Você pode não ter ouvido falar do espanhol Alejandro Finisterre, mas provavelmente já passou algumas horas de sua vida se divertindo com sua invenção. Esse poeta, escritor e editor é o pai do jogo que na língua espanhola é conhecido como "futbolín".
Que carioca não gosta de um desafio de "totó" ou que gaúcho já não peleou numa partida de "pacau", mas a maioria dos estados brasileiros pratica mesmo o "pebolim". Esse brinquedo que tem seus regionalismos no Brasil é ainda conhecido como "mete-gol" na Argentina, "baby-foot" na França ou "matraquilhos" em Portugal.
Na semana passada, no dia 9 de fevereiro, completou-se cinco anos da morte de seu inventor, que tem uma história que merece ser compartilhada. Ironia do destino que a origem de um jogo que hoje diverte milhões seja um dos momentos mais tristes da Europa, na ascensão do nazismo e do fascismo nas décadas de 30 e 40.
Tudo teve início com uma ida de Alejandro Finisterre ao hospital, após ser ferido por uma bomba lançada por nazistas em Madri, em 1936, durante o auge da Guerra Civil Espanhola. Retirado de escombros, ele é levado a um hospital de Valencia e depois a outro hospital em Monserrat, região da Catalunhã. Por lá, Finisterre se depara com mutilados de guerra e muitas crianças.
Apaixonado por futebol, Finisterre se sensibiliza ao ver tantas crianças impossibilitadas de ter uma infância comum por causa da guerra, de não poderem estar se divertindo numa partida de futebol, por exemplo. Isso lhe inspira a criar o "futbolín" perto do Natal de 1936.
Com a ajuda do carpinteiro basco Francisco Javier Altuna, contrói a mesa e torneia os jogadores. Um dos líderes da CNT (organização sindical) e da FAI (anarquista), Joan Busquets, que tinha uma fábrica de refrigerantes, se anima a patentear a novidade. Em 1937, o pebolim é patenteado, mas Finisterre perde os documentos durante um voo à França em meio à uma tempestade, durante uma fuga do fascismo franquista.
Finisterre precisa atravessar o Pirineus a pé, levando na mochila a patente, uma lata de sardinha e duas obras de teatro que escreveu. Como disse o próprio Alejandro Finisterre em uma entrevista, a forte chuva fez os papéis da patente se converterem em "argamassa". Já instalado em Paris, Finisterre decide buscar as patentes nos arquivos de Salamanca, pois toma conhecimento que um companheiro de hospital, Magí Muntaner (do Partido Operário Unificado Marxista) tinha patenteado o futbolín em Perpinyà.
Muntaner teria escrito para contar sobre a patente, mas as cartas teriam se perdido. Finisterre então vai à empresa que estava fabricando o brinquedo na Espanha, que acaba lhe dando dinheiro para seu exílio na América Latina.
No Equador, funda uma revista dedicada aos poetas latino-americanos e na apresentação da publicação conhece o embaixador da Guatemala, que lhe anima a fabricar o pebolim em terras guatemaltecas. Segundo Finisterre, as primeiras amostras do brinquedo no continente são feitas por mãos indígenas e tendo como material o mogno de Santa Maria.
Na Guatemala, Finisterre é apresentado a Hilda Gadea, então companheira do guerrilheiro Ernesto Che Guevara. Já conhecendo a fama do argentino consegue ser apresentado à Che no Centro Republicano Espanhol da Guatemala e lhe mostra a sua invenção. "Marcamos gols juntos, tínhamos estilos parecidos", contou Finisterre em uma de suas últimas entrevistas.
Com o golpe de estado do ditador Carlos Castillo Armas, Finisterre deixa à Guatemala em direção ao Panamá. Mais tarde vai para o México onde encontra amigos poetas e escritores exilados e dedica-se às artes gráficas e a editar revistas.
Com a morte do ditador Francisco Franco, o galego volta à Espanha. Se estabelece em Zamorra, onde administra a herança do poeta republicano Leon Felipe. Morre em 9 de fevereiro de 2007, então com 87 anos. Outros registros dão conta de um alemão chamado Brotto Wachter e um suíço conhecido como Mr. Kicher reivindicarem a "paternidade" do pebolim, personagem secundários diante da história de Finisterre.
Abaixo o clipe da música "Ode ao Futbolín", homenagem do grupo "Os Diplomáticos de Monte Alto" à Alejandro Finisterre.
Grande cara, excelente exemplo de trabalho e luta.
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