Trio sem terrinha faz leitura da pauta de reivindicações |
Aprender desde cedo o valor da luta pela
terra, pelo direito de estudar e pela dignidade. É com essa lição - para além
da educação formal - que crianças camponesas, filhos e filhas de
trabalhadores do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) saem em busca
de direitos que ainda parecem "privilégios". É no tradicional "mês das crianças",
que anualmente é organizada a Jornada Nacional dos Sem Terrinha.
Realizada desde 1996 pelo Setor de Educação
do movimento, a Jornada deste ano ocupou nesta quarta-feira (31/10) sedes de
pelo menos 16 Núcleos Regionais de Educação, além da SEED (Secretaria Estadual
de Educação do Estado do Paraná).
A mobilização dos Sem Terrinhas, iniciada
nesta terça-feira (30) dentro dos assentamentos e acampamentos, tem por
objetivo denunciar a ausência do governo municipal e estadual no atendimento às
demandas da educação no campo e também pressioná-los a atender a pauta de
reivindicações do movimento social de luta pela terra.
Em Cascavel, aproximadamente 100 crianças com idade entre 05 e 12 anos estiveram na sede do Núcleo Regional, acompanhadas de mães e professoras de
quatro acampamentos e um assentamento da região de Cascavel. Após a leitura da
pauta feita pelo trio sem terrinha, Mailson Moreira (10 anos), Aline Salvador (09) e
Milene Moreira (09), o chefe do Núcleo, professor Vander Piaia, recebeu as
reivindicações do movimento.
As principais demandas giram em torno da
construção, reforma e ampliação de colégios estaduais em assentamentos para que
possam oferecer educação profissionalizante e técnica, garantindo toda
estrutura necessária para dar qualidade ao ensino.
Além do atendimento apropriado às crianças
com necessidades especiais nas Escolas Itinerantes, à garantia de transporte escolar
seguro e suficiente para os estudantes, melhores condições de trabalho aos
professores e a garantia do deslocamento dos educadores até as escolas e
melhoria da merenda escolar, sendo no mínimo 30% da agricultura familiar.
Escolas no campo
A luta por educação é uma necessidade
permanente no MST, visto que muitas escolas estão sendo fechadas no campo.
Muitos assentamentos não têm escolas e os que têm a infraestrutura é precária e
com o atendimento somente nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A
mobilização denunciou o fechamento dessas escolas do campo. Nos últimos
anos, segundo levantamento do Setor de Educação, foram fechadas
mais de 37 mil escolas rurais em todo o Brasil, sendo que só no Paraná - na
década de 2000 - foram fechadas 44% das escolas da zona rural.
Além da negociação das demandas das
escolas e dos assentamentos, a Jornada dos Sem Terrinha constitui-se numa
atividade pedagógica de grande valor do movimento que contrapõe o paradigma da
educação formal, pensando a infância na perspectiva de um projeto de
emancipação humana.
São com palavras de ordem como "Escola itinerante chegou para ficar,
lutando pela terra e o direito de estudar!" ou "Che, Zumbi, Antonio Conselheiro; na luta por justiça, somos todos
companheiros!", que as crianças camponesas fortalecem sua identidade sem terra. São nas jornadas que os filhos e filhas dos agricultores aprendem valores de forma lúdica e pedagógica. No mês dos "presentes e das travessuras",
os Sem Terrinha aprendem a lição que na sociedade das desigualdades é preciso
lutar desde cedo para que direitos deixem de ser privilégios.
Sem Terrinhas no Núcleo Regional de Educação de Cascavel |
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