terça-feira, 26 de março de 2013

Atlético: 89 anos de paixão e amizade!



Do alto da Rua XV de Novembro, um dos pontos mais tradicionais da capital paranaense, mas especificamente no Café do Comércio, nasce o meu mais 'velho amigo', que completa hoje 89 anos. Lá foi concebido o clube mais popular do futebol do nosso Estado, o Clube Atlético Paranaense, ou simplesmente o 'Trétis', fruto da fusão do 'rubro' América e do 'negro' Internacional.

A primeira partida oficial não poderia ser mais apropriada, pois não foi apenas a primeira vez do rubro-negro, mas o pontapé inicial para a maior rivalidade do Paraná: o ATLEtiba. Fundado 12 anos antes, o Coritiba, de alcunha 'coxa-branca', era o mais importante time do Estado, mas sucumbiu diante do 'debutante' rubro negro: 2 a 0 fora o baile! 

Mais tarde, em 1949, nasce o esquadrão da dupla Jackson e Cireno, que foi primeiramente chamado de 'Tufão' pelos jornais, porém ao perceberem que o vento ainda era mais forte, recebeu o apelido de 'Furacão'. Já em 1968, entra em cena o grande Barcímio Sicupira, que não tive a felicidade de ver jogar, mas que em virtude do advento das 'novas tecnologias', guardo na memória a pintura do gol de bicicleta em sua estreia contra o São Paulo, na Vila Capanema. 

Se nossas famílias já amamos desde o berço, tenho que confessar que escrever sobre o Atlético é como escrever de minha 'primeira paixão'. Falar do rubro-negro é viajar no tempo e voltar ao final dos anos 80 e início dos 90. Na época já tinha plena convicção do 'uniforme de guerra' que iria usar para o resto da vida, mas foi somente nesta fase que comecei a frequentar aquele que para mim sempre foi o 'antro' mais empolgante que já conheci. 

Lembro em especial de duas oportunidades; meus pontapés iniciais na antiga quadra anexa ao Joaquim Américo e principalmente ao subir a rampa do 'Caldeirão do Diabo' certa vez com meu pai e outra com meu avô, torcedores do extinto 'Boca Negra' e dos 'verdes', respectivamente, mas que não hesitavam em me levar aos jogos e treinos do time do meu coração.

Para um garoto do alto de seus 9 ou 10 anos era uma cena de arrepiar. Na rampa, aquele grande ‘CAP’ de pedra, um 'bando de malucos', com grandes bandeiras com caveiras pintadas, faixas e instrumentos de percussão. Ao começar as 'batalhas' pensava se aquelas estruturas um tanto precárias do antigo tobogã eram seguram, pois tremiam junto com a adrenalina dos apaixonados. 

Arrepio maior então ao ouvir pela primeira vez - desta vez em 'campo inimigo' nas desgastadas ruínas do Major Pereira - a famosa paródia de The Wall, pois, ao mesmo tempo também começava meus prazeres pela música do 'dito cujo', o bom e velho rock n roll. Minha imaginação fluía de tal forma que conseguia visualizar Roger Waters e David Gilmour mandando em melodia a coxarada para o lugar "que é deles de direito".

Enfim, 26 de março é uma data especial, o aniversário de um 'grande amigo', que a cada encontro - mesmo a distância - extravaso com ele emoções e dou um tempo nos percalços do dia a dia. Como qualquer amigo, ele proporciona grandes alegrias e também decepções, mas como amigo fiel, não posso me furtar de perdoá-lo. Em nome desta amizade e de todos atleticanos, fica os parabéns aos 89 anos do time de maior torcida do Paraná e a todos os fanáticos que vestem o manto rubro-negro, assim como cantado nos versos de Zinder Lins: "somente por amor".

quinta-feira, 21 de março de 2013

Manifesto de apoio aos indígenas de Guaíra e Terra Roxa

Foto: Paulo Porto Borges
A Associação dos Geógrafos Brasileiros, Seção Local de Marechal Cândido Rondon, vêm se manifestar em relação à luta dos indígenas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, no Estado do Paraná. Em visita realizada por uma comissão da AGB – Seção de M.C. Rondon, no dia 15 de março de 2013, foi verificada uma situação que demanda de medidas urgentes para a solução das dificuldades enfrentadas pelas 140 famílias indígenas da etnia Avá-Guarani que estão organizadas em 13 ocupações de áreas urbanas e rurais nos referidos municípios.

