Ele estava morando em San Francisco, onde conheceu os membros da famosa gangue de motociclistas fora-da-lei. O editor da publicação esquerdista The Nation pediu a Thompson para fazer uma reportagem sobre o fenômeno das gangues de motociclistas, e o resultado foi o livro Hell´s Angels.

Hunter passou todo o ano de 1966 convivendo com membros dos Hell’s Angels e produziu um retrato brutal, completo, sociológico, antropológico, psicológico e político do fenômeno das gangues de motociclistas, seus problemas com as autoridades, seu envolvimento com a contracultura da época e o tratamento dado pela grande mídia americana.

Na época, a obra de Hunter Thompson causou polêmica pela subversão do tema e, especialmente, pela naturalidade e passividade que o autor tratou das bebedeiras, estupros, pilhagens, brigas e espancamentos, além de gosto peculiar pelo proibido.

Assim como descrito na frase de Thompson no primeiro parágrafo, o Mestre Gonzo literalmente inseriu-se no evento narrado por ele. O resultado foi um livro-reportagem que se tornou um clássico do novo jornalismo (new journalism), não recomendado a "cidadãos de bem e arautos da moral".

No Brasil, o livro foi lançado com o nome Hell's Angels: Medo e Delírio Sobre Duas Rodas, em 2007 pela editora Conrad e, no ano passado, pela editora L&PM Pocket


Abaixo outra pérola: clipe da música Orgasmatron do Motorhead com imagens raras dos Hell’s Angels e seu líder-fundador Sonny Barger.


sexta-feira, 22 de julho de 2011

"Cansei"... de samba midiático atravessado!


Recebi email de um desconhecido me "convocando" para uma "paralisação geral" no dia 1º de agosto. Num primeiro momento fiquei entusiasmado, afinal paralisação geral no Brasil, até então, só a de 1917 em São Paulo. Porém ao ler com atenção a convocação vi que era uma dessas "correntes de internet" (FW), sem um aparente foco, sem direção, para um protesto de rua deslocado contra um emaranhado de coisas, tendo como principal mote a "corrupção".

O texto truncado inicia falando que devemos seguir o exemplo do povo árabe que teria se "cansado de seus governos", fala de reforma tributária para que o "Brasil seja competitivo por aí a fora", sem discutir que o problema maior não está na quantidade de impostos, mas na "sociabilização" deles. Fala em reforma prisional e fim de privilégios como "visitas íntimas", diz que ministros do STJ e STF devem ser nomeados por um "colegiado de magistrados levando em conta sua ‘notoriedade’, conhecimento jurídico e sobretudo sua honestidade". No "gran finale", empresários e até mesmo os "cara-pintadas" são chamados a ir às ruas!  

Posso estar exagerando, mas esse tipo de convocatória - no estilo "samba do crioulo doido" - lembra outro agosto, de 2007, oportunidade que se levantou das trincheiras um movimento intitulado "Cansei". Esse movimento – lançado pela OAB de São Paulo e que reunia celebridades globais, personalidades, empresários, variadas correntes religiosas, os chamados "formadores de opinião" e entidades patronais como a Fiesp, associações comerciais, Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão, entre outras - foi às ruas mostrar sua "indignação".

Civismo e amor pelo Brasil eram pregados em campanhas publicitárias que faziam questão de deixar claro que seria uma "manifestação pacífica, equilibrada e organizada". Na linha de frente, as "garotas" propaganda: Hebe Camargo, Ana Maria Braga, Ivete Sangalo (atualmente acusada de sonegação e desrespeito a leis trabalhistas) e Regina Duarte (latifundiária do "Eu tenho medo!"). 

Na ocasião, o estopim para o "protesto" foi a tragédia com os passageiros da TAM. Lembro de matéria de um portal de notícias sobre o ato, onde um "manifestante" foi questionado e esbravejou: "Avião cansei, depois de 2 anos sofrendo no aeroporto, desisti. Comprei um Honda novo e venho de carro!”, disse o "protestante" cansado e tomando um gole da água distribuída gratuitamente pela Sabesp.

Dois anos depois, em 2009, só não me recordo se foi em agosto, algumas "celebridades" como Tico Santa Cruz (sic) foram às ruas lutar pelo Fora Sarney, como se o dito cujo estivesse debutando na vida pública apenas naquele momento... Sem falar dos recentes "Na mesma moeda" e "preço justo". 

