Vai um Cohiba aí? (Charge de Rafael Balbueno) |
Imaginem o festerê que adentrou a madrugada desta quarta-feira, dia 25 de maio, em nossa Capital Federal. Sejam elas nos restaurantes luxuosos, mansões de parlamentares e grandes latifundiários ou em casas noturnas de jogos de azar e sorte no “amor”.
Dá até para ouvir o barulho das pedras de gelo buscando espaço no cristal com scotch, entre um diálogo e outro de Caiado com Rebelo, que como um legítimo "comuna" acende um charuto cubano entregue pelo tampinha arretado, neto do painho coronel. Se imaginando em Sierra Maestra, Aldo dá uma bela baforada no Cohiba em nome da "revolução" e cantarola o hino da Internacional Ruralista.
Em outro cômodo, Vacarezza, o nobre líder de nosso governo progressista, bate um papo descontraído com Lupion e expõe que "antes das diferenças ideológicas deve prevalecer o interesse nacional e a justiça aos abnegados que geram riqueza e alimentam os lares desse imenso país-continente" (sic).
Ao fundo, um parlamentar que me falha a memória de uma dessas siglas "neopentecostais" - rodeado de belas escort girls – usa a expressão "uma mão lava a outra" ao falar com um democrata sobre a absurda proposta de criminalizarem os homofóbicos. Como bons democratas que são, ambos demonizam o "bando de despudorados que não entendem o criacionismo e a ordem natural das coisas".
Em um jogo de carteado, um pequeno grupo de célebres pé-vermelhos da bancada ruralista – aquilo que representa o que há de mais moderno em nosso Congresso (junto com a galera das "neos") – fala ironicamente sobre o anúncio seguido de vaias da morte de mais um ecochato, sem esquecerem do assassinato de Chico Mendes que está perto de completar bodas de prata. Bodas? Bom, deixa para lá... truco, 6, cala a boca papudo!
Enquanto isso o rol de petistas mercantilizados - que abominam luta de classes e acreditam na composição (assim como o tio Getúlio) - discorrem sobre a tal "governabilidade", tudo em nome dessas sete sílabas que formam esse palavrão que serve de senha para "fidelidade aos financiadores de campanhas" ou blindagem para algum consultor.
Voltando ao tempo, ainda na terça-feira à noite (dia 24), – antes de toda essa Sodoma pública – uma passadela de nossos personagens no Congresso Nacional, na teórica "casa da democracia" que ganhou viés de coliseu do Império Romano, onde imperava o panis et circenses, o pão e circo para os mortais. Antes do veredicto final na arena dos leões, alguns fanáticos resolvem intervir e obstruem em defesa da família, ante a peste espalhada pelos sem moral nesse Estado laico e pagão.
Após muito proselitismo de carolas caricatos, eis que 140 excelentíssimos dão seu aval aos predadores do império e saúdam o deus mercado das commodities, simbolizada nas figuras de grandes empresas de agrotóxicos e insumos, financiadoras de campanhas. Do outro lado da arena, 63 são considerados traidores do desenvolvimento da nação.
E como nem só de protagonistas, predadores e traidores vive o espetáculo e como pão e circo só se propaga com uma plateia doutrinada e domesticada por uma bela comunicação de massa, após a madrugada dionisíaca, nossos defensores da nação se regozijam como hienas nas páginas das mídias oficiais e repercutem o último texto de Kátia, a colunista da UDN, que versa sobre a "festa democrática em nosso Estado de direito".
Como já dizia Hannah Arendt, "não há esperanças de sobrevivência humana sem homens dispostos a dizer o que acontece".
ResponderExcluirÉ o caso deste artigo, que vai matando as cobras a unha, pois a pau elas escapam.
O PCdoB se tornou um "partido da ordem", como dizia Marx. Mas há gente crítica lá dentro e quando as ilusões "nacional-desenvolvimentistas" acabarem vai fazer a diferença.
Lamentável e previsível desfecho na Câmara de Deputados...
ResponderExcluirE isso ocorreu ao invés de fortalecer coerentes iniciativas como os Pagamentos por Serviços Ambientais - vide casos internacionais: Nova Iorque e Costa Rica. E também os brasileiros, como os de Extrema(MG) e Baependi(MG).