segunda-feira, 30 de abril de 2012

1º de Maio: comida, diversão e contra-informação

Ilustração: os mártires de Chicago
Historicamente, a classe patronal usa de artimanhas para alcançar objetivos e para que o trabalhador esqueça a verdadeira origem e sentido do 1º de Maio, atraindo a classe trabalhadora com seu velho 'pão e circo'. Primeiro dia do mês, dia do trabalhador e o que vem na cabeça de muitos: feriado, festas, bingos, premiações, shows de pagode ou de dupla 'sertaneja universitária', costelão e até corte de cabelo na 'faixa', tudo isso oferecido 'generosamente' por empresas e empregadores.

Mascarando o verdadeiro sentido desta data de luta, o 'festerê' promovido no feriadão serve para que o empregado - transformado hoje em 'colaborador' - esqueça os demais 364 dias do ano e abandone ideais de que é a partir da luta dos trabalhadores que se fazem as mudanças estruturais de uma sociedade.

Empresários conseguiram transformar o 1º de Maio em espetáculos das multidões atrás de prêmios, comida e diversão. Porém não podemos responsabilizar somente a classe patronal pela deturpação do sentido da data, somam-se a ela, igreja e até centrais sindicais, que há muito tempo usam dessa prática de shows com sorteios de prêmios, em atos patrocinados por grandes marcas, atendendo assim interesses classistas, prestando um serviço à classe patronal e um desserviço a classe trabalhadora.

Para dar voz ao tripé (patrões, clero e sindicalismo pelego) está a comunicação de massa, a de produção de pensamento hegemônico. Com o perdão das exceções (cada vez mais raras), a cobertura dos meios de comunicação tradicionais sobre o 1º de Maio ao mesmo tempo em que é deprimente - com suas pautas repetitivas - é também perigosa ao contribuir com esse cenário de alienação e falta de aprofundamento sobre seu real significado, ao ponto de ouvirmos a utilização de 'dia do trabalho', uma nomenclatura que para alguns pode parecer insignificante, mas que carrega um simbolismo ao valorizar o trabalho em si, como a velha ladainha do 'ato que dignifica', mas que não valoriza aquele que produz a riqueza.

Diante disso, vale destacar a importância histórica da imprensa alternativa, da comunicação sindical compromissada com a classe trabalhadora, e hoje - em épocas de era digital - as novas mídias, no papel de fazer o resgate do verdadeiro sentido do 1º de Maio como um dia de luta, uma data para reafirmação de reivindicações, defesa daquilo que já foi conquistado, reforçando a união dos trabalhadores enquanto classe que luta para acabar com toda forma de exploração e opressão.

Uma data para relembrarmos os milhares de trabalhadores que lutaram para que hoje pudéssemos ter uma série de conquistas como carteira assinada, salário mínimo, licença maternidade, direito ao voto, dentre tantos outros.

A contra-informação

Assim como a comunicação hegemônica deforma, a comunicação alternativa forma. Nesse sentido, a imprensa alternativa sempre teve um grande papel ao mostrar o 1º de Maio dos trabalhadores e ser uma porta-voz ao serviço da classe. Tudo inicia com a imprensa anarquista do começo do século XX com publicações e jornais operários como: O Operário (Recife), O Socialista (Salvador), A Luta (Porto Alegre), O Proletário (Juiz de Fora), Primo Maggio (São Paulo) e, talvez o principal deles, A Plebe (São Paulo), dirigido pelo jornalista Edgard Leuenroth.
João Ferrador

Já nos anos de 1980, a imprensa sindical começa a ganhar força e dar voz ao grito dos trabalhadores. Sindicatos lançam jornais, boletins, folders e criam símbolos, como o personagem João Ferrador, que ilustrou as publicações diárias do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, durante a histórica greve de 1980.

Infelizmente, nos dias atuais, grande parte dos sindicatos tem se focado apenas nas pautas imediatas e corporativas (de cada categoria) com suas reivindicações do dia a dia (salários, condições de vida de trabalho e jornada), deixando de lado a luta histórica do trabalhador e suas pautas comuns, sendo a principal delas, a luta contra o grande capital que explora o homem sobre o homem.   

Um dos grandes estudiosos do 1º de Maio, o escritor Vito Gianotti, do NPC (Núcleo Piratininga de Comunicação), costuma dizer que "a comunicação é um instrumento do convencimento, que junto à força da organização e luta é componente essencial para a disputa de hegemonia". Então, se hegemonia é convencimento e força, a comunicação sindical, a imprensa alternativa e o fenômeno das novas mídias tem um potencial enorme pela frente.

Histórico

O Dia do Trabalhador nasceu em 1889, de uma iniciativa dos trabalhadores organizados na AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores) de declarar um dia de luta pelas 8 horas diárias de trabalho e em homenagem aos mártires que morreram durante a greve geral de 1º de maio de 1886, em Chicago. Na ocasião, os grevistas de Chicago foram duramente reprimidos pela polícia, tendo os seus principais líderes – sindicalistas anarquistas – condenados à forca.

Ao longo dos anos, o dia 1º de Maio ficou, então, marcado como um dia para homenagear as lutas dos trabalhadores e das trabalhadoras por melhores condições de vida e de trabalho, sendo comemorado no mundo inteiro por sindicatos, associações de trabalhadores, militantes e trabalhadores do campo e das cidades.

Abaixo algumas capas de publicações históricas com menção ao 1º de Maio e a luta dos trabalhadores.

Jornal da COB (Confederação Operária Brasileira) do 1º de maio de 1913. Capa traz ilustração que traduz o ideal da central: um operário de marreta na mão sobre as caveiras do "capitalismo, clero, burguesia e militarismo".
Edição de 1918 do jornal O Cosmopolita, do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis do Rio,
conta a tragédia do 1º de maio de 1886 em Chicago
Em 1906, em Paris, é lançado o jornal satírico O Prato à Manteiga, com ilustração alusiva ao 1º de maio:
8 horas de trabalho, 8 horas de lazer, 8 horas de repouso, é o tema da capa

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