Acho que essa "convocação" atual não chega a ser uma reedição do "Cansei", mas o que chama mais a atenção (pelo menos para mim) é que a "corrente dos indignados" surge no mesmo momento em que grandes meios de comunicação massificam o discurso que o brasileiro é acomodado, em especial a Folha de São Paulo, O Globo e a Veja. Em recente edição, O Globo publicou reportagem questionando: Por quê o brasileiro não vai às ruas contra a corrupção?. Porém "esqueceu-se" de publicar a resposta de um dirigente do MST. Não sei se por um "lapso" ou por não ter agradado a editoria. (mais detalhes no link abaixo).

Nessa semana, a colunista da Folha, Eliane Cantanhêde (dispensa maiores comentários) também escreveu um texto conclamando a galera: "E os brasileiros que estudam, trabalham, pagam impostos e já pintaram a cara contra Collor, não estão nem aí? Há um silêncio ensurdecedor", dizia trecho.

O interessante de tudo isso é que esses "atores sociais" que conclamam a população para ir às ruas para protestos deslocados são os mesmos que são contra manifestações de movimentos sociais, greves, paralisações de categorias, protestos em praças de pedágio. São os mesmos que dizem que atos como do MST (que focam reforma agrária, qualidade de vida, educação e apuração de crimes no campo) só servem para fechar o trânsito, são os mesmos que são contra manifestações do passe-livre, são contrários ao direito de greve e paralisações sob o pretexto que elas prejudicam a população.

Mas o que aconteceria se o povo atendesse esse chamado da mídia tradicional, mas questiona-se pontos citados no link abaixo sobre as respostas não publicadas de O Globo, como precarização de trabalho, exploração de mão-de-obra e baixos salários, ou ainda, deixassem de se "acomodar" com a falta de democratização da comunicação ou regulação de uma mídia que tenta colocar todos num pensamento linear em um discurso homogeneizado? Com certeza deixariam de ser atos que lembram mais um samba atravessado. 


Abaixo: Movimento social responde, mas O Globo "esquece" de publicar

http://www.mst.org.br/Por-que-a-populacao-nao-sai-as-ruas-contra-a-corrupcao-mst-responde-globo-nao-publica

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O "cara" dos números paranistas

Luis e as planilhas (foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo)
Futebol atualmente não é um dos meus assuntos prediletos. Os motivos; prefiro não me aprofundar (sic), mas abro a porteira do Sítio para uma postagem sobre o "esporte bretão". Não se preocupem, pois não chorarei lamúrias rubro-negras, falarei de outro time de Curitiba, o Paraná Clube, que passa por boa fase na segunda divisão do Brasileirão.

Vocês podem estranhar esse blogueiro estar falando do segundo time mais importante da capital, porém trata-se de uma questão familiar. Parte da preparação paranista passa pelos trabalhos do professor de Educação Física, Luis Felipe Carignano, responsável pelo “scout” (estatísticas) do clube.

O "brimo" foi personagem de material produzido pela Gazeta do Povo, publicado na edição desta quarta-feira (20). Com 24 anos, Luis Felipe vem traçando seu caminho para realizar o sonho de ser treinador de futebol, quem sabe do próprio Paraná Clube, ou do time mais importante e de maior torcida no Estado, o Clube Atlético Paranaense.

Leia a matéria na íntegra produzida pelo jornalista Henrique Moretti em:

http://www.gazetadopovo.com.br/esportes/conteudo.phtml?tl=1&id=1148945&tit=Aspirante-a-tecnico-traduz-o-Parana-em-numeros

terça-feira, 19 de julho de 2011

Atividades do Sítio são "interrogadas"


"O desvio a esquerda nos leva a um lugar novo, que aos poucos está sendo descoberto e explorado pelos viajantes da internet. A porteira está aberta, a pastagem cada vez mais bem formada e as cercas delimitadas. A placa de entrada diz: "Não acredite na velha mídia limpinha". Trata-se do blog "Sítio Coletivo", no ar desde o início de maio deste ano".

Ao completar três meses no ar, esse espaço foi alvo de um questionário de perguntas. Não se tratou de nenhum interrogatório de algum órgão censor contrário à livre exposição de pensamento e a democratização da informação, mas sim uma entrevista sobre as "atividades" do Sítio. Esse blogueiro foi entrevistado pelo jornalista Maycon Corazza (@mayconcorazza) para um trabalho da Agecin (Agência Experimental de Comunicação Integrada) da Faculdade Assis Gurgacz.