As famílias indígenas não têm a garantia de condições e direitos básicos mínimos como acesso à água potável, energia elétrica, escola, saúde, etc. Existem situações, como no caso de duas ocupações urbanas em Guaíra, que as famílias se encontram em situação extremamente insalubres, pois estão instaladas próximas ao “lixão” e aterro sanitário. Em outras situações, escolas das comunidades são mantidas pelos próprios indígenas, pois o poder público estadual, principalmente, não aprova a instalação de “escola itinerante” para os indígenas porque considera que suas ações e ocupações são ilegais.

Embora estivessem presentes na região desde passado distante (os vários sítios arqueológicos são cabal evidência da sua presença na região), os indígenas são acusados pelos setores dominantes locais de serem paraguaios que estão invadindo terras no Brasil. Na realidade, estes indígenas foram expulsos de seu território no Paraná a partir da década de 1950 com a Frente de Expansão e muitos migraram para outras regiões, sobretudo para o Estado de Mato Grosso do Sul. Em vista da expansão do agronegócio, sobretudo de cana-de-açúcar, e a bárbara violência cometida contra os indígenas naquele Estado, muitos indígenas estão retornando para seu antigo território nos municípios de Guaíra e Terra Roxa. Portanto, o retorno dos indígenas é motivado pelo contexto de expansão do agronegócio e a violência nele implícita, bem como pela retomada das suas raízes territoriais e culturais, enfim retomada de sua organização social, política, econômica, etc.

Para garantir sua sobrevivência, além de medidas assistenciais, como o Programa Bolsa Família, por exemplo, as comunidades se organizam para produção de subsistência nas áreas ocupadas. Muitos indígenas também buscam trabalho na construção civil, propriedades agrícolas, frigoríficos, colheita de maçã em Santa Catarina, dentre outras. Mas, para dificultar a luta e ocupações, recentemente, empresários e alguns proprietários rurais mobilizam-se na região para a não contratação da mão-de-obra indígena.

Acrescenta-se que os indígenas são vítimas de um bárbaro e sórdido preconceito das elites locais e regionais que se reproduz em meio à população, sobretudo a partir de notícias veiculadas na imprensa. Aliás, geralmente os indígenas são apresentados como invasores de propriedades “produtivas” que visam tomar 100 mil hectares de “legítimos proprietários” e por isso ameaçam o desenvolvimento e o bem estar da sociedade local e regional. Também os segmentos que apoiam as lutas indígenas, inclusive a Funai local, são vistos pelos ruralistas locais organizados nos Sindicatos Rurais Patronais como inimigos do progresso e do desenvolvimento da região.

Mas, ao contrário do que é divulgado, os indígenas não estão reivindicando a demarcação de 100 mil hectares de terra na região Oeste do Paraná. Sua luta é pela demarcação de terras que sejam o suficiente para a garantia de sua existência e reprodução da cultura, modo de vida, tradições, religião, costumes, enfim, do seu território.

A demarcação de terra e o atendimento da reivindicação dos indígenas trará um conjunto de benefícios ambientais à região, pois sua relação com a natureza é harmônica, enquanto a agricultura convencional de negócio (agronegócio), que caracteriza o Oeste do Paraná é altamente dependente do uso de agrotóxicos e venenos nas lavouras, que contamina a água e o solo e destrói a vegetação, fauna, rios, etc. A demarcação dessa área de terras para os indígenas será oportunidade impar para a formação de um território livre de agrotóxico e venenos diversos. Assim, toda a sociedade, e não somente os indígenas, será beneficiada com essa demarcação.

Neste sentido, Associação dos Geógrafos Brasileiros - Seção Local de Marechal Cândido Rondon, manifesta seu apoio à luta dos indígenas considerando legítimas suas reivindicações e convida a sociedade civil e entidades organizadas (associações, sindicatos, movimentos sociais, etc.) a se somar favoravelmente a essa luta. Também se manifesta repudiando veemente ao preconceito e agressividade de setores da sociedade local e regional, como alguns meios de comunicação, segmentos políticos, lideranças ruralistas e empresariais organizadas em entidades diversas, que atuam de variadas formas para deslegitimar a luta dos indígenas pelo direito ao seu território.

- Está na hora das Prefeituras, Câmaras de Vereadores, Deputados da Região Oeste e do Governo do Estado se posicionarem a favor da luta dos indígenas!
- Dilma precisa se posicionar e demarcar já as terras indígenas!
- Já são mais de 500 anos de massacre e destruição contra os indígenas! Já passou da hora dos povos indígenas serem respeitados em seus direitos!

Marechal Cândido Rondon, 20 de março de 2013.

