sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Olga Benário: Ecologia do Pensamento

Maycon numa "prosa" com o assentado Silvio
Os colegas Maycon Corazza e Pedro Sarolli produziram reportagem sobre o Assentamento da Reforma Agrária, Olga Benário, em Santa Tereza do Oeste. O material foi feito para a Revista Verbo, desenvolvida pelos acadêmicos do 5º período de Jornalismo da FAG. O Sítio Coletivo reproduz o material que é um verdadeiro raio-x do assentamento.


Enquanto o agronegócio brasileiro está cada vez mais dependente dos agrotóxicos e transgênicos, alguns agricultores familiares caminham na direção contrária, buscando pelo aprimoramento do debate e da prática ecológica. No Assentamento Olga Benário, em Santa Tereza do Oeste, distante 15 quilômetros de Cascavel, os assentados compreenderam a importância do debate ambiental e avançam na agroecologia (alternativa de agricultura familiar socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável). 

O assentamento foi criado pelo Incra em 2005, em uma fazenda que pertencia a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Dez famílias foram beneficiadas com 5,5 hectares cada, para o desenvolvimento da agricultura e da pecuária. A área comunitária (somando estradas e acessos) totaliza cinco hectares. E quase 30 hectares são de reserva legal e preservação permanente. Um dado importante do assentamento é a sua distância do Parque Nacional do Iguaçu, menos de quatro quilômetros. 

As entradas da área são de chão batido, tendo algumas vias principais largas e outras menores e mais tortuosas, que se encaminham para as casas dos moradores. Árvores de pequeno e médio porte são comuns nas áreas coletivas e variam nas áreas particulares, tanto na quantidade como na espécie, de acordo com o capricho e o tempo de estadia do agricultor. As casas mudam de tamanho, de cor e de detalhes, mas são arquitetonicamente parecidas, simplistas, algumas até sem reboco. O fundo das casas sempre possui algum tipo de barracão, uns pra extração do leite das vacas, outros para agrupar porcos, patos e galinhas; e alguns servem como depósito de materiais, ferramentas e objetos necessários para a atividade agrícola. A horta orgânica faz parte de quase todas as propriedades. Umas maiores em formato de um grande círculo, que além de ter sistema de irrigação elétrico, era abastecida por um poço artesiano localizado ao centro, criando a sensação de um grande “alvo”, se focalizado de cima. As hortaliças da época são a cenoura, a cebolinha, salsinha, rabanete, que fazem parte do cardápio diário dos assentados e também são comercializadas. 

A área comunitária é rudimentar. Grande parte é composta de pasto e grama, com dois barracões de madeira maltratados pelo tempo. O assentamento pediu apoio à prefeitura de Santa Tereza para viabilizar a construção de um galpão novo, que serviria como sede para reuniões e os compromissos da comunidade em geral, mas até hoje os pedidos não foram atendidos. 

Araídes Duarte da Luz, 35 anos, mora com a família, dois filhos e a esposa. Além de agricultor, ele é coordenador do assentamento. Araídes explica que a preocupação com o meio ambiente foi incorporada pelo MST há pouco mais de 10 anos. Segundo ele, o movimento percebeu que a luta pela reforma agrária estava ligada a defesa do meio-ambiente. “O MST surge com a proposta de organizar os sem-terra. Quando ele organiza os sem-terra vão surgindo as demandas do movimento”, afirma. 

A preocupação desses agricultores camponeses está baseada em dados alarmantes. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde 2009. Mais de um bilhão de litros de venenos foram jogados nas lavouras, de acordo com dados oficiais. O uso dos transgênicos também é preocupante, e vem ganhando cada vez mais espaço. O documentário "O mundo segundo a Monsanto" destaca os perigos do crescimento de plantações geneticamente modificadas, que, em 2007, cobriam 100 milhões de hectares, com propriedades genéticas patenteadas 90% pela Monsanto.  À frente de tudo isso, uma publicidade ‘pesada’ que serve como cortina de fumaça para as reais intenções da multinacional. 

Para Araídes são os fazendeiros, ou como ele prefere dizer ‘empresários-rurais’, os pilares de sustentação do avanço dessas multinacionais no campo da produção de alimentos. E por trás de tudo isso, um único objetivo: aumentar o lucro a qualquer custo. “Ele não está preocupado se a terra aguenta, se vai contaminar lençóis freáticos, contaminar a água ou se vai ter que derrubar uma árvore. O empresário rural pensa assim, se eu plantar essa qualidade de soja transgênica, então significa que vou faturar tanto por hectare. A terra para eles é como se fosse uma indústria”, explica. 

