sexta-feira, 17 de junho de 2011

Uma ostra reencarnada, direito do mundo dos mortos

Um fenômeno sobrenatural teria acontecido em Santa Catarina. Eleitores zumbis estariam se filiando a um determinado partido político que debuta no emaranhado de siglas de nosso sistema partidário-fisiológico. Cinco eleitores mortos teriam assinado ficha de apoio a criação do Partido Social Democrata barriga verde. Essa "adesão" em massa – de gente saindo pelas tumbas – pode ser explicada pelo fato que o PSD é uma reencarnação.

Reencarnação de um dos maiores símbolos da fisiologia histórica da política partidária brasileira, o PDS – Partido Democrático Social. Hibrido da extinta Arena, que protagonizou junto com o MDB um mundinho bipolar, a legenda representou durante um tempo - enquanto esteve no poder - o vigor da direita nacional, porém ao passar para oposição começou a declinar até cair no esquecimento.

Dividido, surgiram dissidências que criaram o PFL e PP, sempre representando anseios elitistas. O fim da frente dos "liberais" todos conhecemos, enquanto os progressistas seguiram seu caminho sempre pela ordem e com um progresso direcionado.

Voltando ao reencarnado, algo desperta atenção desde o parto do agora PSD. Uma frase de seu criador: o prefeito de Sampa, Gilberto Kassab que, em entrevista a Rádio Estadão, soltou a pérola: "O PSD não será de direita, não será de esquerda, nem de centro". "Cuma"?...

Essa verborréia é facilmente digerida ao avaliarmos o fenômeno de homogeneização que vem tomando conta do quadro político brasileiro. O fisiologismo de legendas e o oportunismo de seus personagens transformaram a política em campo minado para àqueles com posição: seja ela de esquerda ou de direita.

O discurso que "não existe mais esquerda e direita" vem daí, seduz uma grande parcela da população, especialmente setores da elite que sentem vergonha de assumirem posições mais conservadoras, além dos que pousam de esquerda, mas que não passam de "reformistas" que se assustam com qualquer programa que vise transformações mais radicais.

A hegemonia do centro está impregnada. A criação do PSD confirma essa convergência, que também contamina a população de uma maneira geral. Ninguém assume posição, seja de esquerda ou de direita, todos preferem se velar.

Na opinião desse blogueiro, a frase do Kassab significa um anúncio de mercado do tipo: "topamos qualquer negócio". Foi um aviso as demais siglas fisiológicas, seja do campo conversador, seja do campo "progressista": tendo mandato, ele pode ser negociável, uma maneira de mercantilizar cargos, benesses e posições dentro do jogo político.

Não há dúvida que o PSD foi parido numa placenta de direita, mas não foi gerado com discurso de oposição ferrenha ao centrista governo petista.  Em recente entrevista ao jornal Brasil de Fato, o professor Francisco Fonseca, da USP, explica bem o cenário: "na prática, o partido do Kassab vai ser base do governo, só atuando como força de veto, ali dentro, quando questões mais fundamentais de seus interesses estiverem realmente sob ameaça", avalia.

Kassab quer se dissociar de simbólicos "liberais", como Agripino Maia, César Maia e Antônio Carlos Magalhães e sair por cima na derrocada do moribundo DEM, que já elegeu 105 deputados federais e 14 senadores e que hoje se resume a 44 deputados e dois senadores.

O paulistano está trazendo algumas figuras caricatas como Índio da Costa, Kátia Abreu e políticos que dentro de seus estados representam oligarquias, mas a grande verdade é que a legenda "Frankstein" não acrescentará nada de novo ao quadro político brasileiro.

Será mais uma sigla de aluguel, um partido conservador de programa retrógrado, baseado na cartilha liberal. Será um Partido Sem Direção, disposto a se tornar legenda palaciana e chapa-branca se assim for conveniente, remetendo-se ao seu DNA antigo, que era conhecido como a ostra incrustada na nau do Estado. É a ostra reencarnando com direito à apoiadores do mundo dos mortos-vivos. 


* A ilustração acima com o engravatado com jeitão de político liberal é do clássico A Noite dos Mortos Vivos, de George Romero. Vai a dica para quem ainda não viu...

2 comentários:

  1. As brigas partidárias disputando maior representatividade é foco das discussões politicas que nada mais tem a ver com o povo ou com a situaçao do país, mas simplesmete para eleger este ou aquele no futuro, ganrantindo assim suas "aposentadorias"... todos os partidos tem um único objetivo, "FAZER UM PAÍS CADA VEZ MELHOR" assim como Deus é um só, mas pq tantas igrejas ... não acredito em siglas partidárias, mas em ações... bom texto parabéns Julião ...

    ResponderExcluir
  2. "E Dele Chinelada""

    ResponderExcluir