"Obrigar a polícia a ser eleita, guarda por guarda, pelas pessoas que ela vai controlar. Também acho que devíamos fazer um leilão em praça pública de todos os cargos oficiais mais lucrativos. Um leilão mesmo, aberto, em vez de fazer às escondidas, nos escritórios enfumaçados do poder".
Fiquem calmos 'sitiantes', este blog não quer
disputar espaço com os noticiários diários de política institucional ou
partidária, tampouco estou propagandeando propostas de postulantes que tem
solução para todos nossos males.
Faltando poucos dias da data que nos fazem crer ser a
mais importante da luta política ou o momento onde "todos se igualam (sic)" - não em
direito, mas sim em dever - decidi fazer uma postagem em homenagem a uma figura
que eu cravaria o 'confirma' sem titubear.
A proposta descrita no primeiro parágrafo fez parte da plataforma política de um dos candidatos a prefeito da cidade de São
Francisco, na Califórnia, em 1979. Isso mesmo a frase é de Jello Biafra, um dos
mais lendários nomes do punk rock mundial.
Autor de letras recheadas de ironia e discurso político
anti-imperalista; de clássicos como California Über Alles, Holiday in Cambodia,
Too Drunk to Fuck e Nazi Punks Fuck Off, Biafra é - sem sobra de dúvidas - uma das
figuras mais importantes dos movimentos de esquerda mundial das três últimas décadas.
Ícone do cenário underground, seja na arte ou na
política, Jello Biafra se aventurou por "processos políticos tradicionais". Sua eleição a prefeito em 1979 foi o fato mais
marcante. Sua candidatura à época teve como principal objetivo mostrar que a
eleição em São Francisco não era "real", mas sim uma simples batalha entre dois
setores da direita.
"O que eu queria era mostrar que a disputa era entre
um candidato dos banqueiros, Feinstein, e Kopp, uma marionete dos interesses
imobiliários", disse Jello Biafra em entrevista à revista Bizz, em 1986. "Quem tinha
consciência disso, e já estava de saco cheio, votou em mim", fala o
músico na mesma entrevista.
Crítico voraz do então governador da Califórnia
Jerry Brown, Biafra foi o quarto candidato mais votado entre dez nomes,
obtendo 6.591 votos, ou seja, pouco mais de 3% do eleitorado. Números que contribuíram para uma eleição de desempate (segundo turno) entre os dois principais
candidatos.
Jello Biafra ainda tentou concorrer mais uma vez
ao cargo de prefeito, mas foi banido por uma lei que só permite candidatos com o nome de batismo (Eric Boucher - no seu caso) e nunca com nome artístico, pseudônimo ou
apelido.
Em 2000 chegou a concorrer nas prévias do Green
Party (partido verde) em Nova Iorque para as eleições presidenciais dos Estados
Unidos. Sua candidatura, caso aprovada, teria como vice o jornalista Mumia
Abu-Jamal, condenado à morte sob acusação de ter matado um policial. A escolha
foi a maneira de Jello mostrar sua posição em relação à pena de morte, num
aspecto amplo, além de chamar atenção para o desenrolar do caso de Mumia.
Apesar de encarar o processo das urnas, Biafra sempre apontou que as ruas e os palcos são os espaços mais propícios para
o embate político. "(...) ação nas ruas é uma parte disso, mas a outra é tirar estes
imbecis dos escritórios deles, que é uma coisa que ainda podemos fazer".
A poucos dias de sermos 'convocados' a canalizar
todas nossas forças na 'festa democrática' da cidadania ocasional, da indignação seletiva
e dos 'candidatos cao cao', lhes deixo com versos da canção I Won’t Give Up, do
projeto Jello Biafra And The Guantanamo School Of Medicine.
"(...)
da minha pequena e própria maneira
Eu fiz um juramento
E você pode fazê-lo agora!
as corporações não poderão me ter
Não vou desistir
Isso não é uma opção!"
(Jello Biafra- I Won´t
Give Up)
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