Hrafnson (Wikileaks) e Ramonet (Le Monde) |
A tríplice fronteira ficou ainda mais diversificada com a realização do I Encontro Mundial de Blogueiros Progressistas, organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e a Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom).
Do evento resultou uma carta aprovada pelos mais de 650 inscritos, de 17 estados brasileiros e 23 países do mundo. Documento que afirmou como prioridade a luta pela democratização da informação, a urgência do Marco Regulatório da Comunicação, contra a judicialização da censura na internet e por um Plano Nacional de Banda Larga que garanta internet de alta velocidade a todos os brasileiros.
Parafrasendo Glauber, blogs nas mãos e ideias "democratizantes" na cabeça na busca de furar o cerco da grande mídia que novamente provou a quais interesses atende e quais (não) são suas prioridades. A imprensa corporativa das amarras comerciais praticamente fechou os olhos para o encontro mundial - fazendo uma cobertura pífia - como que se o que estivesse acontecendo na fronteira não passasse de um desses vários congressos que a mídia adora pautar para preencher grades de programação ou boletins de ocorrências tão massificados pela imprensa tradicional.
O boicote da velha mídia era já esperado, visto que o advento das novas mídias e da blogosfera tem causado pânico em determinados setores jornalísticos, arredios a defrontação de opiniões, ao contraponto daquilo que costuma vender como "verdade absoluta". O jornalista Leandro Fortes, da revista Carta Capital - com larga experiência em redações tradicionais - fez uma explicação genial sobre esse fenômeno em sua intervenção, uma verdadeira "aula" de jornalismo que deveria ser repercutida nos atuais cursos de comunicação social que costuma dizer - na condição de professor - "formam monstrinhos competitivos para o mercado e que estarão dispostos a tudo para conseguir emergir dentro de redações".
Querendo conter cada vez mais esse instigante debate sobre democratização dos meios de comunicação, sobre uma informação plural, a imprensa tradicional calou-se diante da vinda de nomes como o jornalista e semiólogo Ignácio Ramonet, criador do Le Monde e um dos maiores estudiosos da comunicação da atualidade, nomes como Osvaldo Leon, editor da Agência Latinoamericana de Informação (Alai), o jornalista e porta-voz do Wikileaks Kristinn Hrafnsson, Martin Granovksi, editor do jornal argentino Página 12, o espanhol Pascual Serrano, editor do sítio Rebelion, entre outros.
Divergências
Como deve acontecer em espaços que buscam a liberdade de expressão, também não faltou divergências de opiniões e críticas – tanto para a falta de independência de boa parte da blogosfera (ainda ligada a partidos políticos e governos) quanto para o papel que ela vem desempenhando nesse processo de construção de cidadania. Algumas verdades que parecem "inconvenientes" para parte da blogosfera, como apontou o 'ácido' cartunista e ativista Carlos Latuff.
Ramonet foi pontual ao pregar: "ser blogueiro não significa ser necessariamente um rebelde", apontando que existem blogueiros que apenas repercutem as opiniões da mídia tradicional, ou por vezes, potencializam visões ainda mais conservadoras. Afinal, como alertou o cubano Iroel Sánchez, do sítio CubaDebate: "a web por si só não significa democracia".
A blogosfera – assim como as redes sociais – vive um cenário de luzes e sombras, pois ainda não tem a capacidade de atingir a comunicação de massa e constantemente – para não dizer na maioria das vezes – é utilizada apenas para entretenimento, para alimentação da vaidade pessoal de cada um ou numa tentativa de escapar da solidão
"Rigor e verdade"
Para Pascual Serrano é preciso "rigor e verdade" nos valores da blogosfera. É preciso denunciar o modelo de oligopólio que predomina no setor da comunicação mundial e que se invista numa geração de jornalistas como valores humanos, pois disseminar intolerância, preconceito e juízo de valores, os "formadores de opinião" da velha mídia já fazem muito bem.
Essa consciência coletiva está se criando na rede e a realização de um primeiro Encontro Mundial de Blogueiros pode ter sido o estopim para o despestar de inquietações e "revoltas democratizantes", pois as lutas encampadas na blogosfera devem ganhar às ruas, pois se faz necessário o mundo real para que elas se concretizem.
A internet precisa deixar de ser uma rede de consumo para passar ao patamar de rede de produção de conhecimento. O Sítio Coletivo - que apoia esse movimento de blogueiros independentes, de pensamento crítico, que agem nesse contraponto de opiniões - teve o prazer de participar do evento, de acompanhar os debates e trocar experiências. Ao longo das próximas postagens estarei compartilhando aos "sitiantes" outras impressões do #BlogMundoFoz.
Compartilho abaixo links de um material produzido especialmente para o Opera Mundi
Wikileaks voltará em versão mais segura, diz porta-voz
Ativistas árabes relatam uso da internet com forma de resistência
Ativismo na rede precisa do "mundo real" para se concretizar
Parabéns pelo material Julio. Seguramente é o sentimento de todos os participantes atentos.
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