A entrevista na integra está disponível no link abaixo:

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Omissão alienante, "cunhadas" e identidade de classe

Precisa dizer mais...
Depois de muita discussão e luta de uma pequena parcela de jornalistas - visto o tamanho da base da categoria que conta com cerca de 4,5 mil profissionais no Estado - o "baronato" da mídia paranaense logrou novo êxito em face à fragilidade de seu rol de "colaboradores".

Após uma série de assembleias, reuniões e mobilizações (sempre com número reduzido), os jornalistas não conseguiram obter um aumento minimamente digno. Sem o respaldo de grande parte da categoria, a direção do sindicato endureceu até onde pôde, mas ao fim a soberania das assembleias decidiu que o melhor a fazer era aceitar uma primeira "migalha" jogada a mesa. Os jornalistas abocanharam um aumento real de R$ 6,55, que soma-se a reposição de mais R$ 96, totalizando "exaltados" R$ 102, além de um retroativo que a patronagem quer parcelar.

As assembleias tiveram suas peculiaridades, primeiro pelo número de participantes. Abertas também para não filiados e inadimplentes, elas contaram com 185 votantes no Paraná, no universo de 4,5 mil profissionais e pelo menos 700 filiados ao Sindijor (Sindicato dos Jornalistas do Paraná). Em Cascavel, onde existem cerca de 150 filiados, 18 jornalistas apareceram para votar, sendo alguns destes não filiados.

Ao todo 110 votaram pela proposta patronal, enquanto 75 foram contra. Em Cascavel, a maioria dos "18" foi contra – 11 contra 7. Na vizinha Foz do Iguaçu, 18 contrários ante três satisfeitos com a proposta patronal. Enfim, o número de participantes – independente do resultado final - mostrou a omissão de grande parte da categoria no momento de se decidir o destino de toda uma coletividade.

Outra peculiaridade das assembleias foi a denúncia de assédio moral contra o diretor do Grupo RPC (Rede Paranaense de Comunicação) diante de seus "colaboradores" de Curitiba. Esse teria anunciado que poderia "mudar o atual modelo da empresa cortando postos de trabalho", caso os jornalistas conquistassem mais do que os R$ 102 de ganhos. Não se sabe quanto essa "cunhada" influenciou nos "colaboradores" da sucursal da Vênus Platinada. (detalhes em: http://acordajornalista.blogspot.com/)

Enquanto desmandos e "cunhadas" vão acontecendo boa parte dos jornalistas continua se identificando mais com patrões do que com colegas, aumentando a lógica de que pertencer a uma classe social não significa – obrigatoriamente – ter o sentimento de identidade a ela e tampouco a disposição de lutar coletivamente pelos seus interesses.

Todo o processo de negociação – que envolveu uma parcela pequena de trabalhadores – mas que buscava atingir a coletividade mostrou o retrato de uma categoria que praticamente descarta seu órgão de representação de classe, quando ao certo seria tentar fortalecê-lo para resguardar o mínimo que ainda se tem de autonomia da categoria. Uma amostra de desunião que sempre favorecerá a "patronage". Isso é história – basta fazer uma breve pesquisa – a divisão dos trabalhadores sempre favoreceu o empresariado, independente do ramo de atividade.

Mesmo seguindo aprisionado em salários defasados e na usurpação da mão-de-obra jornalística, os trabalhadores seguem contentes na aura do "discreto charme da profissão". Isso nos coloca em situação caricata, vivendo no nosso próprio mundinho, de nosso próprio comportamento social para ser aceito dentro de nosso nicho. Fazemos nossa própria consciência coletiva – deturpada – e só nos falta um manual básico de etiqueta própria.

Enquanto isso os donos da mídia seguem faturando alto - mentindo descaradamente que não - e rindo à toa com suas práticas que remetem aos tempos de poder oligárquico, uma espécie de relação feudal, com a presença de senhores que dominam não somente a força de trabalho, mas também o tempo e a personalidade – cada vez mais a venda - de seus "colaboradores".

