Mística em memória aos cinco anos do assassinato de Keno |
No fim de outubro, Íris participou em
Santa Tereza do Oeste de um ato em memória ao assassinato de seu ex-marido.
Organizado por integrantes da Via Campesina e do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra), o evento reuniu aproximadamente 500 pessoas na
estação da IAPAR, local onde ocorreu o crime cometido por pessoas ligadas à NF
Segurança, empresa contratada pela Synenta Seeds, multinacional que mantinha na área
experimentos ilegais com transgênicos e que desrespeitava leis nacionais de
biodiversidade.
Passados cinco anos do episódio – que também
vitimou um dos seguranças contratados pela empresa – os integrantes da milícia armada
permanecem impunes. Da mesma forma, a multinacional segue recorrendo da multa
de R$ 1 milhão de reais imposta pelo IBAMA, pelos experimentos na área de
amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu, patrimônio da humanidade declarado
pela Unesco.
A ação penal que apura as
responsabilidades pelo assassinato ainda está longe do fim, já que o processo
ainda não ultrapassou a fase de oitivas de testemunhas. Depois de ouvidas todas
as testemunhas, o juiz decidirá quem irá a júri popular pelo assassinato de Keno
e do funcionário da NF Segurança Fábio Ferreira.
Após o episódio, o próprio embaixador suíço
Rudolf Bärfuss pediu desculpas a Íris Oliveira, com a seguintes palavras. "Em
nome do governo do meu país, eu quero pedir desculpas". Na época, Íris entregou
uma carta ao embaixador exigindo que o governo suíço ajudasse na punição à
Syngenta pelo ato de violência e pelos crimes ambientais dos quais é acusada.
As investigações feitas pela polícia
responsabilizaram nove pessoas contratadas pela NF Segurança, assim como o
proprietário da Empresa, Nerci de Freitas, e o ruralista Alessandro Meneghel
pelo assassinato de Keno, isentando a Syngenta de responsabilidade criminal por
falta de provas.
Em recente conversa com o Sítio Coletivo, Íris
falou da dor que permanece latente, mas de como o episódio fortaleceu suas convicções
e não lhe fez desistir da luta pela terra. No bate papo com esse blogueiro, Íris também falou da conquista do lote no
assentamento que leva o nome de seu ex-esposo, situado às margens da BR-277, em
Cascavel. Confira abaixo trechos da conversa.
[Sítio] Memória
[Íris] Para nós da família, para mim que fui sua
esposa, para nossos filhos, é muito gratificante essa homenagem que o movimento
fez. Não esperávamos que a família do movimento fosse tão grande, não tenho nem
o que falar deste ato em memória do Keno, é muito importante o que está
acontecendo, ver que ele não foi e jamais será esquecido por esses trabalhadores.
Força para continuar
Em primeiro lugar eu nunca desisti após a
morte do Keno, sua morte nunca me fez pensar em sair do movimento ou dizer
agora vou parar com a luta. Na verdade isso me deu mais força e, junto com meus
dois filhos, continuamos nossa luta.
Conquista da terra
A conquista do lote foi muito especial,
apesar do Keno não estar com a gente pessoalmente, mas ele estava em memória,
na minha, dos nossos meninos e de todos aqueles que conquistaram seus lotes. Foi
uma grande conquista e para aqueles que achavam que nós iríamos se calar,
mandamos o recado que não nos calaremos.
Desafio
Tocar o assentamento Valmir Mota para
frente, onde o Keno estiver ele ficará admirado com nós, o assentamento é muito
importante. É uma luta que ele conquistou junto com nós, a luta pela terra,
pela produção orgânica no assentamento.
Legado
Apesar do Keno não estar aqui, tenho que certeza
que todos que participaram deste ato veem a importância dele na nossa vida, na
vida do movimento aqui na região. No dia do sorteio dos lotes foi muito triste
ele não estar lá, mas eu tenho certeza que de onde ele está hoje, ele viu a felicidade
de cada um, dos seus filhos, que hoje estão num lugar bem colocado. Uma conquista
que também foi dele.
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