sexta-feira, 22 de julho de 2011

"Cansei"... de samba midiático atravessado!


Recebi email de um desconhecido me "convocando" para uma "paralisação geral" no dia 1º de agosto. Num primeiro momento fiquei entusiasmado, afinal paralisação geral no Brasil, até então, só a de 1917 em São Paulo. Porém ao ler com atenção a convocação vi que era uma dessas "correntes de internet" (FW), sem um aparente foco, sem direção, para um protesto de rua deslocado contra um emaranhado de coisas, tendo como principal mote a "corrupção".

O texto truncado inicia falando que devemos seguir o exemplo do povo árabe que teria se "cansado de seus governos", fala de reforma tributária para que o "Brasil seja competitivo por aí a fora", sem discutir que o problema maior não está na quantidade de impostos, mas na "sociabilização" deles. Fala em reforma prisional e fim de privilégios como "visitas íntimas", diz que ministros do STJ e STF devem ser nomeados por um "colegiado de magistrados levando em conta sua ‘notoriedade’, conhecimento jurídico e sobretudo sua honestidade". No "gran finale", empresários e até mesmo os "cara-pintadas" são chamados a ir às ruas!  

Posso estar exagerando, mas esse tipo de convocatória - no estilo "samba do crioulo doido" - lembra outro agosto, de 2007, oportunidade que se levantou das trincheiras um movimento intitulado "Cansei". Esse movimento – lançado pela OAB de São Paulo e que reunia celebridades globais, personalidades, empresários, variadas correntes religiosas, os chamados "formadores de opinião" e entidades patronais como a Fiesp, associações comerciais, Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão, entre outras - foi às ruas mostrar sua "indignação".

Civismo e amor pelo Brasil eram pregados em campanhas publicitárias que faziam questão de deixar claro que seria uma "manifestação pacífica, equilibrada e organizada". Na linha de frente, as "garotas" propaganda: Hebe Camargo, Ana Maria Braga, Ivete Sangalo (atualmente acusada de sonegação e desrespeito a leis trabalhistas) e Regina Duarte (latifundiária do "Eu tenho medo!"). 

Na ocasião, o estopim para o "protesto" foi a tragédia com os passageiros da TAM. Lembro de matéria de um portal de notícias sobre o ato, onde um "manifestante" foi questionado e esbravejou: "Avião cansei, depois de 2 anos sofrendo no aeroporto, desisti. Comprei um Honda novo e venho de carro!”, disse o "protestante" cansado e tomando um gole da água distribuída gratuitamente pela Sabesp.

Dois anos depois, em 2009, só não me recordo se foi em agosto, algumas "celebridades" como Tico Santa Cruz (sic) foram às ruas lutar pelo Fora Sarney, como se o dito cujo estivesse debutando na vida pública apenas naquele momento... Sem falar dos recentes "Na mesma moeda" e "preço justo". 

Acho que essa "convocação" atual não chega a ser uma reedição do "Cansei", mas o que chama mais a atenção (pelo menos para mim) é que a "corrente dos indignados" surge no mesmo momento em que grandes meios de comunicação massificam o discurso que o brasileiro é acomodado, em especial a Folha de São Paulo, O Globo e a Veja. Em recente edição, O Globo publicou reportagem questionando: Por quê o brasileiro não vai às ruas contra a corrupção?. Porém "esqueceu-se" de publicar a resposta de um dirigente do MST. Não sei se por um "lapso" ou por não ter agradado a editoria. (mais detalhes no link abaixo).

Nessa semana, a colunista da Folha, Eliane Cantanhêde (dispensa maiores comentários) também escreveu um texto conclamando a galera: "E os brasileiros que estudam, trabalham, pagam impostos e já pintaram a cara contra Collor, não estão nem aí? Há um silêncio ensurdecedor", dizia trecho.

O interessante de tudo isso é que esses "atores sociais" que conclamam a população para ir às ruas para protestos deslocados são os mesmos que são contra manifestações de movimentos sociais, greves, paralisações de categorias, protestos em praças de pedágio. São os mesmos que dizem que atos como do MST (que focam reforma agrária, qualidade de vida, educação e apuração de crimes no campo) só servem para fechar o trânsito, são os mesmos que são contra manifestações do passe-livre, são contrários ao direito de greve e paralisações sob o pretexto que elas prejudicam a população.

Mas o que aconteceria se o povo atendesse esse chamado da mídia tradicional, mas questiona-se pontos citados no link abaixo sobre as respostas não publicadas de O Globo, como precarização de trabalho, exploração de mão-de-obra e baixos salários, ou ainda, deixassem de se "acomodar" com a falta de democratização da comunicação ou regulação de uma mídia que tenta colocar todos num pensamento linear em um discurso homogeneizado? Com certeza deixariam de ser atos que lembram mais um samba atravessado. 


Abaixo: Movimento social responde, mas O Globo "esquece" de publicar

http://www.mst.org.br/Por-que-a-populacao-nao-sai-as-ruas-contra-a-corrupcao-mst-responde-globo-nao-publica

2 comentários:

  1. Pois é, galera. A "Companhia" é ilimitada e não existe só em filmes e nas teorias da conspiração...

    Ela é muito concreta, super ativa e controla a ideologia reinante no País.

    Não é um adversário que se deva menosprezar.

    Mas, tirando essas babaquices da direita, há muito que protestar, sim.

    Como o PCB afirmou nas eleições, "derrotar Serra nas urnas e depois Dilma nas ruas".

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  2. A coisa tá muito feia. O PT era contra a corrupção, mas no poder institucionalizou a roubalheira.

    Como no final do profético Fazenda dos Animais, olhando pela janela já não se sabe quem é humano ou quem é animal.

    No Brasil, infelizmente o máximo que se consegue é protestar contra cartola de futebol. Chegará um dia que o protesto será também contra autores de novelas.

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