sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Jornalistas no Pará completam uma semana de greve

Imagens: Mídia Ninja

Os trabalhadores do Diário do Pará e do DOL, grupo de propriedade do político Jader Barbalho completam nesta sexta-feira (27/09) uma semana de greve por melhores salários e condições de trabalho. Confiram abaixo a segunda carta da comissão de trabalhadores enviada aos leitores com os esclarecimentos sobre a paralisação.  


"Os trabalhadores do jornal Diário do Pará e do Diário Online (DOL) chegam ao sétimo dia de greve nesta sexta-feira. Estamos fortalecidos pela certeza de cumprir um papel fundamental na conscientização de jornalistas do Brasil inteiro quanto à necessidade de mobilização de nossa categoria profissional por melhores condições de trabalho e salário, embora, infelizmente, para a direção da empresa, toda a nossa mobilização não passe de atos de vandalismo e radicalismo.

Porém, nenhuma das pessoas presentes em nossas manifestações tem agido com força ou violência, como a direção da empresa insiste em propagar. Em nossos atos, temos cuidado para que ninguém sequer toque em qualquer veículo ou outro patrimônio material do grupo RBA e de particulares, muito menos existiu qualquer agressão física contra qualquer pessoa. O único ato mais extremado durante nossas manifestações diárias foi justamente uma agressão praticada pelos numerosos seguranças contratados pela empresa contra a diretora do Sindicato dos Jornalistas do Pará, Eliete Ramos - que registrou B.O e fez exame de corpo de delito –, e os jornalistas em greve, fato que está registrado nas redes sociais, em fotos e vídeos.

Afinal, não é verdadeira a crença de que a única maneira de conseguirmos o que desejamos é através do uso da força e violência, como afirma a carta enviada pela Diretoria. Contra fatos, não há argumentos. Temos razões suficientes para fazermos o que estamos fazendo – conhecidas de perto por quem compartilha conosco o ambiente da redação.

Nossa primeira conversa pós-greve se deu graças à tentativa do diretor financeiro Francisco Melo em mediar um contato com Jader Filho. Nesse papo, o próprio declarou a intransigência do chefe em relação a muitos pontos sobre os quais gostaríamos de negociar, conforme já contamos em nossa última carta-resposta.

Não é à toa que, apesar do pouco espaço que uma greve de jornalistas consegue na grande imprensa, profissionais da comunicação de todos os estados brasileiros sabem o que está acontecendo em Belém, no Pará, e têm manifestado seu apoio por meio de blogs, redes sociais e discursos públicos. Entendemos o incômodo da direção do Grupo RBA de Comunicação com a exposição negativa que têm recebido, mas reafirmamos que nossos atos públicos, realizados diariamente em frente à sede da empresa, na avenida Almirante Barroso, em nada ferem a legalidade de manifestação de uma classe trabalhadora que luta por direitos. Muito além disso, nossa greve e manifestações têm contado com o apoio incondicional de grande parte da sociedade belenense, que contribui financeiramente, buzina ou aplaude durantes as mobilizações a céu aberto.

Ontem, por exemplo, pouco antes do último comunicado ser enviado, duas turmas de estudantes de jornalismo da UFPA participaram de uma grande aula aberta junto aos manifestantes. Entre várias reflexões sobre o mercado de trabalho e as motivações da greve, dançamos uma ciranda embalada pela música d’Os Saltimbancos na avenida Almirante Barroso. Como pode ser vandalismo isso?

Reiteramos que o Comando de Greve protocolou nesta quinta-feira uma contraproposta à empresa, reforçando nossa disposição em negociar o fim de nossa greve em termos que beneficiem tanto os trabalhadores grevistas quanto a própria empresa. Nenhum de nós quer manter esta paralisação, pois amamos o ofício que escolhemos para nossas vidas, mas entendemos que estamos no exercício legal de nossos direitos enquanto trabalhadores. Até o começo da greve não houve uma mesa de negociação entre a empresa e o Comando, ao contrário do que afirma a carta enviada pela Diretoria.

A última proposta apresentada, mencionada pela empresa, já garante à categoria o maior reajuste salarial já dado para qualquer categoria do Brasil nos últimos anos. Isso diante de um cenário onde já havia apenas R$ 70,00 a mais em nossos contracheques, o que representaria o único aumento ao qual teríamos direito não fosse nossa mobilização. Porém, há pontos como o salário dos editores do Diário do Pará, dos coordenadores do DOL, e até mesmo sobre o piso salarial que não foram mencionados na proposta, assim como a questão da estabilidade pós-greve.

E essa proposta apresentada pela empresa não pode ser chamada de negociação, e sim de imposição, uma vez que, através do seu advogado, o Grupo RBA afirmou que essa seria a sua última proposta. Rogamos à direção que esta sim aja com menos intransigência e se disponha a ouvir nossas reivindicações, porque somos mais que mera força de trabalho, e sim jovens, homens e mulheres pensantes e dispostos a negociar. Pessoas do Brasil inteiro têm nos dado ouvidos e apoio ao longo dos últimos sete dias. A empresa poderia seguir esse exemplo, pois não há marketing melhor e nem maneira mais eficaz de impulsionar o crescimento do que profissionais satisfeitos em seu trabalho. Queremos retornar às nossas funções e, de novo, retomar o compromisso que abraçamos: produzir informação de qualidade.

Para que não reste dúvida, reiteramos que a palavra ‘negociar’ permanece em nosso vocabulário, sim. E é um verbo que jamais abandonaremos."


Comissão de trabalhadores do Diário do Pará e DOL

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