quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Comunicação pública forte só com autonomia e trabalhadores valorizados

Trabalhadores da EBC cruzaram os braços
Nesta terça-feira (9/12), os empregados da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) realizam uma paralisação de 24 horas em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e São Luís. O mote é a aprovação de um novo plano de carreiras da EBC que garanta a autonomia política e editorial e valorize os trabalhadores.

Atualmente, a EBC possui um plano de carreiras com diversos problemas. Empregados tem que trabalhar mais de 100 anos para chegar ao topo da carreira, os pisos salariais estão entre os piores do serviço público, a avaliação de desempenho não tem método justo nem critérios claros e os mecanismos de gratificação são totalmente discricionários.

Isso gera um clima de desânimo, falta de reconhecimento, valorização por proximidade e não pelo desempenho de fato, barganha na concessão de funções gratificadas e dificuldade de mobilidade nos cargos.

Entendemos que o plano de carreiras impacta diretamente as condições para produzir um conteúdo de qualidade e as possibilidades de ingerência política e editorial no cotidiano dos veículos da EBC.

As regras criadas podem, inclusive, servir de modelo para outros locais, para o bem e para o mal. Por isso, acreditamos que a revisão do plano de carreiras da maior empresa pública de comunicação do Brasil está relacionada aos rumos da comunicação pública como um todo no país.

Defendemos que um plano de carreiras deve assegurar perspectivas de carreira, procedimentos justos e equilibrados de progressão e promoção, remunerações adequadas e compatíveis com o serviço público, estímulos concretos à formação e qualificação, metodologias democráticas de avaliação de desempenho, entre outras questões. Somos contrários ao uso de mecanismos de gestão como forma de barganha, retaliação e ameaça, o que mina a independência dos trabalhadores frente a chefias, direções e governos de turno.

Neste sentido, apresentamos um conjunto de propostas após mais de um ano de debates entre os trabalhadores, entre elas: (1) melhoria da tabela salarial com redução de níveis para progredir na carreira e aumento do piso (em assembleia foi aprovada proposta de tabela com piso de R$ 4.400 para nível superior e R$ 3.080 para nível médio); (2) descrição de cargos que respeite a legislação e não abra brechas para acúmulos e desvio de função; (3) equilíbrio entre promoção por mérito e antiguidade; (4) Instituição de uma gratificação por qualificação; e (5) avaliação paritária (com igual peso para avaliação própria, pelos pares e pela chefia).

No entanto, os gestores da empresa acolheram muito pouco desta pauta. Pior, apresentaram propostas preocupantes. Um exemplo é a introdução de pisos diferenciados por carga horária, o que penalizaria as categorias com jornada especial, como radialistas e jornalistas.

Outro é o aumento de funções gratificadas (como funções técnicas e de supervisão), o que, combinado à ausência de procedimentos internos de seleção com regras claras, amplia a dependência dos trabalhadores em relação às chefias.

A paralisação dos trabalhadores da EBC visa sensibilizar a diretoria da empresa, o governo federal e a sociedade para a importância do processo e para a pauta dos empregados. Pois entendemos que o fortalecimento da comunicação pública passa necessariamente pela promoção da sua autonomia e pela valorização dos seus trabalhadores.

Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e São Luís, 4 de dezembro de 2014

Comissão de Empregados da EBC

Sindicato dos Radialistas do DF

Sindicato dos Radialistas do RJ

Sindicato dos Radialistas de SP

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF

Sindicato dos Jornalistas do RJ

Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de SP

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Intervenções culturais alteram rotina escolar no bairro Floresta

Apresentações de hip hop
Foi encerrada nesta sexta-feira, dia 28 de novembro, a Semana Cultural do Colégio Estadual Francisco Lima da Silva, no Bairro Floresta, em Cascavel. O evento não é um fato isolado da unidade escolar localizada na região norte do município. O colégio tem promovido vários projetos de intervenção cultural, integrando professores, alunos e comunidade.

A proposta traz uma experiência que costuma fazer parte da rotina de universidades e faculdades. Essas ações tem alterado a rotina escolar e servido também para mudar mentalidades, vencer preconceitos e contribuir para alta estima da comunidade. "Essa é a segunda intervenção cultural que realizamos. Nossa intenção é trabalhar de forma lúdica com os alunos. São momentos que acabam sendo tão importantes para o aprendizado e para formação quantos as aulas dentro de sala", comenta o professor Péricles Ariza.

Durante os últimos dias, professores, alunos e comunidade participaram de oficinas e acompanharam apresentações que abordaram desde a cultura dos povos tradicionais, como o coral da Escola Indígena Araju Porã, de Diamante do Oeste, até a cultura contemporânea, com a arte urbana e shows de hip hop e break.

As oficinas também foram destaque do evento, entre elas, desenho, poesia, grafite, culinária, reutilização de materiais recicláveis, origami e esportes. Apesar das atividades não serem obrigatórias a presença dos alunos é grande. "Temos cerca de 1,3 mil alunos e pelo menos 80% deles participam de nossas intervenções culturais", comenta a diretora Silmar Paschoali.

O rapper Anderson Marcos da Silva, o Andy Combatente, destacou o projeto promovido pelo Colégio Estadual Francisco Lima da Silva. "Nós [Grupo Combatentes] participamos da primeira Semana Cultural e é sempre muito bom voltar a tocar aqui, recitar nossas poesias e passar nossa mensagem dentro do colégio. Conhecimento é tudo", destaca.

Oficina de grafite com Isaac Souza de Jesus

Crianças do coral Guarani de Diamante do Oeste


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

'Passaralho': Demissão em massa na Folha de Londrina

Arte: Simon Taylor/Sindijor-PR
Os Sindicatos dos Jornalistas do Norte do Paraná e do Estado do Paraná manifestam sua indignação com as demissões ocorridas nesta quinta-feira (20/11) de 20 profissionais - dos quais oito da redação - na Folha de Londrina, em Londrina, com a alegação de corte nos custos de produção do jornal. O jornalismo no País atravessa um período de crise por sua perda de qualidade e isso está diretamente relacionado à redução do número de jornalistas nas redações.

Nos últimos anos, os leitores viram minguar o número de páginas dos jornais, que chegam às bancas cada vez mais enxutos e com matérias produzidas por assessores de imprensa e agências de notícias. O jornalismo local, de valorização da comunidade, vem perdendo espaço. Isso decorre da visão estreita dos empresários de comunicação que cada vez mais desvalorizam os profissionais que, dia a dia, saem em busca de notícias sobre política, cultura, educação, esporte e tantos outros assuntos que fazem parte do cotidiano de uma cidade.

Em 2013, a presidente Dilma sancionou a lei de nº 12.844/2013, que prevê a desoneração da folha de pagamento para as empresas de comunicação social. Isso ocorreu após reivindicação da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e da Associação Nacional dos Editores de Revista (ANER). De acordo com a lei, a contribuição de 20% ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) sobre a folha de pagamento será substituída pela alíquota de 1% do faturamento das empresas.

Os donos da mídia, entretanto, têm promovido demissões em massa pelo Paraná e pelo Brasil. No último mês, foram mais 40 demissões na Gazeta do Povo. Eles mostram que não têm qualquer compromisso com a manutenção de empregos e muito menos com a construção de um país melhor.

Não estão preocupados com a informação de qualidade e com o debate público sobre questões de interesse público. A única preocupação das empresas tem sido o lucro do negócio. Descartar jornalistas experientes e com mais tempo de casa, por terem salários acima do piso da categoria – uma categoria que tem um dos pisos mais baixos entre as várias categorias profissionais – demonstra uma visão que despreza o conteúdo e a qualidade em nome dos interesses comerciais.


A competência, dedicação e compromisso com o bom jornalismo não entram na conta dos donos da mídia. Eles ainda não aprenderam a lição de que jornal se faz com jornalistas.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Embaixador garante que Palestina resistirá aos ataques israelenses

Foto: Joka Madruga/Terra Livre Press 
O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, garantiu que a população mais antiga do mundo não será extinta. As recentes ondas de ataque ao povo palestino suscitaram dúvidas com relação ao futuro da população, mas Alzeben foi enfático. "Resistiremos pela sobrevivência de um povo", destacou o embaixador em todas as reuniões e palestras que participou em Curitiba.

