sexta-feira, 2 de março de 2012

Luta pela reforma agrária na região Oeste


A convite das direções de Brigadas do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) da região Oeste do Paraná, representantes do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), do Governo do Paraná, movimentos sociais urbanos e autoridades políticas, como o deputado Professor Lemos (PT), participaram nesta quinta-feira (01/03) de uma assembleia do movimento social no Acampamento 7 de Setembro, na Fazenda Rimafra, distrito de São João em Cascavel.

A reunião teve o objetivo de sensibilizar as autoridades para a luta pela terra na região e a aceleração no processo de regularização de áreas que estão em negociação por parte do Incra para fins da reforma agrária, entre elas, o próprio Acampamento 7 de Setembro, ocupação que completa sete anos em 2012. A área próxima à BR-277, onde vivem mais de 100 famílias, está em fase de negociação. Os proprietários da terra tem uma dívida de cerca de R$ 12 milhões pendente com o Estado, que vem intermediando a negociação junto ao Incra.

Como tradicionalmente ocorre nos encontros organizados pelo MST, o ato foi aberto com uma mística, ritual com raízes no milenarismo camponês. A apresentação dos militantes é feita em especial pelas crianças – conhecidos como 'sem-terrinhas', e constitui-se numa prática pedagógica e educativa do MST.  

Ireno Prochnow, membro da direção estadual do MST, deu boas vindas aos presentes e lembrou os primeiros passos do movimento. "Foi aqui em Cascavel, entre os dias 19 e 21 de janeiro de 1984, que iniciamos nossa caminhada. Chegamos até aqui com muito a comemorar, ao longo desses anos de luta, tiramos mais de 500 mil pessoas da miséria no País, sendo 25 mil delas somente no Paraná. Já assentamos mais de 500 famílias no Estado, mas ainda temos mais de 600 famílias acampadas", lembrou o militante.

Grilagem

O superintendente regional do Incra, Nilton Bezerra, apresentou um panorama da questão agrária no Paraná e as estratégias que vendo utilizadas pelo órgão. Para ele, o Estado vive um bom momento. "Não tivemos registro de um único despejo no ano passado e estamos em processo avançado de negociação de áreas em situação de reintegração".

Uma das estratégias utilizadas está sendo a da compra das áreas. Segundo Bezerra, existem 72 áreas com reintegração de posse no Paraná, sendo 51 delas em processo de negociação por parte do Incra. "Além disso, todos os assentamentos do Estado contam com assistência técnica", afirma.

Terras que são fruto da grilagem no Paraná também estão sendo alvo de uma 'garimpagem' por parte do órgão. "As pessoas não fazem ideia do tanto de áreas griladas que existem no Paraná, áreas 'esquentadas' em cartório. Estamos garimpando e encontrando formas de trazermos essas áreas para fins de reforma agrária", afirmou Bezerra. 

Nas terras griladas está a raiz de grande parte da concentração fundiária. Bezerra cita o desfecho positivo em relação à Fazenda Solidor, em Espigão Alto do Iguaçu. A área foi recentemente transferida para a posse do Incra. "Depois de vários anos, de uma ocupação de 10 anos, conseguimos provar que aquela era uma área pública. Nessa semana ela foi registrada pelo Incra", lembrou o superintendente.

"O Incra reconhece a importância do Movimento Sem-Terra, foi-se a época em que o Incra tratava o MST como inimigo, por isso reconhecemos a importância da luta do movimento pela reforma agrária, pois os governos passam, mas o povo fica e o que deve permanecer acima de tudo, é a organização desse povo", conclui Bezerra.

Direito à vida

Representando o governo estadual, o secretário especial de Assuntos Fundiários, Hamilton Seriguelli, afirmou que o Executivo está buscando diálogo e negociação com o movimento social. "Reforma agrária não é caso de polícia, mas de negociação. Prova disso é que não houveram despejos durante nosso governo, estamos buscando resoluções pacíficas".

Para Seriguelli, o Oeste do Estado é uma das regiões mais difíceis de atuação da pasta. "Não é fácil trabalhar aqui não, a PGE [Procuradoria Geral do Estado] tem feito seu papel. O Estado já ajuizou R$ 700 milhões em dívidas de gente grande aqui na região e isso tem deixado muitos descontentes".

O secretário também reconheceu a importância histórica do MST. "Muita gente não consegue perceber que se não fosse a pressão do movimento nas décadas de 80 e 90 muita coisa seria diferente hoje. O preço dos produtos nos mercados, por exemplo, estaria bem mais caro para o consumidor dos centros urbanos", e completa: "O que está em jogo aqui não é direito à propriedade, mas sim o direito à vida".

Lembrança

O ex-militante Valmir Mota de Oliveira, o Keno, assassinado em 2007 por uma milícia durante um conflito na antiga estação da multinacional Syngenta, em Santa Tereza do Oeste, foi lembrado nas falas dos companheiros do movimento. "Tivemos momentos tristes que precisam ser lembrados, como a morte do companheiro Keno, momentos que esperamos nunca mais passar", lembrou Ireno Prochnow. Na época em que foi morto, Keno morava com a mulher e os filhos no Acampamento 7 de Setembro.  






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