Gilney Viana no 35º Congresso Nacional dos Jornalistas |
É de fundamental importância a participação dos
jornalistas no processo de condução dos trabalhos da Comissão da Memória e da
Verdade, pois a categoria tem muito a contribuir, foram um dos primeiros a
serem atingidos pelo regime militar. A constatação de Gilney Viana, Assessor Especial
da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e coordenador do
Projeto Direito à Memória e à Verdade da SDH, foi uma convocação aos
jornalistas brasileiros a assumirem uma postura militante em relação aos crimes
e violações contra os direitos humanos ocorridos no período da ditadura
militar.
Presente no 35º Congresso Nacional de
Jornalistas, realizado entre os dias 07 e 10 de novembro em Rio Branco, no
Acre, o ex-militante da ALN (Ação Libertadora Nacional) falou sobre a
criação da Comissão da Verdade, instalada pela presidenta Dilma Rousseff com a
incumbência de investigar, no prazo de dois anos, as violações aos direitos
humanos cometidas pelo Estado brasileiro entre 1964 e 1988. “Todos os povos tem
direito à sua memória”, exclama o assessor, que tem recebido uma série de
documentações das Comissões da Verdade criadas nos Estados para auxiliar o
trabalho da comissão.
O Assessor da SDH enumerou desagravos aos
direitos humanos no período, lembrando que a ditadura cometeu prisões, sob a
forma de sequestro, deu um golpe de estado, destituindo um presidente eleito,
acabando com partidos políticos e impondo o bipartidarismo no país. “O regime
jogou na ilegalidade dezenas, centenas, milhares de pessoas”.
Para Viana, há um manto de silêncio em relação
aos atentados ocorridos no regime militar no Brasil. “Chega a ser reducionismo
falar em ditadura citando apenas as torturas e assassinatos, pois foi um regime
que foi além, que cassou direitos da classe trabalhadora, direitos civis,
cassou até mesmo a esperança de um povo”, destacou, fazendo referência ao
domínio ideológico imposto pelos golpistas. “Em todo momento nos tentavam convencer
que éramos incapazes de lutar e de vencer a ditadura”.
Na presença de delegados do Congresso – em sua
maioria dirigentes sindicais – observadores, convidados e estudantes de
comunicação, Viana falou da importância da participação de jornalistas nos trabalhos
da Comissão da Verdade. “Os jornalistas precisam assumir uma postura, uma
posição. Essa federação [Fenaj], esses sindicatos, tiveram companheiros
exilados, torturados e mortos no período. Sindicatos sofreram intervenções e as
redações foram as primeiras a serem visitados pelos militares. Os jornalistas
de esquerda, o pessoal que trabalhava com comunicação de alguma forma e que
eram ligados aos meios alternativos, foram os primeiros perseguidos pelo
regime”, lembrou Viana.
Olhar
jornalístico
Durante o congresso em Rio Branco foi lançada
oficialmente a Comissão da Memória e da Verdade da Fenaj (Federação Nacional
dos Jornalistas). O órgão vai reunir informações sobre a atuação da ditadura
militar no Brasil contra os jornalistas. “Essa comissão pretende constituir um
olhar jornalístico das violências que a categoria sofreu na ditadura. Tenho
certeza que aparecerão novos casos de censura e cerceamento”, disse Celso
Schroder, presidente da Fenaj.
O jornalista Pedro Pomar - neto de Pedro Ventura
Felipe de Araújo Pomar, assassinado em 1976, e filho de Wladimir Pomar, preso e
torturado pelo regime - apresentou como sugestão à comissão lançada a
realização de audiências públicas e a participação de jornalistas de veículos
alternativos da imprensa e que estiveram no exílio durante o período da
ditadura militar.
Para Gilney Viana, a comissão criada pela Fenaj
vai de encontro a história da categoria dos jornalistas brasileiros. “É uma
iniciativa importante, pois essa categoria tem sua história marcada por agressões
sofridas e pela resistência. É importante a constituição de relatos,
documentos, arquivos audiovisuais, pois a batalha do passado se refere ao
presente e ao futuro”.
Ou participa ou se omite.
ResponderExcluirNão há um corda bamba segura, da qual se possa cair para uma rede salvadora.
Estava certo o Edgar (o Allan Poe!), para quem "os homens que exercem a profissão de jornalistas parecem constituídos como os deuses do Walhalla, que se cortavam em pedaços, todos os dias, e acordavam de perfeita saúde todas as manhãs".
É uma profissão dilacerante, mas com ética e consciência social pode ser muito honrada.