Entidades que assinam e apoiam o Manifesto:

Associação dos Geógrafos Brasileiros - Seção Local de Marechal Cândido Rondon/PR
Associação dos Estudantes de São Pedro do Iguaçu - AESPI
Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Local de Curitiba
Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Local de Aracaju
Associação dos Portadores de Lesões Por Esforços Repetitivos – AP-LER
Associação Regional em Defesa da Ecocidadania e da Cidade Sustentável – ARDECS
APP de Luta e Pela Base – Oposição Alternativa/Oposição à direção da APP-Sindicato
Centro Acadêmico de História UNIOESTE M. C. Rondon “Zumbi dos Palmares” - Gestão: "Quem vem com tudo não cansa".
Centro Acadêmico de Geografia UNIOESTE M. C. Rondon “CAGeo Chico Mendes”
Centro Acadêmico de Ciências Sociais UNIOESTE Toledo
Centro de Direitos Humanos – CDH - Foz do Iguaçu
Coletivo de Estudos sobre Conflitos pelo Território e pela Terra – ENCONTTRA – UFPR
Diretório Central dos Estudantes UNIOESTE – Marechal Cândido Rondon
Diretório Central dos Estudantes UNIOESE – Toledo
Laboratório de Geografia das Lutas no Campo e na Cidade – GEOLUTAS - UNIOESTE
Laboratório de Pesquisa Trabalho e Movimentos Sociais – LTMS – UNIOESTE

quinta-feira, 14 de março de 2013

Povos indígenas: "Que progresso é esse?"

Cacique Ilson Soares, de Guaíra
O ano de 2012 e o início de 2013 podem ser considerados marcos na luta dos direitos dos povos indígenas. Belo Monte e a luta dos Guarani-Kaiowá, em Iguatemi (MS), são os casos que ganharam maior repercussão nacionalmente. Porém, junto à maior visibilidade da causa indígena, maior a criminalização desses povos que lutam pela demarcação de suas terras tradicionais.  

Na região Oeste do Paraná, a luta indígena também tem ganhado destaque, especialmente na região de Guaíra e Terra Roxa, um dos maiores sítios arqueológicos do Brasil e cenários de grandes aldeamentos e reduções jesuíticas. A região passou a ser considerada uma "área de tensão", terra de conflitos envolvendo produtores rurais e povos tradicionais. 

No tema controverso, da luta pela terra e questão territorial, os indígenas têm encontrado a resistência não somente dos grandes proprietários de terra, mas da própria comunidade e da opinião pública. 

Não bastassem as ameaças de despejo, essas comunidades tem se deparado com o preconceito de parte da sociedade. Os Guarani passaram a ser tratados como "invasores" por parte da sociedade que desconhece o processo histórico e a luta pela sobrevivência dessas comunidades tradicionais. É o que explica o cacique Ilson Soares – do Tehoka Y’hovy, na Vila da Eletrobrás, em Guairá. 

"Através da mídia, dos jornais, os grandes produtores de terra conseguiram mudar a opinião da sociedade e a população começou a nos olhar como bandidos. O sindicato rural tem colocado medo em pequenos produtores, espalhando mentiras que iríamos tomar várias terras começando de Guaíra até Foz do Iguaçu", diz o líder indígena.

Essa chamada "onda de invasões" propagada fica exemplificada em recentes boatos de que os indígenas da região estariam reivindicando uma área de 100 mil hectares. "Nunca reivindicamos uma área desse tamanho, é um absurdo plantarem uma notícia dessa para botar medo nos outros produtores, especialmente nos pequenos. Queremos apenas a formação de GTs [grupos de trabalho] para a demarcação de nossas terras. Queremos uma área para vivermos com segurança com nossas famílias, que possam nos abrigar e vivermos nossa cultura. Tudo que a gente constrói é para mantermos nossa cultura, nossa linguagem. Plantamos nosso milho branco, batata-doce, feijão guarani, nosso amendoim guarani", argumenta Soares.  

Preconceito 

Para o cacique, o preconceito de parte da sociedade acaba sendo inevitável. "É natural, primeiro por não conhecerem ou por aprenderem com os próprios pais. É necessário uma compreensão de que não somos novidade, existimos desde o começo da história do Brasil, não somos povos canibais, selvagens ou bárbaros, acima de tudo somos serem humanos que precisam da ajuda da comunidade", diz.

A área onde vive Ilson Soares é de 40 hectares. Por lá vivem 27 famílias, aproximadamente 100 indígenas.  Há uma ordem de reintegração de posse da área. "Foi ordenada a retirada nossa da aldeia, mas a FUNAI [Fundação Nacional do Índio] apresentou um recurso", diz o cacique sobre a ordem judicial. Também não há qualquer indicação de área para abrigar essas famílias diante do iminente despejo.