Alzeben, que é nascido na Jordânia, também uma das vítimas da ocupação israelense, esteve por três dias no Paraná para conversar com autoridades e estudantes em busca de apoio à luta pela liberdade e independência da Palestina. Após reuniões com o prefeito Gustavo Fruet, o vice-governador, Flávio Arns, e o presidente da Câmara, vereador Paulo Salamuni, o embaixador falou para quase 500 pessoas na Faculdade Uninter. 

"Esse contato com outros países é importante para elevarmos o apoio internacional contra o invasão de Israel. A Palestina vai recorrer aos tribunais internacionais pelo fim do genocídio e por sua liberdade", afirmou Alzeben. "Não estamos numa luta religiosa. A guerra, instaurada muito mais pela vontade dos israelenses visando o controle do território, é política. A religião judaica ou a islamita não tem nada com esse conflito", completou. 

Apoio no Paraná

Em 2014, a Organização das Nações Unidas decretou o "Ano Internacional de Solidariedade com o Povo da Palestina" e as embaixadas do país pelo mundo têm buscado ações com aliados para a reconstrução das cidades e doações de alimentos às famílias palestinas. "Com as investidas de Israel cada vez mais brutais, aumenta o sofrimento e a dificuldade de sobrevivência", explicou Alzeben.

Flávio Arns e Gustavo Fruet afirmaram que estudarão ações para campanhas solidárias à Palestina encampadas pelos governos. Na Câmara de Vereadores, o embaixador recebeu um compromisso de parlamentares locais. "Vamos propor um projeto de Lei que nomeie uma cidade-irmã de Curitiba", afirmou o vereador Jorge Bernadi, que acompanhou a audiência. Nablus, cidade localizada ao norte da Cisjordânia, foi escolhida como a possível irmã da capital do Paraná. 

Redes sociais mostram a verdade

A crueldade dos ataques de Israel tem dificultado cada vez mais que as investidas sejam negadas pela grande mídia. Historicamente, a imprensa comercial mostra um viés de “defesa” judaica aos ataques do Hamas do que os ataques iniciados pelos israelenses.

“Esse genocídio não pode mais ser escondido. As empresas de comunicação que ‘encobriam’ a verdade hoje precisam publicar o que aparece pelas mídias sociais, sob risco de descrédito”, ressalta Alzeben.

As redes sociais, aliás, viraram as grandes aliadas. Conectados, palestinos alimentam com informações os movimentos aliados e personalidades mundiais mostrando "o outro lado", o lado real.

Texto: Gustavo Henrique Vidal

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Embaixador da Palestina cumpre agenda em Curitiba

Ibrahim Alzeben ministra palestra e atenderá jornalistas
O acirramento do conflito entre Palestina e Israel chamou a atenção de todo mundo ao longo deste ano. Com base neste interesse o embaixador do Estado da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, cumprirá uma série de atividades públicas em Curitiba nesta quinta (6/11) e sexta-feira (7/11).

As atividades oficiais do embaixador Ibrahim Alzeben tem início na manhã de quinta-feira com uma audiência marcada para às 9h30 na prefeitura de Curitiba com o prefeito Gustavo Fruet. De lá o representante palestino no Brasil segue para a Câmara Municipal de Curitiba onde, às 11h30, conversa com vereadores.

O embaixador ainda ministrará uma palestra no auditório do Campus Tiradentes da Faculdade Uninter. A exposição intitulada “Palestina: História de Genocídios e de Esperanças” – Reflexões sobre a complexidade da região da Palestina, terá análises sobre temas centrais da vida na Palestina, como perda território e os embates com Israel. A atividade terá início às 19h30 na Rua Saldanha Marinho, 131, Centro de Curitiba.

Na sexta-feira [07] Alzeben concederá entrevista coletiva no Salão Nobre da  Mesquita Imam Ali ibn Abi Tálib. O horário marcado é 10 horas na Rua Dr. Kellers, 383 - Bairro São Francisco.

 Serviço: Visita do embaixador da Palestina à Curitiba

Dia 06
09h30 :: Reunião na Prefeitura de Curitiba com prefeito Gustavo Fruet
11h30 :: Reunião com vereadores na Câmara Municipal
19 horas :: Palestra “Palestina: História de Genocídios e de Esperanças”na Uninter.

Dia 07
10 horas :: Entrevista Coletiva no Salão Nobre da  Mesquita Imam Ali ibn Abi Tálib

Mais informações:
Ualid Rabah :: (41) 9682.7729
Gustavo Vidal :: (41) 9195.6363


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

"Zero, Zero e confirma": Para além da hora do voto

Professor Péricles, do Grupo Movimento 
Matéria originalmente publicada na Gazeta do Paraná em 26 de setembro de 2010. Republicada no blog devido a proximidade das eleições. 

Entramos na semana derradeira, decisiva para aqueles que pretendem nos representar. Nos próximos dias, a população já acostumada com a poluição visual proporcionada pelos milhares de cavaletes e bandeiras com algarismos eleitorais espalhados por canteiros centrais, terá que se preparar para  cartada final de candidatos que intensificarão seus trabalhos de convencimento, seja pelo corpo a corpo com o eleitorado, ou pela ação direta e indireta de seus cabos eleitorais.

Além das propagandas e promessas – muitas não aplicáveis – nessa fase também ouvimos discursos sobre o exercício da cidadania, que versam sobre o direito e consciência do voto, com lemas como “momento de pensar os próximos quatro anos”. Porém, há quem discorde dessa conjuntura, onde se discute política somente em época eleitorais e vejam nesse momento uma grande oportunidade de protestar e ampliar o debate político para além das urnas.

Diante de uma posição de descrença política, a melhor alternativa para alguns passa ser negar o voto a todos os candidatos. Na medida em que aumentam os escândalos e casos de corrupção, também cresce uma camada que, apesar de ainda não passar de 4% do eleitorado, vem ganhando força. A cada eleição aumenta o número de “Comitês do Voto Nulo” pelo país, alguns mais radicais ao estilo “Rauzito”, pregando a “não nutrição de parasitas” e outros que propõe um debate além do voto, discutindo temas como direito dos trabalhadores, voto facultativo e, especialmente, a democracia direta (participativa).

Grupo Movimento

Em Cascavel, o Grupo Movimento, que reúne estudantes e trabalhadores, organiza a campanha pelo Voto Nulo. Apesar de saber que anulação não tem resultado prático no sistema eleitoral, o grupo afirma que o Voto Nulo é uma maneira de protestar e iniciar um debate que não termina com a posse dos eleitos.

O professor de história, Péricles Ariza, um dos integrantes do comitê, esclarece que o momento não é contrário as eleições em si, mas sim a forma como se apresenta. “Não negamos as eleições, tanto é que comparecemos as urnas e damos nossos votos. Somos favoráveis as eleições até certo ponto, ao invés dela enfatizar somente a democracia representativa, ela deveria mostrar como funciona uma democracia direta, onde as pessoas realmente têm voz”.

Segundo o historiador, o Voto Nulo além de ter o caráter de protesto, também tem o sentido de provocar os partidos, especialmente os que dizem representar a classe trabalhadora. “Num primeiro momento é uma forma de protesto, a corrupção por si só já um ótimo motivo para o voto ser anulado, ma a gente não pode parar nisso. O objetivo também é provocar os partidos, especialmente os de esquerda, a defenderem programas que levem a resolução definitiva de problemas como o desemprego”.

Péricles afirma que a democracia representativa pode “pregar uma peça” no eleitor que muitas vezes escolhe a opção de votar no “indivíduo candidato”. “Muitos se iludem e votam em determinada pessoa e suas promessas, mas por trás destes indivíduos estão os partidos e seus programas partidários, que são paliativos e não resolutivos”.

Nulo e Branco

Para contrariar alguns “mitos” e discursos propagados, Péricles faz questão de ressaltar a diferença entre o Voto Nulo e Voto em Branco. “O voto em branco é aquele que aparece na urna. O seu significado é do “tanto faz”. Já no voto nulo você dizendo não para todos eles, ele tem esse caráter de protesto que o branco não tem. O branco é voto da isenção. Muitos dizem que estamos perdendo um direito, mas é o contrário, nós estamos exercendo esse direito votando nulo, usando um direito como protesto e ao mesmo tempo organizando as pessoas que estão desacreditadas com esse sistema. Os partidos que vencerão essas eleições não tem projeto de uma nova sociedade”, dispara.

