Foto: Paulo Porto Borges |
As famílias indígenas não têm a garantia de condições e
direitos básicos mínimos como acesso à água potável, energia elétrica, escola,
saúde, etc. Existem situações, como no caso de duas ocupações urbanas em
Guaíra, que as famílias se encontram em situação extremamente insalubres, pois
estão instaladas próximas ao “lixão” e aterro sanitário. Em outras situações,
escolas das comunidades são mantidas pelos próprios indígenas, pois o poder
público estadual, principalmente, não aprova a instalação de “escola
itinerante” para os indígenas porque considera que suas ações e ocupações são
ilegais.
Embora estivessem presentes na região desde passado
distante (os vários sítios arqueológicos são cabal evidência da sua presença na
região), os indígenas são acusados pelos setores dominantes locais de serem
paraguaios que estão invadindo terras no Brasil. Na realidade, estes indígenas
foram expulsos de seu território no Paraná a partir da década de 1950 com a
Frente de Expansão e muitos migraram para outras regiões, sobretudo para o
Estado de Mato Grosso do Sul. Em vista da expansão do agronegócio, sobretudo de
cana-de-açúcar, e a bárbara violência cometida contra os indígenas naquele
Estado, muitos indígenas estão retornando para seu antigo território nos
municípios de Guaíra e Terra Roxa. Portanto, o retorno dos indígenas é motivado
pelo contexto de expansão do agronegócio e a violência nele implícita, bem como
pela retomada das suas raízes territoriais e culturais, enfim retomada de sua
organização social, política, econômica, etc.
Para garantir sua sobrevivência, além de medidas
assistenciais, como o Programa Bolsa Família, por exemplo, as comunidades se
organizam para produção de subsistência nas áreas ocupadas. Muitos indígenas
também buscam trabalho na construção civil, propriedades agrícolas,
frigoríficos, colheita de maçã em Santa Catarina , dentre outras. Mas, para
dificultar a luta e ocupações, recentemente, empresários e alguns proprietários
rurais mobilizam-se na região para a não contratação da mão-de-obra indígena.
Acrescenta-se que os indígenas são vítimas de um bárbaro
e sórdido preconceito das elites locais e regionais que se reproduz em meio à
população, sobretudo a partir de notícias veiculadas na imprensa. Aliás,
geralmente os indígenas são apresentados como invasores de propriedades
“produtivas” que visam tomar 100 mil hectares de “legítimos proprietários” e
por isso ameaçam o desenvolvimento e o bem estar da sociedade local e regional.
Também os segmentos que apoiam as lutas indígenas, inclusive a Funai local, são
vistos pelos ruralistas locais organizados nos Sindicatos Rurais Patronais como
inimigos do progresso e do desenvolvimento da região.
Mas, ao contrário do que é divulgado, os indígenas não
estão reivindicando a demarcação de 100 mil hectares de terra na região Oeste
do Paraná. Sua luta é pela demarcação de terras que sejam o suficiente para a
garantia de sua existência e reprodução da cultura, modo de vida, tradições,
religião, costumes, enfim, do seu território.
A demarcação de terra e o atendimento da reivindicação
dos indígenas trará um conjunto de benefícios ambientais à região, pois sua
relação com a natureza é harmônica, enquanto a agricultura convencional de
negócio (agronegócio), que caracteriza o Oeste do Paraná é altamente dependente
do uso de agrotóxicos e venenos nas lavouras, que contamina a água e o solo e
destrói a vegetação, fauna, rios, etc. A demarcação dessa área de terras para
os indígenas será oportunidade impar para a formação de um território livre de
agrotóxico e venenos diversos. Assim, toda a sociedade, e não somente os
indígenas, será beneficiada com essa demarcação.
Neste sentido, Associação dos Geógrafos Brasileiros -
Seção Local de Marechal Cândido Rondon, manifesta seu apoio à luta dos
indígenas considerando legítimas suas reivindicações e convida a sociedade
civil e entidades organizadas (associações, sindicatos, movimentos sociais,
etc.) a se somar favoravelmente a essa luta. Também se manifesta repudiando
veemente ao preconceito e agressividade de setores da sociedade local e
regional, como alguns meios de comunicação, segmentos políticos, lideranças
ruralistas e empresariais organizadas em entidades diversas, que atuam de variadas
formas para deslegitimar a luta dos indígenas pelo direito ao seu território.
- Está na hora das Prefeituras, Câmaras de Vereadores,
Deputados da Região Oeste e do Governo do Estado se posicionarem a favor da
luta dos indígenas!
- Dilma precisa se posicionar e demarcar já as terras
indígenas!
- Já são mais de 500 anos de massacre e destruição contra
os indígenas! Já passou da hora dos povos indígenas serem respeitados em seus
direitos!
Marechal Cândido Rondon, 20 de março de 2013.
Entidades que assinam e apoiam o Manifesto:
Associação dos Geógrafos Brasileiros - Seção Local de
Marechal Cândido Rondon/PR
Associação dos Estudantes de São Pedro do Iguaçu - AESPI
Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Local de
Curitiba
Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Local de
Aracaju
Associação dos Portadores de Lesões Por Esforços
Repetitivos – AP-LER
Associação Regional em Defesa da Ecocidadania e da Cidade
Sustentável – ARDECS
APP de Luta e Pela Base – Oposição Alternativa/Oposição à
direção da APP-Sindicato
Centro Acadêmico de História UNIOESTE M. C. Rondon “Zumbi
dos Palmares” - Gestão: "Quem vem com tudo não cansa".
Centro Acadêmico de Geografia UNIOESTE M. C. Rondon
“CAGeo Chico Mendes”
Centro Acadêmico de Ciências Sociais UNIOESTE Toledo
Centro de Direitos Humanos – CDH - Foz do Iguaçu
Coletivo de Estudos sobre Conflitos pelo Território e
pela Terra – ENCONTTRA – UFPR
Diretório Central dos Estudantes UNIOESTE – Marechal
Cândido Rondon
Diretório Central dos Estudantes UNIOESE – Toledo
Laboratório de Geografia das Lutas no Campo e na Cidade –
GEOLUTAS - UNIOESTE
Laboratório de Pesquisa Trabalho e Movimentos Sociais –
LTMS – UNIOESTE
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