Enquanto esperam o desfecho judicial, os indígenas seguem marginalizados e tratados como "inimigos do progresso", como descrito em recentes faixas confeccionadas em Guairá com os dizeres: "Invasão guarani não combina com ordem e progresso". 

"Que progresso é esse? É um progresso de quem? Nós não queremos esse progresso, pois o progresso já levou nossos pais, nossos antepassados, nossas terras e parte da nossa cultura", questiona o cacique Ilson Soares, ao mesmo tempo que conclui seu testemunho. 

quinta-feira, 7 de março de 2013

Dia da Mulher: Educadora recebe homenagem


Mulheres guerreiras, muitas vezes anônimas, mas que de alguma forma, por superarem obstáculos, as fazem diferente das demais. Com esse objetivo, movimentos sociais e populares de Cascavel fazem uma homenagem na próxima sexta-feira, dia 08 de março, à educadora Nair Bauken Bastos. O ato, alusivo ao Dia Internacional da Mulher, será realizado no plenário da Câmara de Vereadores de Cascavel, a partir das 18h30.

Nair Bauken Bastos, 69 anos, chegou em Cascavel no ano de 1980, junto com o marido Luiz Fernando Maciel Bastos e o filho Luiz Fernando Maciel Bastos Junior, então com 4 meses de idade. Nascida em Ijuí, no Rio Grande do Sul, onde viveu sua infância, é a última filha entre oito irmãos. Seu pai, o alemão August Bauken era fotógrafo e professor, e sua mãe, dona Hilda Tereza Mann Bauken era dona de casa.

Estudou em escola pública e colégio de freiras. Com 13 anos começou a trabalhar, cuidando de crianças. Aos 16 anos, concluiu o magistério e deu início a carreira docente, lecionando na Escola Luterana de Horizontina, no Rio Grande do Sul.

Iniciou faculdade de Letras em Ijuí, e por conta do contexto político - período de pré-ditadura militar - foi transferida em 1961 para Santa Maria. "O custeio dos meus estudos foi mantido por meio de uma bolsa concedida por Leonel Brizola, que foi mantida no período militar por Ildo Menegheti, que sucedeu Brizola", conta Nair.

Em 1966, envolvida na política estudantil, foi detida no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, onde participou de um ato reivindicatório na tentativa de falar com o então presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), José Serra. "À época, estudantes e historiadores era considerados os maiores subversivos. Fazíamos tudo que era arte até antes do sino bater", brinca Nair, sobre os tempos de movimento estudantil.

Já formada, veio para o Paraná. Morou em Medianeira por dois anos, e depois mudou-se para Santa Helena. Por ironia do destino, casou-se com um militar, o professor Luiz Fernando Maciel Bastos, com quem teve um filho adotivo, Júnior. "Sempre trabalhei como educadora, pois minha vida sempre foi lecionar. Mas também sempre quis buscar novos desafios e decidi fazer contabilidade em Marechal Rondon", conta Nair.

Já em Cascavel, passou a dedicar-se principalmente aos cuidados de Júnior, porém sem nunca deixar de estar envolvida com questões pertinentes à educação. Sempre morou no bairro Parque Verde, onde envolveu-se com diversas lutas em melhoria para a comunidade. 

Superação

Desde muito cedo, Nair soube que o filho teve paralisia cerebral, por insuficiência respiratória neonatal, sendo afetado no seu sistema motor. Quando Júnior estava com sete anos de idade, Nair ficou sozinha na missão de educar e desenvolver o filho, pois seu marido foi vítima fatal de um acidente automobilístico. "Um dia ouvi de uma das primeiras professoras do Júnior que ele não passaria de um amassador de papéis", conta Nair.

A infelicidade proferida por uma professora marcou Nair, mas ao mesmo tempo, a motivou a se mobilizar para implantação de uma sala de educação especial na Escola Ita Sampaio e, posteriormente na ajuda da construção do Colégio Estadual Prof. Victório Emanuel Abrozino.

Esse empenho de Nair foi fundamental para que Júnior chegasse à faculdade de Educação Física. "Eu levava ele todos os dias à aula, empurrando a cadeira de rodas. Ficava esperando as quatro horas até a aula terminar. Hoje, o Júnior está formado e é pós-graduado", conta orgulhosa.

"Mãe, incansável, contou com o apoio de muitas pessoas. Mas isso tudo só foi possível pela força e determinação de uma mulher guerreira. Por esse motivo, queremos homenageá-la nessa data, estendendo essa homenagem a todas as mulheres de nossa cidade", diz a professora da rede estadual de ensino Ana Paula Noffke, uma das organizadoras da homenagem.