Aristóteles 

O historiador, que também estuda Filosofia, tem uma forma curiosa de avaliar discursos sobre cidadania, peculiares em momentos eleitorais, usando como exemplo o filósofo Aristóteles. “Esse discurso cidadão serve para arrebanhar as pessoas para legitimar o governo e seus candidatos. Aristóteles dizia que na política tem momentos que o povo quer ser soberano. No momento do voto os poderosos precisam bajular as pessoas porque eles querem ser soberanos. Veja no ambiente de trabalho, por exemplo, não podemos exercer cidadania, apenas executar ordens. Depois que acaba eleição, a cidadania acaba. Depois de eleitos, ai vem o ‘exame de próstata’ no povo”.

“Intolerância democrática”

Eleição lembra democracia e livre opinião, porém a prática nem sempre é respeitada, inclusive por quem usa o discurso para angariar votos. O Grupo Movimento sentiu isso na pele durante uma manifestação recente no calçadão da Avenida Brasil. Tudo aconteceu em uma panfletagem em frente ao Café Boca Maldita, ponto tradicionalmente utilizado para tais discussões.

No instante da panfletagem, um candidato a deputado estadual fazia campanha do outro lado da avenida, em frente à Catedral. Incomodado com a panfletagem pelo voto nulo, o postulante a uma vaga na Assembleia foi ao encontro dos manifestantes. “Ele deve ter se sentido incomodado e foi até nós pedir para que a gente largasse mão daquilo. Ele inclusive falou pra gente ir trabalhar com ele, que ele pagava bem os cabos eleitorais”.

Depois da tentativa de “compra de consciência”, um dos integrantes do grupo acabou respondendo o candidato. “Um de nós falou que a diferença entre nós e ele é que a gente não estava ali fazendo algo por dinheiro e sim convicção, e falo que não compactuava com essa corja de ladrões. Se sentindo ofendido, ele levantou voz e pediu pra retirarmos o que falamos e tentou nos intimidar pedindo nomes e onde trabalhávamos, mas enfim, esse foi um fato isolado, mas acontece”.

O historiador fez questão de esclarecer que o material do grupo não tem nenhum direcionamento pessoal a candidato ou partido. “Nós questionamentos a estrutura, nossos cartazes e panfletos não são direcionados a ninguém, não há críticas pessoas, mas ele se ofendeu”, completou.

Curiosa e coincidentemente, a reportagem presenciou outro episódio. No momento em que a entrevista acontecia em frente a uma construção próxima a Unipar, um jovem parou seu carro foi ate onde acontecia a entrevista e, sem dizer uma única palavra, rasgou cartazes do movimento que estavam em um tapume. Com uma ‘educação’ de dar inveja (sic), o rapaz incorporou uma espécie de ‘inspetor ambiental’, dizendo que estaríamos sujando a construção, sem mencionar qual sua relação com a obra, que por sinal, estava emporcalhando a calçada com seus entulhos. Outro detalhe é que os cartazes estavam colados no local há mais de uma semana.

Bandeiras

Além do Voto Nulo, o Grupo Movimento levanta outras bandeiras: Defesa da democracia direta, por meio de conselhos, assembleias, sindicatos, associações independentes e DCEs; Luta contra o desemprego, demissões e achatamento salarial; Defesa da redução da jornada de trabalho, sem redução de salários; Reajuste automático dos salários de acordo com a elevação dos preços; Criação de frentes públicas de trabalho nas cidades; Criação de frentes de trabalho no campo, por meio de fazendas públicas.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O decreto "bolivariano" e a desinformação

Foto: Marcos Bezerra/Futura Press

Na condição de militante da comunicação, dois pontos me chamaram atenção no embate entre os "presidenciáveis", ambos protagonizados pelos imparciais Boris Casoy e José Paulo Andrade - escolhidos a dedo por seus históricos. Particularmente, acho que o Pannuzio se portou bem. Um deles é sobre o Decreto Federal nº 8.234, de 2014, que institui a Política Nacional de Participação Social.

Chamado de "bolivariano" pelo jornalista da Band News, tal decreto é até bastante tímido, pois simplesmente regulamenta conselhos de política pública, comissões e conferências que já existem e vem sendo adotadas pelos governos Lula e Dilma. É tão somente uma tentativa de institucionalizar mecanismos como conselhos de políticas públicas, mesas de diálogo, audiências públicas, ouvidorias, consultas, plebiscitos, entre ouros mecanismos.

Portanto, a esses teóricos do caos e da desinformação, não estamos diante de uma "revolução social" - apesar dos brados de "chavismo". Me estranhou que o José Paulo Andrade não usou o termo "bolchevização". Assim como vem acontecendo nos últimos meses no Congresso Nacional, onde vários parlamentares se revezam na tribuna para fazer discursos "desesperados" na tentativa de anular tal decreto, o jornalista tabelou com um dos candidatos para caracterizar o medo da elite de qualquer possibilidade de "poder popular", conseguiram transformar a palavra "democracia direta" em artifício de "ditaduras". 

E a pergunta é: por que tanto barulho? Qual é o temor em possibilitar a movimentos sociais e setores organizados da sociedade com espaços minúsculos em instâncias que na maioria das vezes tem papel meramente consultivo?

Esse tipo de ofensiva articulada entre a grande mídia, determinados políticos e alguns setores da sociedade nos levam a crer que toda essa história de reforma política não passa de retórica, pois muitos não irão permitir nenhuma mudança do sistema político atual. 

Quando até mesmo um tímido decreto de "participação social" causa tanto pânico só podemos ratificar que a democracia só pode ser uma mera formalidade. O mesmo jornalista ainda mostrou-se "arrepiado" com a possibilidade da realização de plebiscitos no país. 

O pavor pelo Decreto º 8.243 comprova que não haverá qualquer mudança nas atuais regras que privilegiam os grandes grupos econômicos. O segundo ponto que me chamou atenção é a tentativa de confundir quem pouco sabe sobre o marco regulatório dos meios de comunicações - algo presente em diversos países pelo mundo - pela velha bravata da "censura".

domingo, 24 de agosto de 2014

Panfletagem em Cascavel cobrou maior valorização aos jornalistas

Ato do Sindijor no calçadão central de Cascavel
Lemos jornais, acompanhamos noticiários na televisão ou no rádio, ou ainda nas redes sociais, mas nem todos conhecem o cotidiano de trabalho de grande parte dos jornalistas. Com o objetivo de informar a realidade da profissão à população e cobrar maior valorização à categoria, jornalistas de Cascavel foram às ruas neste sábado (23/08) e realizaram uma panfletagem no calçadão da Avenida Brasil.

O objetivo do ato - organizado pela Subseção Regional do Sindijor-PR (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná) - foi explicar à sociedade a dificuldade que os profissionais estão tendo para fechar a Convenção Coletiva de Trabalho de 2014, além de expor a situação de precarização, pressão e assédio que muitos trabalhadores sofrem em alguns locais de trabalho.

Além de abordar a luta pelo aumento real e o fato dos sindicatos patronais não "aceitarem" negociar nada além da reposição da inflação, o informativo entregue a população nas ruas trouxe questões como acúmulo de trabalho e de funções, pressões, jornada excedente, horas-extras não pagas, falsos estágios, desrespeito ao piso salarial, ao anuênio, ingerência de terceiros, contratos precários ou registros irregulares, ameaças e assédio moral.

Os meios de comunicação do Paraná inicialmente apresentaram “proposta” de redução do piso salarial no interior do Estado. Após manifestações da categoria, os empresários tiraram o “bode da sala”. Depois disso, os patrões propuseram assinar a convenção apenas com a reposição da inflação, sem a discussão de nenhuma outra cláusula prevista em nossa pauta de reivindicações. "A verdade é que os problemas da categoria nunca foram tão omitidos pelas empresas de comunicação como vem acontecendo atualmente", comenta Júlio Carignano, diretor do Interior do Sindijor. 

No dia 04 de agosto, o Sindijor-PR e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná encaminharam documento com o resultado das assembleias, onde a proposta patronal foi rechaçada, porém essa semana nos foi enviado outro ofício dos representantes patronais, onde afirmam que não dá pra avançar.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Cimi: Pelo menos 53 índios assassinados em 2013

Comunidade Guarani de Diamante do Oeste (PR) | Foto: Júlio Carignano
O Cimi (Conselho Indigenista Missionário) divulgou nesta quinta-feira, dia 17 de julho, relatório sobre a violência contra os povos indígenas no Brasil. Segundo o órgão, das 1.047 áreas reivindicadas por povos indígenas, apenas 38% estão regularizadas. Os assassinatos, um total de 53 vítimas, são consequência de conflitos pela disputa por terras e da omissão do governo federal. Confira abaixo os números apresentados pelo relatório.

- Violência contra o patrimônio: 97 casos

- Conflitos relativos a direitos territoriais: 10 casos

- Invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio: 36 casos

- Assassinato: 46 casos (53 vítimas)

- Tentativa de assassinato: 29 casos (328 vítimas indígenas, estudantes e 4 comunidades)

- Homicídio culposo: 10 casos (13 vítimas)

- Ameaça de morte: 10 casos (14 vítimas indígenas e várias comunidades)

- Ameaças variadas: 10 casos (35 vítimas indígenas e várias comunidades)

- Lesões corporais dolosas: 7 registros (8 vítimas e 1 comunidade)

- Abuso de poder: 2 casos (6 vítimas e 1 comunidade)

- Racismo e discriminação étnico cultural: 23 ocorrências (3.618 vítimas indígenas, várias comunidades e povos do Brasil)

- Violência sexual: 11 casos (10 vítimas e 1 comunidade)

- Suicídio: 54 casos (56 vítimas)

- Desassistência na área de saúde: 44 casos (437 vítimas)

- Morte por desassistência à saúde: 6 casos (7 vítimas)

- Mortalidade infantil: 5 casos (6 vítimas)

- Disseminação de bebida alcoólica e outras drogas: 4 casos (3.215 vítimas)

- Desassistência na área de educação escolar indígena: 22 casos (467 vítimas)

- Desassistência geral: 39 casos (3.826 vítimas)


Fonte: Cimi

sexta-feira, 11 de julho de 2014

O compromisso do governo com os monopólios da comunicação

Nildo em seminário na Unioeste (Cascavel), em 2011
* Nildo Ouriques

O programa ‘De Zurda’ é do canal venezuelano TELESUR. Nós brasileiros não podemos ver em canal aberto. Não creio que TELESUR representa um projeto revolucionário de televisão; longe disso. Nem em conteúdo e menos ainda em estética e linguagem. No entanto é infinitamente mais aberto e melhor quando comparado com qualquer "coisa" que sofremos aqui.

Ainda que a torcida argentina cante que Maradona é melhor que Pelé (como poderia ser diferente!?), os gritos são incapazes de mudar a arte e os números do Rei. Tal reconhecimento não me impede de ver a arte de Maradona e sua posição política no contexto argentino. Bueno, por aqui o governo não quer nem tocar no controle que a burguesia exerce sobre os meios de comunicação. A base difusa que apoia o governo se ilude com a simulação quando um assessor de quinta ou o "sub do sub do sub" (Rui Falcão, por exemplo) DIZ algo sobre uma possível “democratização dos meios de comunicação”, geralmente em períodos próximos a alguma eleição. Mas tudo fica na declaração, como a vida prova.

Aqueles que apoiam o atual governo como expressão do horizonte político possível entre nós, deveriam pensar seriamente nas contradições e na correlação de forças existente na sociedade brasileira que permitem e EXIGEM mudanças e rupturas que mais cedo do que tarde ocorrerão. Aqueles que calam sobre as limitações e compromissos com as classes dominantes do atual governo esquecem que precisamente neste silêncio prospera a "direita" e o conservadorismo que supostamente pretendem combater.


* Economista e professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Nildo Ouriques é doutor pela UNAM (Universidade Autônoma do México). Atualmente coordena o IELA (Instituto de Estudos Latino Americanos). 

Quem quiser conferir o programa De Zurda, ele está disponível nas redes sociais, pelo Youtube e pelo Facebook: https://www.facebook.com/DeZurda

quinta-feira, 3 de julho de 2014

#jornalistasmobilizados: Até onde irá a intransigência patronal?

No dia 1º de julho completou-se dois meses da data base dos jornalistas paranaenses. A negociação está travada por uma proposta dos empresários dos meios de comunicação do Estado, em especial do interior, que querem a todo custo reduzir o piso mínimo de seus trabalhadores.

Querem retirar uma conquista histórica da categoria: o piso unificado estadual. Piso este que muitos destes empresários sequer respeitam atualmente, ou seja, querem legalizar uma irregularidade que já acontece nas cidades do interior: jornalistas recebendo abaixo do piso e trabalhando em carga horária superior a cinco horas previstas na CLT (sem remuneração de hora extra) e sob a forte pressão de assédios morais dos mais variados tipos.

A principal "justificativa" dos representantes dos patrões é a dificuldade dos empresários manterem seus negócios. Uma "dificuldade" questionável pelos números apresentados pelo projeto Intermeios e o Diesse, que provam o contrário, mostrando que todos os segmentos da mídia (TV, impresso e rádio) tiveram crescimento significativo em seus faturamentos, especialmente quando comparado a desvalorização do salário de seus trabalhadores. Se há a dificuldade, que usem a criatividade em seus setores comerciais, se reciclem, mas não busquem cortar daqueles que são os verdadeiros responsáveis pela lucratividade de suas empresas. 

Na última segunda-feira (30/06), a direção do Sindijor-PR (Sindicato dos Jornalistas do Paraná) tentou reabrir o diálogo, porém eles seguem tentando nos empurrar goela abaixo uma "proposta" já rechaçada pelos trabalhadores em assembleias e por abaixo assinados. A única resposta para os trabalhadores na mesa foi: "SÓ NEGOCIAMOS COM A REDUÇÃO DO PISO (sic)!".

Enquanto outros sindicatos pelo país usam o exemplo do Paraná para lutar por piso unificado, nossos patrões paranaenses querem retroceder com uma proposta ridícula de diferenciar trabalhadores do interior e da capital. As perguntas que não querem calar: Qual o objetivo dos empresários em protelar a data base, uma vez que eles sabem que uma proposta de redução do piso já foi descartada amplamente pelos jornalistas? Até onde irá a intransigência dos sindicatos patronais?

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Tradicionalismo se rende ao "casal" Heros e Maria Vitória

Dellavega exibe prêmio conquistado em Foz
Os 'sitiantes' que acompanham esse blog sabem que ele busca valorizar a arte e cultura - especialmente a produção independente. Nesse sentido, o Sítio Coletivo abre novamente a porteira ao camarada violeiro Heros Dellavega, que no início deste mês teve mais um reconhecimento do seu trabalho.

Cantor, compositor, instrumentista, poeta e pesquisador da música popular brasileira, Heros foi um dos protagonistas do XII Encontro das Águas, realizado entre os dias 1º e 4 de maio, em Foz do Iguaçu. Festival nativista, o evento congrega artistas das três pátrias lindeiras (Brasil, Argentina e Paraguai).

O violeiro foi premiado com o 1º lugar na categoria 'Música e Composição Instrumental', com a música Poconé, que faz parte do repertório do seu álbum O Compositor da Lua. Poconé é um típico município pantaneiro do Mato Grosso do Sul, com pouco mais de 31 mil habitantes.

Heros Dellavega foi o primeiro músico na história do festival Encontro das Águas a ganhar o premio tocando viola caipira, quebrando a tradição da sanfona e da gaita. "Tiveram que se dobrar a minha viola ‘Maria Vitória’", brinca.

O cascavelense destacou a importância do festival, um dos principais do gênero no país e fez um agradecimento especial no mês das mães. "Agradeço principalmente minha mãe, dona Maria Volski Dellavega, além de toda minha família, amigos que por onde eu passo nesse Brasil sem fronteiras tocando minha viola estão sempre ao meu lado me dando forças".

Quem quiser conhecer mais sobre o violeiro "Sete Flecha", pode acessar outra postagem do Sítio:
http://sitiocoletivo.blogspot.com.br/2011/05/heros-dellavega-talento-do-velho-oeste.html

sábado, 3 de maio de 2014

Pele vermelha, liberdade de imprensa é isso...

Pois bem sitiantes, o assunto é novamente imprensa. Gostaria de ser breve, mas são tantas datas que me confundo e me estendo: é dia de jornalista, do repórter, do comunicador, da imprensa e da liberdade dela. Dias atrás foram congratulações pelo Dia do Jornalista, momento que o "colaborador" se sente valorizado com tapinhas nas costas, bombonzinhos e as palavras orgulhosas de suas progenitoras.

Neste dia 3 de maio é lembrado o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa e no dia 7 de junho será a vez de "comemorarmos" o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. Como essa "liberdade" pode variar de órgão para órgão, estado para estado e país para país, porque não termos um dia mundial e outro nacional. Só falta agora o estadual e municipal (sic).

Mas essa tal de "liberdade de imprensa" remete a reflexão, uma pulguinha atrás da orelha e uma pergunta ao estilo dos ancestrais tradicionais. Um deles diria: “liberdade de quem e para quem, cara pálida?”.

Confesso que realmente acredito no conto da liberdade de imprensa, ou melhor, "da imprensa", afinal a mídia tradicional está cada vez mais livre, leve e solta para dizer o que bem entender, inclusive para difamar quem quiser e quando quiser, livre também para - quando necessário - omitir e manipular.

A imprensa é livre para promover censura prévia aos seus "colaboradores" por meio de pautas com conteúdos regidos pelo departamento financeiro e comercial; livre para promover monopólios e oligopólios, fazer propriedade cruzada, contratos comerciais e acordos publicitários antiéticos com governos municipais, estaduais e federal.

Temos liberdade de imprensa para promover preconceito, seja ele de credo, gênero, raça, sócioeconômico ou de orientação sexual. Há liberdade para - em nosso estado laico - praticarmos proselitismo religioso para sustentação financeira de grandes igrejas por meio de concessões públicas de rádio e televisão.

Liberdade de imprensa que também passa pelas facilidades dessas concessões estarem nas mãos de grupos econômicos e políticos, visto que em Brasília dezenas de congressistas detêm concessões, fora aquelas que estão nas mãos de seus "laranjas". Sem falar dos meios impressos que não precisam dessa “autorização previa”. Facilidade essa que se contrapõe a dificuldade burocrática àqueles que querem instituir uma rádio ou televisão comunitária.

Também temos a "liberdade" de não seguirmos o Capítulo V de nossa Constituição Federal, que versa sobre Comunicação Social, afinal vários itens ainda não foram regulamentados. Viram, querem coisa mais "libertária" que não seguirmos a constituição?...

Vejam o caso do artigo 220, em seu parágrafo 2º: "É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística". Já o parágrafo 5º traz: "os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio e oligopólio".


Por último o artigo 221, que fala sobre a produção: "I - preferência a finalidade educativas, artísticas, culturais e informativas/ II - promoção cultural nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação/ III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística".

Enfim, depois de todas essas particularidades, não há como não acreditar no conto da liberdade da imprensa, afinal não precisa estar acompanhada de "liberdade de expressão". Não me espanta a mídia tradicional, os grandes meios de comunicação, fazerem oba-oba nessas datas comemorativas.

Respondendo a pergunta do ancestral acima: "liberdade de empresa é isso, pele vermelha".  

sábado, 26 de abril de 2014

Ato marcará Dia em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho

Péssimas condições de trabalho em frigoríficos será um dos focos
O Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, 28 de abril, será lembrado com ato público em Cascavel. O evento é organizado pelo SintiAcre (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação de Cascavel), Sindepospetro (Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo de Cascavel e Região), APP-Sindicato-Núcleo Cascavel, MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e Paróquia da Ascensão da Igreja Anglicana.

A concentração será a partir das 9 horas, na Boca Maldita, no calçadão da Avenida Brasil. Os manifestantes farão caminhadas até o Ministério do Trabalho e o INSS, onde entregarão uma carta aberta à população. O principal objetivo é chamar a atenção da sociedade para a gravidade dos acidentes de trabalho no Brasil, especialmente denunciar as péssimas condições de trabalho a que estão expostos os trabalhadores de frigoríficos avícolas e de carnes na região Oeste do Paraná.

As doenças do trabalho são comuns no processo de produção dos frigoríficos, pois a organização do trabalho geralmente ocorre em linhas de montagem, especialmente nas nórias, onde os frangos são pendurados, causando LER (Lesões por Esforço repetitivo) e DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho), além dos casos de mutilados. "Esses trabalhadores estão expostos a carga excessiva de jornada de trabalho, ambientes insalubres, gestos repetitivos, hora determinada para ida ao banheiro ou beber água", comenta o reverendo Luiz Carlos Gabas, da Igreja Anglicana de Cascavel.

Segundo dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho), divulgados em 2013, 2 milhões de pessoas morrem por ano por conta de doenças ocupacionais no mundo. Já o número de acidentes de trabalho fatais ao ano chegam a 321 mil. Neste panorama, a cada 15 segundos, um trabalhador morre por conta de uma doença relacionada ao trabalho. No Brasil, são quase 4 mil mortes anualmente em decorrência de acidentes de trabalho. Os dados da OIT colocam o país como quarto colocado no ranking mundial de acidentes fatais de trabalho.

Porque 28 de abril?

Em 28 de abril de 1969, a explosão de uma mina nos Estados Unidos matou 78 trabalhadores. A tragédia marcou a data como o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes do Trabalho. Encampando essa luta, mas com foco na prevenção, a Organização Internacional do Trabalho instituiu em 2003 o 28 de abril como o Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

7 de abril: Aos 'mal-ditos' cães de guarda

Spider Jerusalem, repórter que protagoniza
a série em quadrinhos 'Transmetropolitan'
Dia 7 de abril é lembrado o 'dia do jornalista', profissional por vezes amado por vezes odiado, mas especialmente pouco valorizado. Por vezes submisso, por vezes transgressor, alguns burocráticos, outros 'errantes', nômades em busca de novas oportunidades, da história perfeita ou do próximo destino indicado pelo local do freela na passagem do busão.

Afirmar que a data é momento de reforçar lutas para necessidade da valorização da profissão e do profissional jornalista é natural (e obrigatório), então vale lembrar daquele profissional cada vez mais distante das redações, 'malditos' jornalistas que servem de inspiração para alguns e são sinônimos de transgressão para outros pelo simples fato de terem e emitirem opinião, não se contentando com estado natural das redações (cada vez mais geladas e lineares) no status quo midiático.

Aqueles que não querem brilhar como 'estrelas', não se importam com badalação, não querem dar 'carteiraço', tampouco são vislumbrados com a função, pois a desempenham com prazer e, sobretudo, com qualidade para que ela atinja o interesse público.

Não se preocupam com status diferenciado, não querem agradar superiores ou apenas 'mostrar serviço', fazendo conchavo ou média com as chamadas fontes oficiais, sejam elas do poder público, privado ou do Estado policial. Não querem levar a frente apenas a transmissão de pensamento daqueles que assinam suas carteiras (quando assinam!). Não querem ser meros porta-vozes dos poderosos.

Não se importam com a transgressão de regras pré-estabelecidas, em alertar para o 'terrorismo' que muitas vezes acontece no interior de redações, mesmo que isso lhe custe a garantia do retorno à ela ou que seja uma passagem direta o setor de recursos humanos da empresa. Aceitam ir do inferno ao céu desde que sua liberdade não seja cerceada, pois "um jornalista sem voz é como um animal castrado".

Querem usar palavras para dizerem verdades inconvenientes – que muitos não enxergam e outros fingem não existir. Miram cidades depravadas e viciadas de costumes atrasados, atitudes autoritárias e repletas de falsos moralismos como uma grande oportunidade de denunciar verdades óbvias ocultas nas quantidades excessivas de informações.

Suas lutas vão desde lutar contra limites de caracteres até as propagadas linhas editoriais. Profissionais independentes que incomodam governos e os 'barões da comunicação'. Profissionais que gostam do povo, das personagens, vêem nelas mais importância que a pauta em si. Não suportam telefones ou emails, gostam do contanto com as fontes, gostam de pisar no barro.

Para alguns o cigarro é o maior companheiro, para outros o café serve para 'aliviar' a tensão e servir de inspiração. Não estão preocupados com a repercussão de sua ‘anti-convencionalidade’ ou a estereotipagem que isso poderá acarretar. Por vezes escreve com ironia algumas situações em uma tentativa incessante e desesperada de fugir de suas angústias.

A todos esses 'malditos' – por vezes geniais e sempre geniosos – os parabéns pelo dia do j
ornalista, lembrando especialmente os que já se foram e ensinaram muitos. Profissionais que como citou o filósofo Karl Marx são a 'boca e olho onipresente', verdadeiros 'cães de guarda públicos'.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Atlético Paranaense: 90 anos de paixão e amizade


Do alto da Rua XV de Novembro, um dos pontos mais tradicionais da capital paranaense, mas especificamente no Café do Comércio, nasce o meu mais 'velho amigo', que completa 90 anos hoje. Lá foi concebido o clube mais popular do futebol do nosso Estado, o Clube Atlético Paranaense, ou simplesmente o 'Trétis', fruto da fusão do 'rubro' América e do 'negro' Internacional.

A primeira partida oficial não poderia ser mais apropriada, pois não foi apenas a primeira vez do rubro-negro, mas o pontapé inicial para a maior rivalidade do Paraná: o ATLEtiba. Fundado 12 anos antes, o Coritiba, de alcunha 'coxa-branca', era o mais importante time do Estado, mas sucumbiu diante do 'debutante' rubro negro: 2 a 0 fora o baile!

Mais tarde, em 1949, nasce o esquadrão da dupla Jackson e Cireno, que foi primeiramente chamado de 'Tufão' pelos jornais, porém ao perceberem que o vento ainda era mais forte, recebeu o apelido de 'Furacão'. Já em 1968, entra em cena o grande Barcímio Sicupira, que não tive a felicidade de ver jogar, mas que em virtude do advento de 'novas tecnologias' como o Youtube, guardo na memória a pintura do gol de bicicleta em sua estreia contra o São Paulo, na Vila Capanema.

Se nossas famílias já amamos desde o berço, tenho que confessar que escrever sobre o Atlético é como escrever de minha 'primeira paixão'. Falar do rubro-negro é viajar no tempo e voltar ao final dos anos 80 e início dos 90. Na época já tinha plena convicção do 'uniforme de guerra' que iria usar para o resto da vida, mas foi somente nesta fase que comecei a frequentar aquele que para mim sempre foi o 'antro' mais empolgante que já conheci.

Lembro em especial de duas oportunidades; meus pontapés iniciais na antiga quadra anexa ao Joaquim Américo e principalmente ao subir a rampa do 'Caldeirão do Diabo' certa vez com meu pai e outra com meu avô, torcedores do extinto 'Boca Negra' e dos 'verdes', respectivamente, mas que não hesitavam em me levar aos jogos e treinos do time do meu coração.

Para um garoto do alto de seus 9 ou 10 anos era uma cena de arrepiar. Na rampa, aquele grande ‘CAP’ de pedra, um 'bando de malucos', com grandes bandeiras com caveiras pintadas, faixas e instrumentos de percussão. Ao começar as 'batalhas' pensava se aquelas estruturas um tanto precárias do antigo tobogã eram seguras, pois tremiam junto com a adrenalina dos apaixonados.

Arrepio maior então ao ouvir pela primeira vez - desta vez em 'campo inimigo' nas desgastadas ruínas do Major Pereira - a famosa paródia de The Wall, pois, ao mesmo tempo também começava meus prazeres pela música do 'dito cujo', o bom e velho rock n roll. Minha imaginação fluía de tal forma que conseguia visualizar Roger Waters e David Gilmour mandando em melodia a coxarada para o lugar "que é deles de direito".

Enfim, 26 de março é uma data especial, o aniversário de um 'grande amigo', que a cada encontro - mesmo a distância - extravaso com ele emoções e dou um tempo nos percalços do dia a dia. Como qualquer amigo, ele proporciona grandes alegrias e também decepções, mas como amigo fiel, não posso me furtar de perdoá-lo. Em nome desta amizade e de todos atleticanos, ficam os parabéns aos 90 anos do time de maior torcida do Paraná e a todos os fanáticos que vestem o manto rubro-negro, assim como cantado nos versos de Zinder Lins: "somente por amor".

segunda-feira, 24 de março de 2014

Caso Teixeirinha: Sem terra vão a júri popular nesta quarta-feira

Diniz Bento da Silva, o 'Teixeirinha', morto em 1993 
O caso de maior repercussão no cenário histórico de conflitos de terra que marcam a região Oeste do Paraná e que rendeu condenação ao Brasil na OEA (Organização dos Estados Americanos) terá novo capítulo nesta quarta-feira (26/03) no município de Guaraniaçu, onde será realizado o júri popular de cinco sem terra acusados da morte dos policiais militares Vicente de Freitas, Algacir José Bebber e Adelino Arconti. O fato aconteceu na ocupação da Fazenda Santana, em Campo Bonito, no dia 03 de março de 1993.

Durante a ocupação, os policiais foram até a fazenda acompanhar o madeireiro Adessir Cassol na retirada de máquinas do local. Por se tratarem de policiais à paisana (conhecidos como P2), os militares foram confundidos com pistoleiros, segundo a versão dos sem terra, que ainda alegaram que os policias teriam atirado primeiro, agindo assim em legítima defesa.

Na época, a PM fechou cerco ao acampamento dos sem terras e, segundo relatos de integrantes do movimento, torturou diversos ocupantes para que fossem revelados os envolvidos no incidente. Sete homens foram presos preventivamente e o líder dos sem terra Diniz Bento da Silva, o 'Teixeirinha' ficou foragido por cinco dias. Segundo denúncia do MST, após entregar-se desarmado aos policiais diante de testemunhas, Teixeirinha teria sido torturado e executado na frente da esposa e do filho de 13 anos no dia 8 de março de 1993.

Ainda conforme a versão dos sem terra, Teixeirinha havia se escondido da polícia, até saber que seu filho estava nas mãos dos policiais. Entregou-se, foi algemado e arrastado em direção à roça, onde moradores ouviram vários disparos de tiros. O caso teve repercussão internacional e levou o governo brasileiro a ser alvo do relatório, em 2001, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA e posteriormente ser condenado por violação do direito à vida.

Catorze policiais militares de batalhões de várias regiões do Paraná foram formalmente acusados pela morte de Teixeirinha, em denúncia oferecida à Justiça de Guaraniaçu. O processo que investigava a morte de Teixeirinha recém saiu da fase de inquérito, enquanto os sem terra irão ser julgados em júri popular.

Integrantes do MST prometem 'vermelhar' o município de Guaraniaçu para acompanhar o júri na cidade. Por outro lado, é evidente que os familiares e amigos dos policiais militares mortos deverão comparecer para acompanhar o julgamento, situação que pode acirrar os ânimos e requer atenção redobrada dos órgãos de segurança.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Comissão da Verdade realiza audiência em Cascavel

Audiência pública no auditório da Unioeste em Cascavel
A repressão agiu no interior do Paraná com prisões de lideranças sindicais, de agricultores e membros dos chamados 'Grupos dos Onze'. Pessoas que tinham em comum o fato de resistirem no período mais violento e perverso da ditadura militar brasileira, onde graves violações de direitos humanos se estenderam por todo o país. No Oeste e Sudoeste do Estado não foi diferente, ainda que a memória dominante insista no contrário, afirmando que as regiões não foram atingidas pelo regime instaurado com o golpe de 1º de abril de 1964. 

Neste sentido, de contrapor ao ideário dominante, que a Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) recebeu integrantes da Comissão Estadual da Verdade para uma audiência pública com o objetivo de dar voz as pessoas que resistiram a ditadura ou que foram vítimas de violações. No primeiro dia de atividades, nesta quinta-feira (20/03), foram 17 depoimentos públicos de integrantes da Guerrilha de Três Passos, do movimento dos Grupos dos Onze, além de familiares de vítimas do golpe que está prestes de completar 50 anos.

Os destaques do primeiro dia de atividades foram os relatos dos irmãos Valdetar Antônio Dorneles e Abrão Antônio Dorneles, sobreviventes da Guerrilha de Três Passos. Em 17 de março de 1965, um pouco antes de completar um ano o golpe civil-militar que derrubou o governo do presidente João Goulart, o grupo constituído por 23 homens - entre camponeses, militares e profissionais liberais - de origem trabalhista/brizolista foram protagonistas da primeira ação armada contra a ditadura.

Valdetar Dorneles, ex-guerrilheiro
A chamada 'Operação Três Passos' foi a primeira ação brasileira de guerrilha rural contra o governo militar. "Participamos da primeira reforma agrária do país, feita pelo governador Leonel Brizola, iniciamos a guerrilha com um mosquete e três rifles e durante uma ação num destacamento apanhamos outros 65 rifles e munição", recorda Valdetar, que cumpriu pena em várias prisões como preso político.

Residente em Três Passos (RS), Valdetar esclareceu que a região sudoeste do Paraná foi palco de vários episódios marcantes do período. "Um dos fatos mais marcantes foi nossa passagem por Santo Antonio do Sudoeste, onde um caminhão carregado de guerrilheiros parou para abastecer. Essa região foi onde se originou o maior 'Grupo dos Onze' do país", comenta.

Submetido a violentas torturas no 1º Batalhão de Fronteiras, em Foz do Iguaçu, Valdetar ainda carrega as marcas e cicatrizes da época. "Quando vejo as marcas lembro de minha mãe me abraçando e dizendo que era melhor viver lutando do que morrer como escravo dessa cambada", recorda emocionado, e conclui: "Até hoje sofro as consequências em minha cidade, alguns dizem "lá vai o comunista que tomou Três Passos", especialmente os da elite de minha cidade". 

 
Além de heróis da resistência, familiares daqueles que lutaram contra a repressão também deram relatos públicos; entre elas a paraguaia Domiciana Gímenez Gamarra, filha de Remígio Gímenez Gamarra, preso político sequestrado por policiais na região de Vila Portes (Foz do Iguaçu) e levado à prisão em Assunção. Integrante do 'Movimento14 de Maio', Remígio fez greve de fome na prisão e seu caso foi denunciado à Anistia Internacional. À época, a mãe de Domiciana enviou carta ao general Ernesto Geisel, então presidente do Brasil. Foi um típico caso de conivência entre duas ditaduras latino americanas. 


Domiciana Gímenez, filha de Remígio Gimenez
"Os 11 companheiros"
 

Na período da tarde, os depoimentos ficaram concentrados nos integrantes dos chamados 'Grupos dos Onze'. Foram ouvidos relatos de moradores de Barracão, Santo Antonio do Sudoeste e Capanema.  A partir de outubro de 1963, sob o comando de Leonel Brizola, surgia no Brasil o movimento, de cunho nacionalista, formado de modo espontâneo. Após ouvirem conclamações do líder gaúcho pelo rádio, as pessoas, muitas delas agricultores, deslocavam-se de casa em casa buscando assinaturas para a 'lista dos onze companheiros'.

Os grupos surgem durante a chamada ‘Campanha da Legalidade’. "Inspirados no governador Leonel Brizola, formamos esses grupos de resistência para defender as conquistas democráticas e resistir as tentativas de golpe", comenta Lauro Rossini, natural de Capanema. "Nosso primeiro objetivo era discutir a reforma agrária, não queríamos derramamento de sangue, mas sim o estabelecimento da ordem e legalidade constitucional", recorda.

Segundo dia


Na manhã desta sexta-feira (20/03), será dada continuidade a Audiência Pública da Comissão Estadual da Verdade em Cascavel, com depoimentos de lideranças Guarani sobre violações contra indígenas no oeste e sudoeste do Paraná no período militar e os impactos da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu.

Há registros documentais e relatos orais de queima de casas, ameaças e agressões físicas, com envolvimento de policiais e servidores do Incra na década de 70. Essas violências aconteceram no contexto da construção de usina durante a administração da Funai e Itaipu pelo coronel Nobre da Veiga e o general José Costa Cavalcanti.

Nestes casos há ainda registro da intervenção de agentes vinculados ao SNI e Polícia Federal. Entre os depoentes estará Onório Karai Benitez, "chamoy" (rezador) da comunidade de Itamarã, em Diamante do Oeste, além do professor Teodoro Tupã Alves. O segundo dia de trabalhos da audiência tem início às 9 horas, no auditório da Unioeste, campus de Cascavel.

terça-feira, 18 de março de 2014

Colégio com nome de ditador é "rebatizado" em Cascavel

Estudantes homenagearam o estudante Edson Luis [foto: Júlio Carignano]
O Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, no Jardim Maria Luiza, em Cascavel, foi ‘rebatizado’ nesta terça-feira (18/03) com o nome de Edson Luis de Lima Souto, estudante assassinado há 46 anos durante os chamados ‘anos de chumbo’. A ação simbólica é alusiva aos 50 anos do golpe que instaurou o regime militar em 1º de abril de 1964 e faz parte dos atos que antecedem a audiência pública da Comissão Estadual da Verdade em Cascavel, que será realizada nos dias 20 e 21. 

Ainda que não tenha validade legal para mudança de nome do colégio, uma vez que para isso é preciso uma legislação ou decreto governamental, o ato foi uma tentativa de reescrever a história, denunciando àqueles que foram agentes de um dos momentos mais tristes da história de nosso país, como explica Elio Ribeiro Junior, presidente da ACES. “Esse é um ato de repúdio contra um ditador fascista que nunca pagou pelos crimes que cometeu e uma homenagem ao Edson Luis, um símbolo da resistência contra a ditadura”, explica Juninho, como é conhecido o novo presidente da entidade secundarista. 

Edson Luis tinha a mesma idade que Juninho, 18, quando foi morto, e assim como o cascavelense, também atuava em uma entidade estudantil municipal. O assassinato do secundarista, em 28 de março de 1968, durante conflito entre estudantes e policiais no restaurante Calabouço, no centro do Rio de Janeiro, foi um dos marcos na luta contra a ditadura militar, causando uma grande comoção pública. O também estudante Benedito Frazão, também foi atingido na ocasião e morreu no hospital.

Após ser morto, Edson Luis teve seu corpo levado por estudantes até a Assembléia Legislativa do RJ e velado à noite. Mais de 50 mil pessoas compareceram ao enterro, entoando gritos de ordem contra o governo e a violência e uma delas se espalhou nas faixas, cartazes e na boca do povo carioca: “Mataram um estudante. Podia ser seu filho!"”. O velório foi cercado pela PM, agentes do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e militares que provocavam os manifestantes com bombas de gás.

Costa e Silva 

O Marechal Artur da Costa e Silva, militar e político da Arena (Aliança Renovadora Nacional) foi o segundo presidente do regime militar, no período entre 5 de março de 1967 e 31 de agosto de 1969. Seu governo iniciou a fase mais dura do regime ditatorial, à qual o general Emílio Garrastazu Médici, seu sucessor, deu continuidade. Sob o governo Costa e Silva foi promulgado o AI-5, que lhe deu poderes para fechar o Congresso Nacional, cassar políticos e institucionalizar a repressão, seja por meio de censura a órgãos de comunicação ou pela tortura de militantes.

Além do Costa e Silva - no Jardim Maria Luiza - outra escola em Cascavel leva o nome de um ditador, o Colégio Estadual Castelo Branco, no Parque São Paulo, em alusão ao primeiro presidente do regime, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. 

Segundo levantamento do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), os 34 presidentes da história do Brasil dão nome a 3.135 escolas do ensino básico na rede pública. Destas, 976 unidades tem nomes de presidentes da ditadura militar (1964 a 1985). 

Bahia

Em fevereiro deste ano, o Governo da Bahia mudou oficialmente o nome do Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici para Carlos Marighella. A mudança foi motivada após solicitação de alunos, ex-alunos, professores, pais e responsáveis, além da diretoria da unidade. 

O grupo realizou uma votação em novembro de 2013 entre os envolvidos com a instituição e a partir da votação, foi encaminhado um documento oficial para que a mudança fosse efetivada. Durante a votação o nome do militante e ex-deputado constituinte baiano Carlos Marighella teve 406 votos e venceu o do geógrafo Milton Santos, que obteve 128. Houve ainda, 27 votos brancos e 25 nulos.
Ato no colégio estadual Costa e Silva
Junior, Marlon e Dionésio, integrantes da ACE

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Cascavel, Cuba, Mandirituba: Itinerário de um militante

Éverton (à direita) em atendimento na Jornada de Agroecologia, em 2013
No fim de agosto de 2009, eu visitava uma casa simples no bairro do Santa Cruz, na região oeste de Cascavel, para conhecer um militante com então 23 anos que realizava o sonho de cursar medicina em Cuba. Na época, completava-se uma década de uma parceria entre os governos brasileiro e cubano – aliado com um trabalho de articulação de movimentos sociais – que proporciona a jovens brasileiros a oportunidade de estudar medicina no país caribenho, reconhecido internacionalmente pelo seu setor de saúde pública e gratuita.

Esse foi meu primeiro contato com o hoje médico formado, Everton Rodrigues Ferreira, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ele completava três anos de estudos em Cuba e me relatava sua experiência na ilha caribenha, falava de seus sonhos e de personagens que servem de inspiração para o povo cubano, como o Fidel Castro e Ernesto Che Guevara.


Cinco anos depois, já com uma relação de amizade com Éverton, recebo com felicidade a notícia que este militante teve confirmada sua inserção no programa Mais Médicos, do Governo Federal. É o fim de mais um ciclo na vida deste jovem lutador, que em março, rumara à Mandirituba, região metropolitana de Curitiba, para atuar no programa.


Desejando a ele bom trabalho e boa luta e para relembrar a trajetória do jovem médico nascido em Vera Cruz do Oeste, reproduzo a entrevista feita em 2009, então pelo jornal Tribuna das Cidades, quando Evérton esteve de passagem de férias na casa da mãe, dona Fátima. Segue abaixo a íntegra do bate papo.

Como surgiu a oportunidade de estudar em Cuba?
Everton Ferreira: Faz três anos que estou estudando em Cuba num projeto chamado Escola Latino Americana de Medicina, que desde 1999, oferece bolsas para estudantes que tem não oportunidade de estudar medicina em seus países. Esse convênio se dá através de organizações sociais e partidos políticos. Sou militante do Movimento Sem-Terra e do PCdoB (Partido Comunista do Brasil) e fui selecionado pelo movimento. Estudar medicina em um país socialista com a concepção que eles têm alimenta mais esse compromisso com a luta, de voltar para o Brasil e poder trabalhar e construir algo diferente.

Como é a medicina cubana?
EF: A medicina em Cuba é totalmente pública, não existe hospital privado, ou consultório ou algum médico que atenda de forma particular. Todos os serviços de medicina são públicos e gratuitos, desde a consulta até a realização de um exame, do mais simples ao mais complicado, até mesmo as internações, que tem altos custos. A medicina de Cuba se destaca por ser uma das melhores do mundo e a prova são índices de saúde que ela tem alcançado. Um índice interessante que indica essa qualidade é taxa de mortalidade infantil. Cuba ficou no ano passado [2008] com 4,7 mortes a cada mil nascidos vivos, que é o melhor índice da América. Os EUA, com toda a tecnologia e propaganda, são o terceiro colocado, tem 6 mortes para cada mil vivos. Para se ter uma ideia, o Brasil tem uma taxa de 19.

O foco é a medicina preventiva?
EF: Sim, tudo tem a ver com a prevenção, é outra forma de trabalho. Não é uma medicina mercantilista, direcionada ao lucro. No Brasil um médico fica esperando que a pessoa fique doente, o que chamamos de medicina clientelista. A melhor ideia de saúde que eu entendo é evitar que a pessoa fique doente, que não seja necessário que busque um médico. Um médico de família faz a medicina nas casas, faz acompanhamento do histórico de saúde da família, levando em conta alimentação, profissão, pois tudo isso está relacionado com o desenvolvimento de algumas doenças.

Como é a educação em Cuba?
EF: É totalmente gratuita, desde o jardim da infância até o curso superior. Gratuito e com muita qualidade. No ensino primário eles têm um limite de comportar no máximo 15 alunos por sala, já no fundamental e médio, no máximo 25. Isso representa uma capacidade de acompanhamento de cada aluno muito maior. Outro fator interessante é a questão do material didático, cada aluno tem acesso ao material didático de maneira completa, no ensino superior todos têm os livros necessários. São universidades, onde além de você não pagar mensalidade, você tem moradia, restaurantes universitário que oferece quatro refeições ao dia. Todo mês é entregue um kit de higiene e, como a maioria dos cursos são integrais, para estimular que os estudantes só estudem, eles dão um valor em dinheiro, que eles chamam de “estipêndio”, que é uma ajuda na complementação da alimentação, do transporte.

E o acesso à cultura?
EF: Isso é interessante, enquanto aqui no Brasil, a gente relaciona um balé ou ópera com quem tem dinheiro, lá é algo socializado. Pela primeira vez assisti um balé e uma ópera em Cuba e já perdi as contas de quantas vezes, pois é muito barato. Para eles, a cultura deve ser de acesso de todos. Isso é igualdade de possibilidade da pessoa se desenvolver. Você sai à noite e em todo lugar há um foco de uma manifestação cultural.

Porque tanta propaganda negativa de Cuba?
EF: Desde quando a revolução triunfou, Cuba passou a sofrer ataques, que vão desde medidas militares, econômicas, até propaganda ideológica. O único intuito é desmoralizar e desacreditar a revolução. Há muita propaganda manipulada. Nunca vi uma população com maior liberdade que os cubanos, na questão de se expressar. É uma população muito critica com a política do seu país e com a política internacional, são muitos politizados e tem muito conhecimento. Uma informação que não chega é que acontecem eleições periódicas, a cada cinco anos, a única diferença é que lá não há um limite para um governante se reeleger.

Como estão os cubanos em relação ao estado de saúde de Fidel Castro?
EF: Essa é uma informação que foi manipulada. Foi passada para fora a informação errada que quando o Fidel adoeceu, e caso ele morresse, os cubanos iriam para as ruas comemorar, mas foi muito pelo contrário. Primeiro não houve nenhuma manifestação, mas sim uma comoção geral da população. Nas escolas, as professoras estavam tristes e preocupadas como se estivessem preocupadas com um pai. O respeito pelo Fidel é muito grande, por toda sua história e moral.

Como jovem militante e estudante de medicina, Che Guevara lhe serve de inspiração?
EF: Por seus pensamentos, pela sua história e pelo fato da vivência em Cuba, obviamente que sim. Muitas vezes sua imagem acaba sendo banalizada, pois tornou-se uma ‘marca’. Em Cuba é diferente, por tudo que ele representou. Sua força de luta, sua ética, moral como militante e com um jovem de garra que acreditou em seus sonhos, em seus ideais. Obviamente que a figura do Che é um grande estímulo para todos em Cuba.

Há corrupção em Cuba?
EF: Nunca soube de um ato de corrupção em Cuba, mas na história isso já aconteceu, porém a punição que se tem para um político que rouba o Estado é bastante severa de uma maneira que inibe esses atos. Uma das maiores diferenças para o Brasil é que lá um político quando se candidata tem que estar com muita disposição de trabalhar, porque lá eles não ganham uma enormidade, o salário dele não se diferencia de um salário de outro trabalhador. Para se ter ideia, o presidente não ganha mais que um jornalista ou um professor em sala de aula e ainda não tem toda essa facilidade daqui, que além do salário, o político tem uma série de privilégios.

Há uma maior participação popular?
EF: O acompanhamento que o cubano tem sobre a política do seu país é muito mais séria e muito mais presente. A comunicação dos políticos com a população é maior. A vida de um governante de uma província é o cotidiano daquela população.

Quais seus planos após concluir o curso daqui três anos?
EF: O principal é voltar formado clínico geral, voltar a militar junto ao Movimento Sem Terra e como militante desta organização poder contribuir na continuidade da luta, com o compromisso de fortalecê-la.