terça-feira, 6 de setembro de 2011

Recordar é viver: desfiles, excluídos e ufanismo

7 de Setembro de 2001 (foto: Fábio Conterno)
Chegamos a mais uma 'Semana da Pátria' que tem no feriado de 7 de Setembro seu grande ápice; uma data tão festiva dessa terra tão querida. Há 17 anos, movimentos sociais, pastorais e setores populares dedicam essa semana ao Grito dos Excluídos. Nessa edição, o lema é "Pela vida grita a Terra...Por direitos, todos nós!", associando a preservação ambiental aos direitos do povo brasileiro.

Em Cascavel não haverá atos referentes ao Grito, diferente de 2010, quando da Campanha pelo Plebiscito do Limite da Propriedade da Terra, porém outra manifestação foi programada para o desfile cívico-militar da Avenida Brasil. Ato protagonizado por outros 'excluídos' – estudantes que recentemente foram impedidos de se pronunciar na Câmara de Vereadores – e que se tornaram uma pedra no sapato do prefeito Edgar Bueno, acusado de casos de corrupção.

Assim como praxe nos tradicionais 'desfiles democráticos', os estudantes não podem marchar como 'soldados'. Esse ato e alguns fantasmas que tem assombrado novamente a política paranaense nos remetem a outro 7 de Setembro do 'velho oeste', quando o Brasil completava 179 anos de sua 'independência' (sic) e o então governador Jaime Lerner tentava a todo custo vender a Copel (Companhia Paranaense de Energia Elétrica). 
 
Como recordar é viver e como alguns ainda tentam ressuscitar o fantasma das privatizações das empresas públicas vale uma lembrança aos 'sitiantes'. Há 10 anos, um grupo de 15 estudantes (entre universitários e secundaristas) foi reprimido de participar do desfile de 7 de Setembro em Cascavel.

Na ocasião, foi tentada (em vão) uma mobilização maior. A concentração foi numa rua paralela a avenida, mesmo sabendo todos que não poderíamos 'marchar'. Esperamos a tropa do Exército passar e, na sequência, partimos numa caminhada que não durou mais que quatro ou cinco quadras. Assim como os manifestantes deste ano, também foi vestido luto e cada um estava com uma faixa na cabeça com o nome de um dos deputados que votaram a favor da venda da Copel na época.

Infelizmente, tínhamos mais deputados vendilhões do que cabeças de manifestantes para faixas: 27 a 15 no placar para eles. Lembro que no meu adorno tinha o dizer: 'Edno Guimarães', um dos entreguistas, então deputado pelo PSL.

Quando se aproximava o palanque das autoridades – que por coincidência tinha Edgar Bueno em seu 1º mandato – eis que as tropas policiais aparecem para impedir a marcha. Mesmo sob as vaias dos populares, o então comandante do 6º BPM, tenente-coronel Antônio Amauri Ferreira de Lima ordenou seus comandados a retirar todos da via sob a justificativa que "estávamos desrespeitando a ordem e tentando manchar a imagem do desfile".

Policiais do Choque, na época RONE, fizeram uma barreira humana distante 100 metros do palanque das autoridades que queríamos chegar: Edgar não era o alvo, o alvo estava distante 500 quilômetros. Ao nos defrontarmos com a barreira da PM, nossa única reação foi deitar no asfalto e permanecer ali até sermos literalmente arrastados para fora da avenida. 

Depois disso tentamos fazer um barulho contra a ação policial, com alguns populares ao nosso lado aplaudindo. Três acabaram detidos e colocados no camburão: o Che, o Zé Ramalho (não o famoso) e o Pitoco (não o do rabo), mas o filho do colega Antonio da Luz.

Mesmo pacífico e amparado no direito constitucional da livre manifestação não conseguimos prosseguir em nosso protesto. Por sorte, o único dano à esse blogueiro foi uma camisa com a estampa do Ernesto rasgada e um policial que passou com a roda de sua motocicleta sob meu pé esquerdo, sem causar maiores estragos.  

Para evitar que voltássemos a avenida, o GOE (Grupo de Operações Especiais) foi chamado para nos intimidar com suas escopetas calibre 12 carregadas com balas de borracha. E lá ficamos, sob os olhos do aparato repressivo até o desfile democrático se encerrar e as autoridades voltarem aos seus lares.

No espetáculo da marcha dos soldados e de uma tropa de mini-patriotas do disciplinado 'exército' de crianças da educação formal não há muito espaço para manifestações. Nada surpreendente se levarmos em conta que a Semana da Pátria foi inspirada no Governo Costa Silva, a herança Moral e Cívica na gestão de Médici e no fato que continuamos engolindo o genocida Duque de Caxias – patrono verde-oliva - como um herói nacional.  

Nessa pátria ainda tão injusta – e hoje tão dependente do 'Deus Mercado' – gritar por independência é berrar junto aos Excluídos, como alguns movimentos sociais e populares fazem ininterruptamente há 17 anos, o resto não passa de espetáculo ufanista.

 Direto do túnel do tempo: alguns recortes sobre o 7 de Setembro de 2001

Arquivo: Jornal Hoje (2001)

Arquivo: Folha de Londrina (2001)
Arquivo: O Paraná (2001)
Arquivo: Gazeta do Paraná (2001)
Arquivo: Gazeta do Paraná (2001)
Arquivo: O Paraná (2001)
Arquivo: Jornal Hoje (2001)

7 comentários:

  1. Obrigado por me fazer recordar deste dia 7 de setembro em Cascavel. Estive no desfile e prestei apoio e solidariedade aos manifestantes.
    Fomos até o Fórum para fazer o tal do Termo Circunstanciado, etc. e tal.
    Como minha memória é muito curta, não saberia dizer quem é que foi detido e agredido.
    Parabéns pela lembrança!

    ResponderExcluir
  2. Grande Júlio, boa recordação, quem diria que vc estava lá também, agora ve se vc reconhece na capa da gazeta do paraná, bem no meio, um barbudo (um pouco menos gordo.. eheheh)... grande abraço.

    ResponderExcluir
  3. Fala Edu, está um pouco diferente... mas dá pra reconhecer. Veja como é, nem se conhecíamos mas estavamos lá na luta contra os vendilhões. A foto que cita você está sendo entrevistado pelo Jota, da Rádio Colmeia. Aquele cabeludo de camiseta vermelha recebendo um "agrado" do "seo poliça" não preciso dizer quem é né...
    Abraço

    ResponderExcluir
  4. Histórica esta postagem do Sítio!
    Grande resgate! Obrigado por não nos fazer esquecer.
    Abraço!

    ResponderExcluir
  5. nossa eu lembrei disso no 7 de setembro desse ano na época estava la e assisti tudo indignado. parabéns por lembrar desse momento que valeu ouro na época. e parabéns pela iniciativa pode ter certeza aquilo que vocês fizeram la atrás me incentiva ate hoje achei lindo e queria poder ter participado.

    Thiago Branco

    ResponderExcluir
  6. Nossa, fui preso nesse desfile! Defendendo a liberdade de expressão e o direito do povo brasileiro defender o que é seu! Muito obrigado ao autor do Blog. Vou postar em meu blog e no face! Obrigado mesmo! Importantes recordações.
    Júlio Raizer

    ResponderExcluir
  7. 2001? Nunca mais usei uma capa de "jaspion"! Estou precisando de super poderes para dar conta da conjuntura golpista!

    ResponderExcluir