quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Abram alas para o bloco do juízo final

Abram alas que o bloco do pão, circo, porrada e repressão já pede passagem. Falta certo tempo para o carnaval, mas como o ditado prega que "o ano só começa após confete e serpentina", decidi antecipar menções ao festejo popular logo na primeira postagem de 2012; um ano que para os apocalípticos que tentaram interpretar os povos Maias poderá ser o dos últimos carnavais de nossas vidas.

Não sou astrólogo, astrônomo e tampouco um astronauta de mármore, mas confesso que tenho minha própria interpretação sobre as profecias dos povos originários. Estaria a civilização pré-colombiana querendo nos avisar que o corrente ano deve ser o de grandes transformações e mudanças de atitudes e não uma reedição de roteiro hollywoodiano de gosto "duvidoso"?

Levando em conta o ano que passou até teríamos razões para esse otimismo, afinal 2011 nos trouxe alento e esperança no despertar de consciências. Talvez o maior exemplo esteja na "ocupação" de Wall Street – o grande centro financeiro em Nova Iorque – que após se multiplicar desde os Estados Unidos aos quatro cantos do mundo nos enriqueceu com o debate da criação de uma nova concepção das relações econômicas e de questionamento do modo de produção que vinha sendo apregoado como o "ideal" para nossas vidas.

As revoluções árabes nos deixaram a lição de que realmente "a praça é do povo"; médicos cubanos ensinaram o "Mr. President" como se faz uma missão humanitária em país devastado (Haiti); o terrorismo do Estado Sionista de Israel começou a ser questionado; bolivianos mostraram como se dá a luta de classes e como se respeita os povos tradicionais; enquanto nossos "hermanos" argentinos mostraram como se combate o monopólio midiático, democratizando os meios de comunicação de um país.

Por aqui - em terras tupiniquins - também tivemos o que falar. Entre outros fatos, destaco o cerco a nossa "Cosa Nostra", conhecida popularmente como CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e a organização de grupos que iniciam debates sobre o que está em jogo (fora das quatro linhas) em grandes eventos esportivos como Olimpíadas e Copa do Mundo.

Outro destaque foi a retomada da capacidade de luta e mobilizações da classe trabalhadora presenciada em 2011, ainda que distante dos holofotes da velha mídia, sempre pronta para criminalizar qualquer mobilização - especialmente greves e ocupações. A cada longa paralisação de alguma categoria ou ocupações de espaços públicos surgiam os ataques da mídia dominante e rancorosa que, em grande parte, ao invés de serem espaços informativos agem com instrumentos discursivos das elites.

São fatos que sucederam 2012 e que poderiam reforçar minha tese "de que os pré-colombianos pregavam grandes transformações", porém o início do ano parece nos querer mostrar que não há nada de novo do front. Iniciamos com as enchentes que sempre pegam as autoridades responsáveis de "surpresa"; com os retrocessos do governo (com o advento do Código Ruralista) e a reafirmação de seu "desenvolvimentismo"; com novas cenas de repressão policial a estudantes, trabalhadores e artistas de rua; com a brutalidade contra povos indígenas, camponeses, quilombolas, ribeirinhos e outros povos tradicionais de nossas terras.

Já a mídia hegemônica-comercial é um caso a parte: calada diante do debate iniciado pelo livro de Amaury Ribeiro Jr. e o anúncio da CPI da Privataria; ao mesmo instante em que grandes grupos aumentam seus monopólios, concentrando mais poder e tendo maior alcance de seus discursos homogeneizados, nos proporcionam o velho pão e circo para grande massa das "arenas dos leões", com violência e sexo explícito, "boletins de desgraças diárias" e conceituando o que "representa a cultura popular brasileira" (sic).

Enfim, bem vindo 2012, a nova edição dos "heróis" do Grande Irmão global agora tem a concorrência de "peso" de um bando de peruas frenéticas que ostentam diamantes, jatinhos, carrões, iates e roupas de grife no país de 11,5 milhões de favelados. Confesso (...) otimismo não é meu forte e admito: minha teoria de grandes transformações e mudanças de consciência para o ano parece estar caindo por terra!

Mas comecemos a tirar nossas lições agora - ou se preferirem logo após o carnaval - pois apesar dos pesares e de todo panis et circences midiático, o juízo final está muito longe de acontecer, mas poderá render belos enredos para as escolas de samba.

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