quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dia da Imprensa: pauta, lead e tapinhas nas costas

Primeiro dia de junho é data "festiva". Incontáveis parabenizações e tapinhas nas costas, "colaboradores" recebendo congratulações de diretores, acadêmicos ansiosos pelo canudo já sem validade dos cursos de formação de monstrinhos competitivos e diretores à mando de "barões" reunindo a "peãozada" para dizer o quão importantes são esses "colaboradores" para nossa família-redação. 

Datas comemorativas sempre me chamam a atenção. Elas pautam as reuniões de pautas. "Pauta", termo técnico, chato e, que em alguns casos, não passa de censura prévia. E lá se vai o repórter às ruas perguntar ao transeunte sobre a imprensa. Políticos também dão pitaco com aula de demagogia: “Parabéns a vocês que levam a informação aos lares de forma ética e responsável”.  

Como o dia era comemorativo me arrisco a ler um diário. Na capa, me deparo com o terror em letras garrafais, medo classista e a velha tentativa da criação da síndrome do pânico na população. A tarefa é definir inimigos a todo custo, isto é história cara pálida, é luta de classes. O medo sempre foi usado para controlar a sociedade. 

Viro a página e vou ao êxtase com uma dupla de articulistas; um dinossauro fala em ideologização (sic) e pejorativamente sobre os índios. Ao seu lado, um sociólogo (pasmem) fala sobre certa “agenda subversiva” a caminho de uma tal “sociedade libertária” que inclui o apelidado “kit-gay”, a legalização do aborto e da erva danada, um cenário considerado por ele a versão de Sodoma e Gomorra tupiniquim 

Páginas à frente está lá, personificado nas linhas de linhas editoriais, o pensamento da classe média das capitais, boquiaberta com  “baderneiros vermelhos” que causam “transtorno” e “invasão” do sempre calmo trânsito da megalópole. Enfim, me arrisco no diário, mas paro por ali, antes que minha manifestação deixasse de ser pacífica e que fique claro, “por enquanto pacífica”, entre vírgulas. 

Distante alguns quilômetros, a imprensa capixaba travava “guerra-santa” contra os hereges despudorados que não entenderam o criacionismo, valendo-se até de inventar estória sobre queimação de livros sagrados em praça pública, roteiro ao estilo Farenheit 451. Enquanto isso, “Lobo Grande” solta a pérola: “estão crucificando torturadores por arrancarem algumas unhinhas”, levando ao delírio os carnegões e intelectos orgânicos do Manhattan Connection. 

E assim segue a baila do primeiro dia de junho. O dia do faz de conta, do silêncio aos desmandos e da falta de valorização de uma classe. Afinal, feridas próprias não devem ser expostas, tampouco rendem “pautas”. Já o velho lead de “quem é? para quem é feita? a que poderes ela representa? Não interessa... o que interessa é que é o dia dela: a Imprensa. Dia dos tapinhas nas costas, de ganhar um bombonzinho e ouvir nossas mães orgulhosas dizerem para vizinha do lado: "meu filho é jornalista".

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