segunda-feira, 26 de novembro de 2012

"Jornalistas precisam assumir postura militante"

Gilney Viana no 35º Congresso Nacional dos Jornalistas

É de fundamental importância a participação dos jornalistas no processo de condução dos trabalhos da Comissão da Memória e da Verdade, pois a categoria tem muito a contribuir, foram um dos primeiros a serem atingidos pelo regime militar. A constatação de Gilney Viana, Assessor Especial da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e coordenador do Projeto Direito à Memória e à Verdade da SDH, foi uma convocação aos jornalistas brasileiros a assumirem uma postura militante em relação aos crimes e violações contra os direitos humanos ocorridos no período da ditadura militar.

Presente no 35º Congresso Nacional de Jornalistas, realizado entre os dias 07 e 10 de novembro em Rio Branco, no Acre, o ex-militante da ALN (Ação Libertadora Nacional) falou sobre a criação da Comissão da Verdade, instalada pela presidenta Dilma Rousseff com a incumbência de investigar, no prazo de dois anos, as violações aos direitos humanos cometidas pelo Estado brasileiro entre 1964 e 1988. “Todos os povos tem direito à sua memória”, exclama o assessor, que tem recebido uma série de documentações das Comissões da Verdade criadas nos Estados para auxiliar o trabalho da comissão.

O Assessor da SDH enumerou desagravos aos direitos humanos no período, lembrando que a ditadura cometeu prisões, sob a forma de sequestro, deu um golpe de estado, destituindo um presidente eleito, acabando com partidos políticos e impondo o bipartidarismo no país. “O regime jogou na ilegalidade dezenas, centenas, milhares de pessoas”.

Para Viana, há um manto de silêncio em relação aos atentados ocorridos no regime militar no Brasil. “Chega a ser reducionismo falar em ditadura citando apenas as torturas e assassinatos, pois foi um regime que foi além, que cassou direitos da classe trabalhadora, direitos civis, cassou até mesmo a esperança de um povo”, destacou, fazendo referência ao domínio ideológico imposto pelos golpistas. “Em todo momento nos tentavam convencer que éramos incapazes de lutar e de vencer a ditadura”.

Na presença de delegados do Congresso – em sua maioria dirigentes sindicais – observadores, convidados e estudantes de comunicação, Viana falou da importância da participação de jornalistas nos trabalhos da Comissão da Verdade. “Os jornalistas precisam assumir uma postura, uma posição. Essa federação [Fenaj], esses sindicatos, tiveram companheiros exilados, torturados e mortos no período. Sindicatos sofreram intervenções e as redações foram as primeiras a serem visitados pelos militares. Os jornalistas de esquerda, o pessoal que trabalhava com comunicação de alguma forma e que eram ligados aos meios alternativos, foram os primeiros perseguidos pelo regime”, lembrou Viana.

Olhar jornalístico

Durante o congresso em Rio Branco foi lançada oficialmente a Comissão da Memória e da Verdade da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas). O órgão vai reunir informações sobre a atuação da ditadura militar no Brasil contra os jornalistas. “Essa comissão pretende constituir um olhar jornalístico das violências que a categoria sofreu na ditadura. Tenho certeza que aparecerão novos casos de censura e cerceamento”, disse Celso Schroder, presidente da Fenaj.

O jornalista Pedro Pomar - neto de Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar, assassinado em 1976, e filho de Wladimir Pomar, preso e torturado pelo regime - apresentou como sugestão à comissão lançada a realização de audiências públicas e a participação de jornalistas de veículos alternativos da imprensa e que estiveram no exílio durante o período da ditadura militar.

Para Gilney Viana, a comissão criada pela Fenaj vai de encontro a história da categoria dos jornalistas brasileiros. “É uma iniciativa importante, pois essa categoria tem sua história marcada por agressões sofridas e pela resistência. É importante a constituição de relatos, documentos, arquivos audiovisuais, pois a batalha do passado se refere ao presente e ao futuro”.

Um comentário:

  1. Ou participa ou se omite.

    Não há um corda bamba segura, da qual se possa cair para uma rede salvadora.

    Estava certo o Edgar (o Allan Poe!), para quem "os homens que exercem a profissão de jornalistas parecem constituídos como os deuses do Walhalla, que se cortavam em pedaços, todos os dias, e acordavam de perfeita saúde todas as manhãs".

    É uma profissão dilacerante, mas com ética e consciência social pode ser muito honrada.

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