O assentamento tem uma conduta de comportamento, segmentada em quatro eixos. O primeiro é o eixo econômico, incentivando os agricultores a encontrar uma forma de sobreviver, de ganhar dinheiro, de se sustentar. O segundo é o desenvolvimento cultural. O coordenador afirma que o agricultor do assentamento deve sempre buscar conhecimento, respeitando outras culturas, deixando de lado o individualismo para pensar coletivamente. O terceiro eixo é o ambiental. “Como eu vou ter meu desenvolvimento econômico, se eu não respeitar o meio ambiente? A terra e a água, por exemplo, são elementos importantes. Sem eles não sobrevivemos”, diz Araídes.  O último eixo é a necessidade de autonomia política desses agricultores. O comprometimento deles é com a organização, com as famílias lá assentadas, com o MST e não com políticos ou partidos. 

Os pilares de conduta dos assentados sempre são retomados para que se possa entender qual o pensamento do grupo sobre a atual situação do meio ambiente. Araídes aprova o debate, lembrando sempre que a agroecologia está de um lado, enquanto o agronegócio está de outro. “Eu culturalmente entendi a necessidade do debate envolvendo o tema e os outros três eixos. Essa importância não é só para a família assentada, para mim ou para outro, mas para o novo modelo de sociedade que está aí, essa nova dinâmica”, diz.  De acordo com ele, se o mundo “continuar nesse desenvolvimento industrial da agricultura e do meio urbano, essa contaminação, o mundo não vai agüentar. O mundo uma hora vai explodir.” 

Algumas formas de sustentabilidade já são colocadas em prática pelos assentados. O adubo orgânico é um exemplo de que é possível quebrar o vínculo com os agrotóxicos e transgênicos. Silvio Duarte da Luz, 33 anos, é referência no assunto. “Nós transformamos aquilo que seria jogado fora em adubo. O melhor de tudo é que se trata de algo natural.” Além dele, outros assentados também desenvolvem as técnicas de produção de adubo orgânico em suas propriedades. 

Os assentados têm também alguns projetos para aumentar a produção, utilizando o meio ambiente de forma responsável. Dentre eles estão a agrofloresta, que consiste em um melhor aproveitamento da reserva legal, com a fruticultura. Onde não é necessário derrubar nenhuma árvore e sim plantar algumas frutíferas naquela área, gerando assim mais uma fonte de renda coletiva. Os agricultores já contaram com a ajuda técnica, mas a disponibilidade de tempo ainda os atrapalha na elaboração desse projeto. 

Outra grande meta é conseguir a certificação agroecológica, que reconhece o assentamento como “área orgânica”.  Mas para isso acontecer é necessário seguir uma série de critérios. Não adianta somente cultivar os alimentos de maneira orgânica, mas sim se precaver dos “vizinhos” que utilizam agrotóxicos. O veneno chega ao assentamento pelo vento e, de certa forma, atinge as plantações, contaminando em menor escala a produção. Para evitar o problema, os moradores devem construir um “cinturão verde”, que seria uma barreira de vegetação, uma cerca viva em volta de todo o assentamento. 

Os assentados compreenderam a necessidade de discutir, agir conforme as possibilidades e conscientizar que “antes de ser um negócio, a terra é fonte de vida”. Eles são exemplo de que é possível frear o processo de destruição ambiental que está em curso, principalmente com a ecologia do pensamento. “Nós queremos fazer muito, inclusive, mais do que é possível”, completa Silvio.

Pedro Sarolli entrevista Araídes, coordenador do Olga Benário

Maycon Corazza e Pedro Sarolli são acadêmicos de Jornalismo
Mais informações dos autores em: http://www.facebook.com/maycon.corazza e 
http://www.facebook.com/profile.php?id=100002103508874

2 comentários:

  1. eles sao muitos inteligenti

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  2. Muito bom trabalho. Acho que se todos começassem pensar serio na produção agroecologica evitariam muitos problemas de saúde, desmamento e muito mis. Meus Parabéns ao Assentamento e suas familias. Joelma

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