É uma realidade venal, subserviente e de resignação, retrato da omissão e, principalmente, alienação da maior parcela de uma categoria que não se enxerga como classe. O jornalista segue com essa dificuldade de se entender como trabalhador, preferindo viver na lógica liberal do "cada um por si em busca de um lugar ao sol". A identidade de alguns com o patronato faz parte da estratégia alienante de gestão das empresas e do contra-discurso de identidade de classe. Quando precisam é "NÓS" para os "colaboradores", mas quando o assunto é faturar é tudo com eles.

Para terminar, eu não poderia ser injusto com aqueles que participaram das reuniões, assembleias e panfletagem em Cascavel – sejam filiados ou não – além do representante do Sindijor no município, Fábio Conterno, que deu a cara para bater na tribuna da Câmara de Vereadores. Enfim, com ou sem pelegagem, a "peleja" deve seguir, afinal a dor fortalece a luta!


Obs: Originalmente pelego é a pele com lã de carneiro que se coloca sobre a cela para que o cavalgar não machuque os quadris do cavaleiro, porém não se elimina o peso sobre o dorso do animal. Como o de pele de carneiro, o pelego no sindicalismo ou entre os trabalhadores, se coloca sobre a categoria para servir aos interesses antagônicos aos seus.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Uma doença para se levar até o leito

Festival em Bogotá (Willian Martinez)
Não sou entusiasta de datas especiais e comemorativas, acho grande parte delas meras formalidades, porém este Sítio não poderia deixar passar o "Dia Mundial do Rock". Esse espaço coletivo saúda as mais variadas bandas, dos mais variados estilos, que continuam fazendo "barulho" em nosso "Oeste Selvagem", especialmente os que produzem de forma independente. Aproveito para reproduzir um texto escrito no ano passado e publicado no CMI (Centro de Mídia Independente), intitulado "Uma doença para se levar até o leito".   

Sou da turma de um bando de doentes, insanos, rebeldes, contestadores e transgressores. Nós - realmente somos - o verdadeiro "bando de loucos" e nossa loucura cresce a cada dia, não tem limites, barreiras de idade, sexo ou distinção social.  Temos uma doença em comum, doença que me afere desde a infância, desde que me conheço por gente. Essa doença está sempre corroendo meus ossos e correndo nas minhas veias, indo direto ao meu sangue com uma injeção de adrenalina, como um verdadeiro "elixir da vida". 

Falar de algo que você gosta é prazeroso, mas você corre o risco de fazer uma análise pessoal demais, conforme suas experiências próprias. Mas desde o meu primeiro contato com essa doença, a reação foi de "amor ao primeiro riff". Nesse primeiro contato, senti que levaria essa doença comigo e com muito prazer - até o meu leito de morte. 

Na adolescência não conseguia dormir sem doses homeopáticas do "bom e velho rock n' roll". Desde que me conheço, essa sempre foi minha válvula de escape. Bastava eu brigar com o meu irmão, discutir com meus velhos, sair no braço na escola ou ser pego fazendo algo "ilícito", e lá ia eu para minha "droga" predileta. Fechava meu quarto (pois era um "barulho" que só eu tinha o dom de ouvir) e somente sossegava colocando os decibéis nas alturas. 

Para muitos, assim como para mim, o rock serviu como um verdadeiro divisor de águas. Nele você viaja, nele você consegue descarregar suas angustias, ser realmente quem se é. Ele nos traz experiências que vão além do senso comum. 

Nós amantes do rock, diferente de outros grupos, sentimos prazer em ter guardado uma infinidade de fitas cassetes em velhas caixas de sapato (que para alguns não passariam de lixo e velharias); algumas originais e outras gravadas com uma qualidade "duvidosa", sem falar dos velhos "bolachões". 

Não importa como você encare a música, alguns somente como mero entretenimento e outros de forma profissional, mas no fundo de tudo está a alma, o espírito e principalmente a atitude. Coisa que somente o rock sabe explicar como ninguém, sendo ferramenta de liberação de espírito para aliviar a dor, contestar, se divertir, e fazer amor. 

O saudoso Leminski, o "maldito" paranaense, dizia que "a vida é uma viagem, onde estamos somente de passagem", porém o rock é uma viagem que levarei até o fim dos meus dias, mas que felizmente nunca vai morrer, diferentes de tantas "drogas" passageiras por aí. 

Nem Freud conseguiria explicar se o Rock é do Diabo ou de Deus. Eu prefiro dizer que ele é simplesmente do homem, mas insisto em acreditar que ele deva ser a trilha mais tocada nos salões e nos alto falantes do inferno. 

