Teodoro Alves Tupã (foto: Paulo Porto) |
Fortalecer o protagonismo na luta pelos direitos dos povos indígenas e mostrar a solidariedade com os irmãos Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul semearam as discussões do V Encontro de Rezadores e Lideranças Indígenas do Oeste do Paraná, realizado nos dias 10 e 11 de dezembro na aldeia Yv’a Renda Poty, em Santa Helena (PR).
Líderes políticos e religiosos das comunidades de Itamarã, Tekoha Añetete, Ocoy, Pinhal, Lebre, Y’ Hovy e da própria Yv’a Renda Poty estiveram nos debates. O encontro ainda contou com autoridades não-índias da Assessoria de Assuntos Agrários do Governo do Paraná, além de alunos da Unila (Universidade da Integração Latino-Americana).
Desde o primeiro encontro, em junho do ano passado, os povos indígenas do Oeste do Paraná já obtiveram avanços. A atual situação da área onde foi organizado o evento é prova disso. Na oportunidade do I Encontro de Lideranças, as 17 famílias da comunidade de Yv’a Renda Poty viviam sob ameaça de intervenção da área. Hoje a aldeia é reconhecida pelo Estado do Paraná como uma terra guarani, um tradicional "tekoha".
Para os Guarani, os tekoha – mais do que serem simples espaços de subsistência – são locais sagrados onde se produz toda a cultura e o modo de ser de seu povo, onde é repassado o significado das lutas destes povos tradicionais. Neste espírito transcorreu o encontro em Santa Helena com a avaliação dos líderes indígenas dos trabalhos feitos ao longo de um ano e meio, desde a criação da Comissão de Terras, criada a partir do primeiro encontro.
Essa comissão vem discutindo junto às autoridades não-indígenas questões de políticas públicas e da demarcação de terras na região. Por meio de um grupo de trabalho, os indígenas vêm organizando um mapeamento dos locais. O processo de reconhecimento passa pela identificação da terra – se realmente se trata de uma terra indígena, a delimitação do espaço e, num terceiro momento, a área é demarcada. Ao final, a terra é homologada e é criada juridicamente a área.
O professor guarani Teodoro Alves Tupã, coordenador da comissão, fez uma avaliação positiva do trabalho. "Hoje a Comissão de Terras Guarani é reconhecida como um instrumento de luta política por todas entidades e associações indígenas, tanto Guarani como Kaingang no Paraná, e também pelas autoridades não-índias, como a FUNAI [Fundação Nacional do Índio], o Ministério Público e a Itaipu. Este reconhecimento – que foi construído por nossas lutas e mobilização – vem nos permitindo avançar na luta por nossos direitos".
Protagonismo
Apesar das conquistas, o consenso entre as lideranças é que é necessário avançar no protagonismo, pois apesar de reconhecerem o apoio à causa por parte de setores da sociedade como ONGs, universidades, movimentos sociais e entidades de classe, todos têm clareza que apenas o próprio indígena é "dono de seus direitos e devem ocupar mais espaço junto às políticas públicas e a própria Funai".
Deste debate nasceu um documento a ser apresentado as autoridades competentes apontado a necessidade do reconhecimento das terras tradicionais e a aceleração dos laudos antropológicos das áreas já ocupadas.
Solidariedade
Reforçando que fronteiras são linhas imaginárias criadas pelos não-índios, os indígenas do Oeste do Paraná também discutiram a questão das ameaças e violências contra os Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul. Sensibilizados pelo sofrimento que passa o povo irmão, os líderes regionais decidiram entrar em contato com a Aty Guasu (uma grande assembleia que reúne lideranças Guarani) e organizar uma comitiva para visitar a região de Amambái (MS) no final de janeiro.
Para os líderes guarani do Oeste do Paraná, o momento é de prestar solidariedade aos 'parentes Kaiowá'. "Os atentados contra as lideranças Guarani-Kaiowá são atentados contra todo o povo Guarani e deve ser respondido por todo o povo Guarani. A luta é a mesma e o povo é o mesmo", afirmou o rezador guarani Vicente Abogado.
Fotos: Paulo Porto |
Evento importante e necessário.
ResponderExcluirBela matéria.