Trabalhadores da educação relembram o 30 de agosto de 1988 |
"Estamos
aqui para lembrarmos do grande carrasco dos trabalhadores da educação do Paraná,
aquele que ordenou que nossos companheiros fossem recebidos a bombas e cavalos,
o cidadão que hoje posa de grande moralista". Palavras disparadas ao microfone
como um molotov ou bombas de efeito moral, assim como as lançadas em 30 de
agosto de 1988, que foram proferidas pelo professor Jeremias Ariza, que leciona a
disciplina de filosofia no CEEP (Centro Estadual de Educação Profissional)
Pedro Boaretto Neto, em Cascavel.
Professor
Jeremias esteve entre as centenas de funcionários da rede estadual de Cascavel que
se concentraram em frente à sede do Núcleo Regional de Educação para "anticomemoração"
dos 24 anos do fatídico 30 de agosto de 1988. O 'carrasco' a quem o educador se
refere é o atual senador da República, Alvaro Dias (PSDB), considerado por
muitos – especialmente a grande mídia de massa – um dos maiores 'arautos da moral' de nossa cambaleante
democracia.
Há
quem questione as mobilizações do dia 30 de agosto, conhecido como o 'Dia de
Luto e Luta da Educação no Paraná', há quem queira apagar da memória dos
profissionais da educação a 'calorosa recepção' no Palácio do Iguaçu, há quem diga que o senador (então governador) já teria "se
desculpado". "É importante relembrarmos essa data, relembrar dos companheiros
que enfrentaram os cavalos e as bombas do governo, trabalhadores que foram
pisoteados, mas que continuaram lutando como verdadeiros heróis", lembra o
professor Amâncio Luiz dos Anjos, diretor da APP-Cascavel, pedindo uma salva de
palmas aos companheiros presentes naquele protesto.
Em
Cascavel, o 'Dia de Luto e de Luta' contou com uma particularidade; uma grande
presença de estudantes apoiando o movimento. É o que destaca o professor Marcio
Henrique Soares. "Essa é a primeira vez que vejo estudantes participando do
movimento, se juntando aos professores e funcionários das escolas. A presença
deles é mais importante do que de muitos 'companheiros' que aproveitam a
paralisação para ficar em casa", diz o educador, conhecido também como 'Gaúcho'
e que leciona no Colégio Padre Carmelo Perrone.
Marcio
Henrique aproveita a oportunidade para dar uma 'cutucada' em alguns colegas que
não se fazem presentes na luta. "Tem professora que prefere ficar em casa
assistindo televisão, outras pintando o cabelo, cuidando das crianças, assim
como alguns colegas que passam dos 40 anos e começam a dizer que estão muito velhos para
estarem aqui. Ficam acompanhando tudo de casa, enquanto nós estamos dando a
cara aqui a bater, buscando direitos aos quais eles também serão beneficiados e lembrando de companheiros que lutaram no passado", critica.
Histórico
Os
atos ocorridos em todo o Estado neste 30 de agosto fizeram parte do tradicional
Dia de Luto e Luta dos Trabalhadores da Educação. A data é referente ao ano de 1988. Há 24
anos, os professores da rede pública de ensino foram protagonistas de uma greve
iniciada no dia 5 de agosto. Eles reivindicavam a volta do piso de três
salários mínimos, reduzido para dois salários em 1988. Com o intuito de forçar
uma solução mais rápida para a paralisação geral – que então completava 11 dias
– professores ocuparam a Assembleia Legislativa, por onde permaneceram até o
dia 31.
Um
dia antes, no dia 30 de agosto, foi organizado um encontro de núcleos regionais
da APP-Sindicato na Praça Tiradentes, em Curitiba, e uma passeata até a sede do
governo, onde então os trabalhadores foram "recepcionados" pela cavalaria
da PM, com direito - além das ferraduras dos equinos e os cassetetes dos
policiais - a gás de pimenta e bombas de
efeito moral.
Na
época, aproximadamente 30 mil pessoas participavam da passeata. De um lado a
multidão, de outro as tropas policiais. Barracas de professores acampados foram
pisoteadas, manifestantes foram impedidos de entrar na Praça Nossa Senhora de
Salete com carro de som.
Segundo
relatos, o pavor tomou conta de todos, com bombas estourando para todos os
lados, correria generalizada, transformando o centro cívico de Curitiba em uma
verdadeira praça de guerra. Como saldo, vários professores feridos, alguns
inclusive impossibilitados – física e emocionalmente – do retorno as salas de
aulas.
Questionado
hoje em dia sobre o fato, o atual senador Alvaro Dias defende-se afirmando que
o triste episódio sempre "foi explorado politicamente e com má fé e que na
ocasião foi administrado dentro das possibilidades". Segundo a sua versão, "outras
categorias" de trabalhadores teriam se infiltrado na manifestação para
provocar tumultos e a cavalaria estaria no local para dar "segurança aos
manifestantes".
Solidariedade
de classe
Representantes
de sindicatos de outras categorias estiveram presentes no ato deste 30 de
agosto. Isso demonstra que manifestações e mobilizações (mesmo organizadas por
determinadas categorias) não precisam ser necessariamente corporativistas. São
nos atos públicos que trabalhadores mostram sua solidariedade. Oportunidade em
que se deixam de lado as categorias (profissões) para se afirmar como classe
(trabalhadora).
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