Nesse Dia Mundial do Rock, vale ligar o som no volume alto e saldar monstros como Berry, Iggy, Zappa, Lou, Dylan, Hendrix, Cash, Jello, Motorhead, Stones, Stoogies, Ramones, Led, Mutantes, Ratos, Nirvana, Metallica, Sabbath, AC/DC, Slayer, Raul, Clash, Inocentes, os irmãos Cavalera (os "Jungle Boys"), enfim, há tantos "deuses" por aí, que serei injusto ao não citar alguns. 

Parabéns a eles e principalmente a nós, bando de transgressores que continuamos com nossa vontade de gritar por liberdade e continuar a ouvir a mais "brutal, feia, desesperada e viciada forma de expressão que já tivemos o prazer de escutar".
 

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Jornalistas fazem dia de mobilização em Cascavel

Jornalista Fábio Conterno fez uso da Tribuna da Câmara (foto: Edson Mazetto)
Jornalistas de Cascavel realizaram na terça-feira (5) um dia de mobilização no "velho oeste". A ação foi promovida pela Subseção Regional do Sindijor (Sindicato dos Jornalistas do Paraná) e contou com a participação de sindicalizados, não-sindicalizados e acadêmicos, que entenderam a mensagem que as demandas da categoria atingem toda a coletividade. 

A realidade de boa parte dos profissionais da área e a maneira como o "baronato midiático" trata aqueles que são responsáveis por seus números de lucratividade foi exposta por meio de uma panfletagem e uma exposição na Câmara de Vereadores. 

Pela manhã, os jornalistas estiveram no Calçadão da área central da cidade. Por lá, entregaram à população um informativo contendo detalhes da atual negociação da data-base da categoria (de outubro de 2010) que se tornou uma espécie de "novelinha mexicana" em virtude da intransigência da "patronage" que há nove meses recusa-se a conceder nada além da inflação do período calculada em 4,68%.

Vale lembrar que a categoria completa este ano, 15 anos sem aumento real, período ao qual no máximo ela vem empatando com a inflação – aquela medida por institutos, não a que insere nas gôndolas dos supermercados e que está bem longe desse cálculo de 4,68%. 

Além disso, o panfleto expôs situações que jornalistas de Cascavel e região precisam conviver diariamente como: acúmulo de funções, jornada excedente, horas-extras não pagas, falsos estágios, desrespeito ao piso salarial, além de pressões que vão desde ingerência política até assédio moral. 

No período da tarde, as reivindicações ganharam voz na Câmara de Vereadores, por meio do uso da Tribuna do Povo pelo vice-presidente regional, Fábio Conterno. “Estamos fazendo o uso desse espaço público para expor a situação da categoria e o impasse ocasionado pela intransigência dos donos dos meios de comunicação que se recusam a fechar nossa Convenção Coletiva com nada além da reposição da inflação”, destacou Conterno. O jornalista também lembrou a desvalorização salarial com o passar dos anos e a redução do poder de consumo da categoria.

Após a explanação do jornalista na Tribuna – como de praxe no "rito legislativo" – a palavra foi aberta aos vereadores, que preferiram manter-se silenciados e não fazer nenhuma menção a luta da categoria. Nada a estranhar, afinal, deu para contar com os dedos de uma única mão àqueles que estavam realmente prestando atenção na fala do representante do sindicato. 

A reação dos edis chamou a atenção de alguns jornalistas que acompanhavam a sessão. Vale lembrança de momentos em que os políticos convocam coletivas para repassar algumas situações, oportunidades que os jornalistas estão de prontidão, porém na hora que os representantes foram "convocados" a entrar num debate da categoria, o feedback não foi o mesmo e a resposta foi um silêncio bucólico.

Para não ser de todo injusto, vale agradecer o espaço da tribuna pública. Emissoras de televisão e rádio também acompanharam a explanação do representante do sindicato da categoria, grande parte com microfones e câmeras desligadas, afinal, a nós é permitido dar voz a quase todas categorias de trabalhadores, com exceção a nossa é claro. Por motivos e razões óbvias!


* Agradecimento aos CHEFES DE JORNALISMO das emissoras de televisão RPC e Tarobá que receberam na manhã de quarta-feira (6) um representante do sindicato e permitiram a panfletagem em suas redações. O mesmo não pode ser dito da CATVE...

Panfletagem foi realizada no Calçadão da Avenida Brasil