terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O maldito lugar de Lester Bangs

♪♪ Hangin' out with Lester Bangs you all
And Phil Spector really has it all
Uncle Floyd shows on the T.V.
Jack Nicholson, Clint Eastwood, 10cc
But it's not my place. 
  
Entre os citados neste trecho da música It’s Not My Place (In The 9 To 5 World), do álbum Pleasant Dreams, lançado em 1981 pelo Ramones, está o jornalista californiano Lester Bangs, considerado para muitos o maior crítico de rock n’ roll de todos os tempos.

Na canção Bangs é de certa forma "enforcado" e citado a algumas "celebridades" como Jack Nicholson e Clint Eastwood. O curioso é que o jornalista abominava celebridades, os chamados VIP’s. O verso da canção do Ramones ainda diz: "este não é o meu lugar". Mas qual seria o lugar de Leslie Conway Bangs, vulgo 'Lester', que estaria de aniversário nesta semana?

Lester teve uma curta, porém explosiva, passagem pela imprensa. Iniciou fazendo "frilas" para a Rolling Stone, oportunidade que apareceu quando a revista abriu espaço para leitores fazerem resenhas de bandas. Iniciou com uma crítica do álbum Kick Out The Jams (1969), do MC-5.  

Aberta a porta, ele começou a acompanhar bandas que mudaram o cenário do rock, como Black Sabbath e Led Zeppelin. Acabou demitido da Rolling Stone por ordem do editor da revista, pois – 'maldito' que era – se recusava a escrever sob as rédeas e as amarras editoriais.

Na revista Creem conseguiu ser 'mais' Lester Bangs, com seus textos e críticas "psicotrópicas" no estilo que ficou conhecido como "gonzo jornalismo", hoje imortalizado na figura do lendário Hunter Thompson.

Assim como Hunter – conhecido por muitos apenas pela interpretação de Johnny Depp em Fear and Loathing in Las Vegas (Medo e Delírio) – muitos tiveram o primeiro contato com Lester ao assistir o filme Almost Famous (Quase Famosos), onde o crítico musical é interpretado pelo ator Philip Seymour Hoffman.  Para quem não recorda, Lester é o conselheiro de William Miller (Patrick Fugit), o "foquinha" que consegue um frila na Rolling Stone para acompanhar a banda Stillwater.

Além de escrever sobre rock, Bangs fez rock. Foi músico, juntou-se a Mickey Leigh (irmão de Joey Ramone) na banda Birdland, na Nova Iorque dos anos 70. Ainda fez parte no Texas de uma banda de punk-rock chamada Delinquents, que chegou a gravar o álbum Jook Savages on the Brazos.

Lester morreu em 1982, então com 33 anos, em decorrência de uma overdose de medicamentos. Em textos na internet, já li de alguns fãs que o jornalista era uma mistura de Kerouac e Bukowski aplicada ao rock n’ roll. Sem dúvida, uma ótima interpretação deste "maldito" que não se prendia a rótulos e que incorporou como ninguém o espírito de sua época.

É curioso pensar qual seria o lugar de Lester Bangs neste mundo atual onde as rebeldias estão cada vez mais contidas e a futilidade é cada vez mais evidente no culto às personalidades, grande motivo da repulsa do jornalista maldito, como bem exposto neste trecho abaixo de uma entrevista a publicação News Blimp, em 1980. 

“Todas as pessoas que conheço estão completamente alienadas, de saco cheio, enojadas com tudo, e sei que boa parte daqueles que trabalham na mídia e nos impingem essas coisas está tão alienada quanto o público. O público compra só porque não lhe é oferecida outra coisa. E, pessoalmente, eu me pergunto quando as pessoas vão começar a dizer: "Não! Eu me recuso, não quero mais isso!”.
[Lester Bangs]


Um comentário: