quinta-feira, 26 de julho de 2012

Eleições: o que "atestaria" Malatesta?

Arte em estêncil nas ruas de Palermo
Periodicamente, no intervalo de quatro em quatro anos, depositamos aspirações e canalizamos nossas expectativas sociais no processo eleitoral, intitulado por alguns como 'festa da democracia', uma das ferramentas de participação de nosso falho sistema representativo.

No último domingo, dia 22 de julho de 2012, completou-se 80 anos da morte do italiano Errico Malatesta, uma das maiores referências do anarquismo, e com toda propaganda eleitoral que já circula na internet, em especial em redes sociais, me veio em mente alguns trechos de artigos desse revolucionário, que faleceu em 1932, vítima do fascismo do 'Duce' Mussolini.

Em 'A política parlamentar no movimento socialista', Malatesta escreve: "(...) com efeito, cada eleitor só nomeia um deputado, ou um pequeno número de deputados sobre várias centenas que compõem habitualmente uma Assembléia. É verdade que, mesmo quando os eleitores vêem seu próprio candidato ser eleito, sua vontade, que durante as eleições já não contava praticamente nada, seria representada por um único deputado, que, ele próprio, tem um papel mínimo na Câmara. A Câmara, tomada em seu conjunto, não representa de modo algum a maioria dos eleitores. Cada um dos deputados é eleito por certo número de eleitores, mas o corpo eleitoral, enquanto totalidade, não é representado...".

Já em 'Tempos de eleições', Malatesta atesta: "(...) bonito canto da sereia! Assim como você, falam os que necessitam ser eleitos. Todos bons, todos democráticos, passam a mão sobre seu dorso, cumprimentam nossas companheiras, beijam nossos filhos, nos prometem ferrovias, pontes, água potável, trabalho, comida a bom preço, e a proteção do Estado. Tudo o que você deseja. (...) uma vez eleitos, adeus promessas. Nossas companheiras e nossos filhos podem morrer de fome, nosso país pode ser atormentado por febres e toda a sorte das calamidades, faltará trabalho e comida para a maior parte, a fome e a miséria farão estragos por todas as partes. (...) Passada a festa, enganado o santo...".

São textos que apesar de serem escritos ao final do século 19, seguem contemporâneos dentro de nossa lógica. Não se trata da ótica da 'negação da negação', mas sim do questionamento de um sistema que ainda precisa ser aperfeiçoado para que se aproxime de algo realmente 'participativo'.

São trechos de artigos que valem serem lembrados em uma fase onde aqueles que estão dispostos a nos representar estão prestes a colocar seus blocos nas ruas. Que mirem o exemplo do italiano, sempre fiel a seus princípios, pois nunca se corrompeu, sendo exemplo da integração entre teoria e prática. Caso estivesse vivo, Errico Malatesta 'atestaria' que essa integração parece ser algo tão raro nos dias correntes.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Acampados cobram criação de assentamento

Ato em defesa da reforma agrária no 1º de Maio
Trabalhadores rurais Sem Terra das regiões Oeste e Sudoeste do Paraná participaram no sábado (30/06) de um ato em defesa da Reforma Agrária no Acampamento 1º de Maio, nas proximidades do distrito de Rio do Salto, interior de Cascavel.

A atividade organizada em conjunto pelas brigadas José Martí e Teixeirinha cobrou maior agilidade na criação de um assentamento na área ocupada em maio de 2009 na Fazenda Castelo. A efetivação da Reforma Agrária da fazenda vem sendo intermediada pela secretaria especial de Assuntos Fundiários do governo do Paraná.

Segundo o secretário Hamilton Seriguelli, a negociação da Fazenda Castelo está sendo o processo mais difícil da região. "Aqui é onde estamos encontrando as maiores dificuldades para uma resolução do impasse junto ao proprietário, seria muito mais fácil se ele aceitasse vender a área ocupada ao Incra, mas ele não está tendo essa sensibilidade", disse.

O proprietário da fazenda, o secretário municipal de Saúde de Cascavel, Ildemar Canto, não aceita negociar a área com o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). O MST ocupou o terreno de 400 alqueires, onde passaram a viver 240 famílias, que produzem alimentos sem uso de agrotóxico, que é comercializado em pequenos comércios do distrito de Rio do Salto.

O Sem Terra Nildemar da Silva, um dos coordenadores da Brigada José Martí, lembra da história das famílias do 1º de Maio. "Esse acampamento foi formado em 2009, mas esse grupo está junto há mais de 13 anos. É longa e árdua luta dessas famílias embaixo das lonas pretas. Por aqui foi instalada essa luta contra o latifúndio, uma terra onde o proprietário não pagou um centavo sequer, somente demarcou a área, colocou cercado e passou a ser sua. Essa fazenda tem cerca de 36 mil hectares, isso representa um município de pequeno porte".

O militante destaca que a luta dos movimentos sociais ultrapassa a conquista da terra. "Não se trata apenas de conquistar um lote e enfrentar o latifúndio, mas também de transmitir nosso conceito de educação para os nossos filhos e netos, de resistir na terra, isso é a luta pela nossa existência e cultura".  Para ele, a cultura camponesa vem perdendo espaço no campo brasileira diante da ofensiva do agronegócio.

Golpe no Paraguai


O recente golpe no Paraguai que derrubou o presidente eleito Fernando Lugo também foi lembrando no ato pelo militante Ramon Brizola, da Coordenação Estadual do MST do Paraná. Ele participou do protesto que reuniu cerca de 4 mil pessoas na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, que fechou a Ponte da Amizade por cerca de uma hora e meia na última sexta-feira (29/06).

Brizola apresentou aos presentes um panorama da situação no país vizinho e a orquestração do golpe que, segundo Brizola, teve participação direta de latifundiários brasileiros com terras no Paraguai. "Esse golpe vinha sendo planejado há mais de um ano pela elite fundiária paraguaia, descontente com o presidente Lugo, se elegeu com a promessa de promover a reforma agrária no país".

O dirigente do MST destacou a participação dos grandes meios de comunicação na tentativa de legitimar o golpe. "Precisamos cuidar com o que vemos na televisão, a mídia está usando o argumento da Constituição, mas não destaca que o presidente não teve o direito amplo de defesa e que o despejo de terra que culminou na morte dos policiais foi por ordem do Judiciário paraguaio e não da Presidência da República".

Para Ramon Brizola, é preciso prestar solidariedade aos irmãos paraguaios e a qualquer atentado a democracia em nosso continente. "Precisamos ultrapassar a barreira de estados e países, pois o capital que nos oprime aqui é o mesmo que oprime os irmãos dos demais países latino-americanos", concluiu.