sábado, 3 de setembro de 2011

Uma camêra na mão e Galeano na cabeça

O pequeno Waiki descansa no ombro do pai
"Não importa de onde vim, mas sim onde quero chegar". Essa frase do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, que completou neste sábado 71 anos, descreve muito bem o sentimento de Fillipe Monteiro, 26, que tem como sonho conhecer o autor da citação. Acompanhado de sua família, o jovem de Muriaé - município mineiro de pouco mais de 100 mil habitantes - vem percorrendo vários Estados e países da América do Sul como Bolívia, Peru e Argentina.

Em Cascavel, muitos já devem ter visto e ouvido o trabalho do jovem, mas poucos conhecem seu desejo. Artista de rua, violinista, Fillipe carrega - além do case - uma câmera V-8 e uma 'ideia na cabeça', levando a frente à filosofia do saudoso Glauber Rocha. Junto com sua companheira July e o filho Waiki, (nome do dialeto quéchua que significa 'irmão espiritual'), Fillipe pretende chegar em Montevidéu, capital uruguaia. Sua intenção por lá é conhecer Eduardo Galeno.

Um dos maiores escritores e pensadores da América Latina na atualidade, o uruguaio é personagem central de um trabalho experimental que Fillipe vem realizando. O mineiro vem registrando seu trajeto pelas cidades onde passa com sua família, imagens avulsas e depoimentos de pessoas a respeito de Galeano, de sua obra e seus ideais. "Até o momento tenho duas horas de gravações, em algumas imagens avulsas quero inserir textos do Galeano que tenham relação com aquele momento exposto na imagem", explica.

Ao chegar em Montevidéu, Fillipe Monteiro tentará ter um encontro com Galeano e, se possível, entrevistá-lo para seu projeto. Ele sabe das dificuldades, mas afirma que o que lhe move é sua paixão pela América Latina e o trabalho do uruguaio. "Primeiro quero chegar até ele [Galeano] e mostrar o que fiz até o momento. Tenho o desejo de entrevistá-lo, mas se eu conseguir simplesmente conhecê-lo já estará de bom tamanho", diz Fillipe.

Na opinião do músico, o trabalho de Galeano precisa ser propagado, pois trata-se de uma referência quando o assunto é a nossa América. "Eu acho que o Galeno é um escritor boicotado, inclusive nos espaços acadêmicos. Acho que ele deveria ser leitura obrigatória para estudantes de história, jornalismo, ciências sociais", diz o mineiro que chegou a cursar Jornalismo por alguns meses.

Fillipe conta que após conhecer o trabalho de Galeano passou a entender melhor nosso continente. "Muitos sabem que vários países da América Latina sofreram com ditaduras militares, mas quando você lê Galeano começa a entender que não foram fatos isolados de cada país, começa a entender as conexões entre os golpes e visualizar uma exploração que ainda faz parte da vida de nosso continente", afirma Fillipe, referindo-se especialmente a obra mais conhecida do autor: As veias abertas da América Latina.

"Fiquei sabendo que ele [Eduardo Galeno] passa o verão europeu na Espanha e o verão da América no Uruguai, então iremos ficar aqui pela região até o fim de setembro pelo menos", prevê Fillipe. Depois dessa breve passagem pelo Oeste do Paraná, Fillipe, July e o pequeno Waiki, de 2 anos, seguem o rumo de uma viagem movida por um sonho e uma ideia na cabeça, afinal, o que realmente importa é onde eles querem chegar, já diria o escritor uruguaio.

Galeano completou 71 anos neste sábado (3), enquanto as Veias estão abertas há 40. Além da indicação dessa (‘bíblia pessoal’ deste blogueiro) e outras obras do uruguaio, compartilho abaixo uma entrevista do escritor que faz parte do projeto Sangue Latino, do Canal Brasil, onde o jornalista Eric Nepomuceno entrevista uma série de pensadores e intelectuais latinos.  


"Na América Latina, a liberdade de expressão consiste no direito ao resmungo em algum rádio ou em jornais de escassa circulação" (Eduardo Galeano)

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