domingo, 8 de maio de 2011

Às Mães de Maio

Em homenagem às mães (especialmente a "Dona Fátima") reproduzo um texto que escrevi em 2009, publicado no Tribuna das Cidades, que contêm um trecho do poema "Ode às mães de Maio", de Mauro Loures.


Maio é o mês das mães, de madres guerreiras e lutadoras, de mulheres ousadas que não apenas choram por aqueles que já se foram - ainda que a esperança seja a última a ser vencida - mas também lutam pela dignidade dos que ainda restam. Guerreiras que passaram de mães de subversivos à verdadeiras revolucionárias.

Armaram barricadas, com panelas nas mãos e gritos desesperados, levantaram bandeiras de lutas desbravadas. Fizeram suas próprias revoluções populares e transformadoras em busca de um Estado mais democrático, justo e igualitário. Estenderam suas manifestações das tradicionais quintas-feiras para ações político-culturais, como a publicação de um grande diário, a abertura de um café literário, além dos importantes trabalhos sociais em bairros mais pobres.

Criaram uma universidade popular, revolucionária e transformadora, compraram brigas com poderosos, foram à mídia mundial denunciar abusos cometidos e cobrar explicações de governos e Estados. Foram verdadeiras mães - que na pessoa de Hebe de Bonafini - se transformaram em genuínos símbolos de luta, incorporando ícones como Simone de Beauvoir, Rosa Parks ou Luxemburgo.

Vítimas de um Estado totalitário, que entre 1976 e 1983, foi responsável pelo período mais negro da história argentina. Tiveram seus filhos retirados de seus colos e de lá para cá, iniciaram mais de 30 anos de uma luta ininterrupta, que inspirou outras mães com a mesma infeliz coincidência de ter filhos desaparecidos, com as Mães da Praça da Sé.

Mulheres subversivas com panelas em mãos, muitas idosas e com dificuldade de se locomover, porém com uma força descomunal de resistência. Mães que não ficaram apenas concentradas na luta por informações dos mais de 30 mil desaparecidos, mas que tomaram frente em batalhas junto à movimentos sociais e sindicais do país vizinho, mães de revolucionários que acabaram se tornando mais ativistas que seus próprios filhos.

Madres que hoje são avós e deixaram uma lição às mulheres-mães que sofrem com violência doméstica, com assédios morais, com o machismo de uma sociedade patriarcal e com a indiferença de filhos e maridos. Uma lição que é possível mudar o estado das coisas, o status quo. Que é possível dar um basta na submissão e indiferença de uma sociedade conservadora que tenta a todo momento reprimir suas potencialidades.

Nesse mês de maio, vale lembrarmos dessas madres que mostram que a luta e a coragem é o maior legado que uma mãe pode deixar aos seus filhos. Parabéns as mães da Sé, da Candelária, de Angola ou da Praça de Maio, enfim a todas as madres guerreiras.

"Dos Pilatos que, omissos
permitiram tal chacina
Com  seus olhos tão mortiços
Trouxeram lá da Argentina
A visão das mães da praça
Nossa dor que não disfarça

Nossas pobres mães paulistas
Também carregam seu fardo.
Procurando pelas listas
Onde esteja assinalado
O nome de seu rebento
Carregado pelo vento..."
(Marcos Loures)   

Um comentário:

  1. As palavras ganham forma em sua escrita.
    E agora do lado de cá é que compreendo
    a verdadeira dimensão de ser mãe.
    Muito bom ler seu texto, há uma conexão nos sentidos
    em ser de fato honrada com a maternidade.
    Parabéns pelo blog!

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