terça-feira, 21 de junho de 2011

O "caudilho", a mídia e uma Nação em trevas


Brizola no exílio no Uruguai (foto: Ricardo Chaves)
“Se quiséssemos caracterizar estes últimos decênios da história humana, sem dúvida, deveríamos chamá-los de idade da mídia, dos meios de comunicação – a propaganda, os jornais, as revistas, as agências e os sistemas de rádio e televisão. Nestes tempos, vem sendo a mais poderosa arma de dominação dos povos, isto é: a servidão consentida, através da mente humana”. 

Essa citação que retrata tão bem a nossa atualidade foi escrita há 18 anos por Leonel Brizola em seu texto "Os novos exércitos". Político que teve atuação marcante na história brasileira por mais de meio século, ainda antes do Golpe de 64, já contestava a política "conciliatória" de Jango com setores mais conservadores. Posteriormente teve participação decisiva na atuação contra o regime milico-empresarial imposto pelo AI-5. 

Quando prefeito e governante nos Pampas apoiou movimentos camponeses e agricultores sem-terra, dizia que a reforma agrária deveria sair, "fosse na lei, fosse na marra".  Num mundo de tantos "ismos" na política – hoje caracterizado em especial pelo fisiologismo e oportunismo – Brizola nunca aceitou rótulos de "ismos", apesar da convergência ao socialismo e de ser o criador do verdadeiro "trabalhismo", não esse deturpado por figuras que hoje compõem o partido que foi um dos idealizadores junto com Darcy Ribeiro.

Em reação a esse descarte aos rótulos, setores conservadores criaram pejorativamente o termo "brizolismo" (nunca aceito pelo gaúcho), além de o relacionarem ao "caudilhismo". Acusado de personalista, Brizola foi uma dessas figuras que sempre viveu em "pé-de-guerra" com a mídia hegemônica em especial durante seus governos no Rio de Janeiro.

Enfrentou a poderosa Rede Globo, de quem sempre foi vítima de ataques e perseguição. As Organizações Marinho sempre fizeram questão de tripudiar e adjetivar Brizola com outros "ismos" tão característicos da grande imprensa, entre eles: personalismo, egocentrismo, narcisismo e centralismo. 

O medo de setores conservadores à figura de Leonel Brizola sempre foi visível, o pavor de que o gaúcho chegasse ao governo do Brasil sempre ficou explícito na linha editorial do mais poderoso grupo de comunicação do País. E uma pergunta sempre ficou no ar: qual a raiz do medo da toda poderosa especializada na transmissão do pensamento da elite dominante? A herança marxista do gaúcho? As experiências de seu aprendizado no exílio? Ou seu encontro com Che e Fidel em Cuba? 

Na opinião despretensiosa desse blogueiro, a raiz do medo estaria na possibilidade de transformações radicais por meio da educação, a maior arma de um líder para fazer uma verdadeira revolução cultural.

Companheiro de Brizola no exílio em terras uruguaias, o antropólogo Darcy Ribeiro o considerava um "estadista da educação". Durante sua gestão como governador no Rio,  Brizola foi responsável pelo programa educacional mais ousado que o país já vivenciou. Os CIEP’s (Centros Integrados de Educação Pública), unidades de ensino de tempo integral idealizados pelo próprio Darcy Ribeiro. Conhecidos também como "Brizolões", eles tinham por objetivo atender crianças e adolescentes de baixa renda. 

Nas palavras do antropólogo Darcy Ribeiro, Brizola foi “o primeiro governante brasileiro a compreender em toda a profundidade a inexcedível importância dos problemas educacionais, cuja solução é requisito indispensável para o que o Brasil progrida”.

Nesta terça-feira, dia 21, quando é lembrado sete anos da morte do "caudilho", termino esse breve texto com mais uma citação de Os novos exércitos, escrito em 1993 por Leonel Brizola que, apesar dos pesares, pregava: “A verdade sempre acaba por prevalecer, mesmo quando um avassalador monopólio de comunicação mantém toda uma Nação em trevas”.


E a verdade prevaleceu diante do monopólio... O famoso direito de resposta concedido à Brizola em 1994, lido pelo "vozeirão bíblico" de Cid Moreira foi prova disso. O episódio ainda é considerado um dos fatos mais marcantes da história da televisão brasileira. Veja abaixo.

Um comentário:

  1. Grande Brizola .. grande homem, fato histórico esse direito de resposta heim meu cumpadre blogueiro ... abração

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